quinta-feira, março 31, 2005

A inevitável lei de Murphy

É com um orgulho desmedido que apresentamos a nossa primeira reportagem de fundo em relação a um assunto. Não é um assunto muito importante, mas representa, contudo, um marco na cultura dita, e mui apregoada, de inútil. Isto tudo a propósito da minha actual convicção de que deveria ter escolhido o curso de Jornalismo em vez do de História. A descoberta é por demais desagradável uma vez que estou a um ano e picos (3 semestres) de acabar o curso e só agora percebi que não tenho um fascínio por ali além sobre o passado do Homem. A revelação deu-se quando um professor me perguntou o que eu pensava sobre a casualidade ou não do Descobrimento do Brasil. Enquanto respondia com a devida eloquência a tão pertinente questão, veio-me à cabeça se, na verdade, eu queria saber se o Descobrimento de tão querida terra era fruto duma casualidade ou de um profundo cálculo. Ora, tal sagacidade, fez-me pensar na lei de Murphy e na sua aplicabilidade. No caso em questão, um gajo só descobrir a sua veia profissional depois de ter escolhido todos os outros cursos. Aliás, este deve ser mesmo um princípio muito em voga no tão promissor e acolhedor sistema de ensino português. A minha querida e adorada chefe que eu muito estimo, por exemplo, está na mesma situação. Escolheu contabilidade e passa a vida a escrever.
Um caso mais recente, passado com o nosso cronista das ocasiões, Paulo Rinhonha, ditou que ele não fosse despedido na mais recente restruturação da empresa em que trabalha, depois de estar um ano inteiro a queixar-se do trabalho que tem e da sua enorme vontade em ser despedido. Resultado: Metade da empresa foi para a rua e agora em vez das 10 horas que trabalhava, passou a trabalhar 13.
Para provar ou não a minha veia jornalística, pus mãos à obra e comecei aquilo que considero a reportagem que vai, espero, alterar por completo a minha credibilidade e também a orgânica deste blog. Quer queiram quer não, vão apanhar, a partir de agora com as minhas reportagens. Um pouco à semelhança dos advogados que escrevem em latim para se armar, não se importando minimamente se o que escrevem nessa língua morta faz sentido e, pior, se quem lê, percebe ou não o que escrevem. Se não gostarem podem sempre ir ver o Blog do Pacheco Pereira.
Para aqueles que não sabem ou não tomaram conhecimento, a dita lei de Murphy postula que, se alguma coisa tiver a ínfima hipótese de dar errado, então prepare-se que é isso mesmo que vai acontecer.
Existe uma grande controvérsia sobre a origem da Lei de Murphy. Há uma versão que diz que Edward A. Murphy, Jr. foi um dos engenheiros envolvidos nas experiências de veículos com foguetes propulsores que foram realizadas pela Força Aérea dos Estados Unidos em 1949 para testar a tolerância humana à aceleração. Um dessas experiências envolvia um conjunto de 16 medidores de aceleração colocados em diferentes partes do corpo humano. Existiam duas maneiras de colocar os sensores e, um técnico, instalou-os todos da maneira errada. Foi nesse momento que Murphy inventou a sua lei. Aqui publicamos uma carta escrita por George E. Nichols, testemunha do histórico evento, dando a sua versão dos factos.

"Caro Senhor Hugo Carvalho: Ao saber que o senhor está a escrever um artigo sobre a lei de Murphy, e que tem escassas informações sobre a origem do nome da lei, aqui o esclareço. O acontecimento ocorreu em 1949, na base da Força Aérea, em Edward, Muroc, Califórnia, durante a realização do projeto MX981. Esse projecto, criado pelo coronel J. P. Stapp, pesquisava efeitos de impactos violentos em acidentes de aviação. O trabalho estava sendo realizado pela Northrop Aircraft, sob contrato do laboratório médico de aviação, em Wright Field. Eu era o administrador do projecto, por parte da Northrop.
O inspirador da lei foi o capitão engenheiro do Wright Field Aircraft Lab., Ed Murphy. Indignado com o mau funcionamento de uma correia de polia, devido a um erro primário de ajuste, ele rosnou: ‘Se houver uma maneira de fazer a coisa mal, ele faz!’ referindo-se ao técnico do laboratório. Imediatamente passei a chamar de Lei de Murphy à frase dita pelo capitão e, como veio a acontecer, o nome pegou. Para aquela frase e todos os corolários.
Algum tempo depois do baptismo, o coronel Stapp declarou, numa conferência de imprensa, que os esplêndidos resultados obtidos por nós, durante anos seguidos, em quedas, choques simulados, eram devidos fundamentalmente à crença de todos na Lei de Murphy, isto é, no nosso esforço constante para negar a sua viabilidade."
George E. Nichols – Administrador de Qualidade e Segurança – Projeto Viking. Laboratório de Propulsão a Jato – NASA.

Para se compreender bem o alcance desta lei, podemos falar nos exemplos paradigmáticos que toda a gente conhece. Temos assim o Willie Coiote da Warner que, estudiosos do fenómeno, como o Dr. José Benjamim Picado, defendem que o cerne das personagens estar no Coiote ser demasiado platônico, enquanto o Papa-Léguas é aristotélico. Sendo assim, a ave acredita no que vê e o Coiote duvida da realidade. Mas nós cremos que isso não passa de mais uma prova da inevitabilidade da Lei de Murphy.
Por outro lado temos o Homer Simpson. Este é uma personificação clara da figura do falhado. Qualquer função, projecto ou plano que desenvolva, dará, inevitavelmente, para o torto. Não importa quando, não importa como, não importa onde. A única certeza que podemos ter é que não dará certo. O seu trabalho é o local ideal para a comprovação dessa tese. Não há tarefa que possa ter êxito, se executada por este boneco.
Quanto a nós, aqui ficam algumas leis inventadas por mim ao longo da escrita e da investigação levadas a cabo para a obtenção desta memorável reportagem e que servem para os leitores perceberem do que estamos a falar. Não somos como ex treinadores ou bonecos publicitários que falam sobre as coisas e que não esclarecem nada. Utilizo para o efeito gente conhecida.

· Sempre que você estiver à rasca para receber o seu ordenado, é precisamente nesse mês que a Cláudia Pereira paga, exactamente, no dia estipulado.
· Sempre que é pedida a opinião da Susana Rebelo sobre um determinado livro, é precisamente esse que ela ainda não leu.
· A Cândida escala os advogados estagiárias sempre para o dia em que eles estão de folga.
· As necessidades dos portugueses são inversamente proporcionais à velocidade de corrida de Jorge Sampaio na Meia Maratona de Lisboa.

terça-feira, março 29, 2005

Grande entrevista que esclarece tudo e mais alguma coisa

No café da manhã, a torrada escorrega do prato e cai no chão com o lado da manteiga virado para baixo. Quando se tenta escolher rapidamente umas meias no guarda-roupa, o par raramente combina. Na hora de fechar a porta, a chave correcta é uma das últimas do porta-chaves. Azar ou simples coincidência? Nem uma coisa nem outra, segundo o físico inglês Robert A.J. Matthews, 37 anos. Ele é um especialista nestes pequenos aborrecimentos diários que se tornaram conhecidos como produtos da tão afamada lei de Murphy, aquela segundo a qual, se alguma coisa tem raras hipóteses de dar para o torto, essa coisa, com toda a certeza, corre mal. Matthews transformou-se num cientista popular ao provar que a queda da torrada com a manteiga virada para o chão ou os pares de meia que não combinam são resultado de princípios elementares da matemática e da física. Formado pela Universidade de Oxford, já teve artigos publicados nas principais revistas científicas. Uma delas, Scientific American, estampou-o na capa em Abril de 2003.
Venceu nesse ano a 13ª edição do IgNobel que, além do estudo de Matthews sobre a Lei de Murphy, premiou pesquisas relacionadas à capacidade cerebral dos taxistas londrinos (Medicina), as forças necessárias para arrastar ovelhas (Física) e a uma investigação sobre uma estátua de bronze na cidade japonesa de Kanazawa incapaz de atrair pombos (Química).
Casado, pai de uma menina e dois meninos, Matthews mora com a família em Cumnor, pequena cidade do interior da Inglaterra, de onde deu a seguinte entrevista ao Desordem. Ficámos rendidos ao brilhantismo deste homem. Claro que o entrevistador não tem a mesma capacidade que o Mário Augusto (célebre entrevistador da malta de Hollywood) mas, coitado, lá se safou.

Desordem: Qual a origem da lei de Murphy?
Matthews: O autor dessa expressão, o capitão da Força Aérea americana Edward Murphy, foi a primeira vítima conhecida da sua própria lei. Em 1949, ele participava em testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em pilotos de aeronaves. Para medir isso, construiu um equipamento que registava os batimentos cardíacos e a respiração dos pilotos. Certo dia, Murphy foi chamado para resolver uma avaria no equipamento e descobriu que havia um erro de instalação em todos os eléctrodos. Foi aí que ele formulou a teoria, segundo a qual, as pessoas sempre optam pela forma errada de construir determinado equipamento se houver duas maneiras diferentes do fazer. Na prática, era um bom princípio de engenharia de segurança, mas acabou por se popularizar com uma lei capaz de explicar os aborrecimentos do dia-a-dia. Como o próprio Murphy previra, havia duas formas de entender o seu princípio e as pessoas escolheram a errada.

Desordem: O senhor concorda que, quando alguma coisa tem possibilidade de dar para o torto, dá mesmo?
Matthews: Muitos dos aborrecimentos do quotidiano são bem mais frequentes do que gostaríamos. Em geral, estes aborrecimentos não são o resultado duma grande conspiração contra o bem-estar da humanidade, mas de princípios científicos simples. O problema é que, muitas vezes, os próprios cientistas não percebem isso e preferem acreditar que esses azares são produto da nossa memória selectiva, que nos faz lembrar mais facilmente dos episódios chatos do que dos felizes.

Desordem: Por que razão se interessou pela lei de Murphy?
Matthews: Comecei a estudar o assunto há uns três anos, depois de ler o relato de uma experiência de física numa revista científica. O artigo mostrava que, ao cair de uma mesa, um livro caía muito mais vezes com a capa virada para o chão do que para cima. Achei o resultado intrigante porque, do ponto de vista da lei das probabilidades, as chances de a capa cair virada para o chão deveriam ser de apenas 50%, uma vez que o livro só tem duas faces. Quando repeti o teste em casa, percebi que o resultado da queda de um livro a partir da borda de uma mesa não tem nada a ver com possibilidades matemáticas, mas com a acção da gravidade e um pouco de fricção. Dessa forma, desvendei também um dos princípios mais célebres da lei de Murphy, o da torrada que cai sempre com a face amanteigada voltada para o soalho.

Desordem: Como chegou a essa conclusão?
Matthews: Os meus testes mostraram que uma torrada, um livro ou qualquer objecto de formato semelhante têm uma tendência natural de cair de cabeça para baixo porque o torque gravitacional não é suficiente para que eles girem completamente sobre si mesmos antes de chegar ao chão. Isso quer dizer que, ao cair de uma mesa, a torrada nunca terá tempo de dar uma volta completa e atingir o chão com a manteiga para cima. A distância entre a borda da mesa e o solo só permite que ela dê meia-volta. Isso não tem nada a ver com azar, com o fato de um lado da torrada estar coberto de manteiga ou com a acção de algum gnomo invisível. É pura ciência básica. Se a distância entre o topo da mesa e o chão fosse maior, o resultado seria diferente e é provável que o lado da manteiga estivesse salvo.

Desordem: Nesse caso, a lei de Murphy só funciona em virtude da altura das mesas?
Matthews: Exactamente. Mas isso leva a novas perguntas: Qual a razão das mesas não terem uma altura maior? Porque isso não seria conveniente nem confortável à anatomia humana. E por que os seres humanos não são maiores de modo a permitir que as mesas sejam mais altas? Porque qualquer ser bípede e de forma cilíndrica como os seres humanos, não pode ter mais de 3 metros de altura. Pelas leis da física, acima desse porte ele correria risco de vida. Um homem ou uma mulher com 3 ou 4 metros de altura quebraria facilmente a cabeça numa queda. Para que uma torrada caísse com a face amanteigada para cima, seria necessário que a mesa tivesse acima de 2 metros de altura. Isso nunca será possível porque a adaptação dos seres humanos às leis da física impede que tenham estatura muito maior que a actual.

Desordem: O senhor quer dizer que as pessoas estão condenadas a ver sempre as torradas a cair com a manteiga para baixo?
Matthews: Uma solução seria passar a manteiga na face de baixo da torrada, mas isso iria complicar muito a vida das pessoas. Pode parecer estranho, mas se uma torrada estiver a cair da mesa, o melhor a fazer é dar-lhe uma pancada na horizontal. Isso vai aumentar a sua velocidade e impedi-la de virar. Não salva a torrada, mas evita ter de limpar a manteiga no chão.

Desordem: Em 1993, a rede de televisão BBC reuniu 300 pessoas para lançar torradas para cima e observar como caíam no chão. Só em metade das tentativas as torradas caíram com a manteiga para baixo. O que aconteceu de errado?
Matthews: Eles não fizeram o teste como deve ser. A situação proposta pela BBC era ridícula. Ninguém fica lançando torradas para o alto durante o café da manhã. As minhas experiências levaram em conta o que ocorre no quotidiano, quando a torrada escapa pela borda da mesa e vai direitinha para o chão sem a interferência de nenhuma outra força que não a da gravidade e a da fricção.

Desordem: Quando uma pessoa vai ao banco ou ao supermercado, geralmente sai com a sensação de que a fila escolhida era a mais lenta. Existe alguma explicação científica para isso?
Matthews: Pela lei das probabilidades, é sempre mais provável que você opte por uma fila mais lenta. Num supermercado com cinco caixas, as possibilidades de escolher a fila que, naquele momento específico, vai andar mais rápido que as demais é de somente 20%. Nesse caso, você tem 80% de chances contra si. É uma probabilidade bastante elevada. Significa que, em cinco chances, você tem quatro de entrar numa das filas mais lentas. Não se trata de azar, mas duma simples conta matemática. Se alguém observar o ritmo das cinco filas durante o dia inteiro, perceberá que, em média, todas andam na mesma velocidade. A sensação é diferente quando se entra numa delas num determinado momento do dia.

Desordem: E por que motivo quando se tenta abrir a porta de casa com um molho de chaves na mão, a chave que é necessária é sempre a última?
Matthews: As chances de que a chave correcta seja a primeira ou a última são exactamente iguais. As possibilidades de acerto, porém, diminuem de forma proporcional à quantidade de chaves no molho. Quem chega em casa depois de um dia de trabalho geralmente está cansado, quer abrir logo a porta e tem a esperança de acertar na primeira tentativa. Num porta-chaves com duas chaves, as chances de acertar são de 50%. Num molho maior, com dez chaves, a possibilidade diminui para apenas 10%. Ou seja, nesse caso há nove chances de erro contra apenas uma possibilidade de acerto. As chances aumentam bastante depois de feitas as cinco primeiras tentativas, quando resta menos da metade das chaves a ser experimentadas na fechadura. O problema é que, ao chegar a esse ponto, as pessoas já estão convencidas de que há uma conspiração do chaveiro, do universo e da matemática contra elas.

Desordem: Acredita em coincidência, sorte ou azar?
Matthews: Não, o que há são probabilidades matemáticas de que alguma coisa aconteça ou não. Veja o caso dos aniversários. Muitas pessoas espantam-se quando descobrem que outras nasceram no mesmo dia que elas, considerando que um ano tem 365 dias. Matematicamente, no entanto, isso é muito provável. Se você juntar um grupo de 23 pessoas escolhidas ao acaso, as chances de que duas façam aniversário no mesmo dia é de 50%. Para provar isso, estudei as datas de nascimento de 22 jogadores mais o árbitro de dez jogos de futebol na Inglaterra. Na teoria, eu deveria encontrar cinco aniversários coincidentes em cada partida. Acabei por achar seis, o que está dentro da margem de erro. Portanto, se você anda à procura de coincidências, certamente vai achá-las porque, nesse caso, a matemática está do seu lado.

Desordem: Outra regra da lei de Murphy diz que, numa gaveta de guarda-roupa, a chance de uma meia com par desaparecer é maior do que a de outra, solitária. Porquê?
Matthews: Imagine que você tenha uma gaveta com dez pares de meias. Por alguma razão, uma única dessas meias se perde. A questão é saber qual será a próxima meia a desaparecer. Usando um ramo da teoria das probabilidades chamado combinações, é fácil entender que se uma segunda meia se perder, é mais provável que será uma entre os nove pares completos do que aquela que está sozinha. Quando a terceira meia desaparecer, continua sendo extremamente mais provável que a próxima seja a de um par já formado. Se esse desaparecimento de meias continuar, na meio da história você vai ficar com somente dois pares completos e com outras seis meias avulsas.

Desordem: Quer dizer que é muito improvável que uma pessoa consiga manter uma gaveta com pares de meias completos?
Matthews: Sim, e isso tem sustentação científica. Numa gaveta com dez pares de meias, é quatro vezes mais provável que você algum dia acabe sem um único par completo do que com todos eles completos. Não há como fugir dessa fatalidade, a menos que você compre apenas dois tipos de meias, metade preta e metade azul, por exemplo.

Desordem: Por que quando alguém sai à rua com guarda-chuva geralmente não chove?
Matthews: (risos) Porque a chuva é um fenómeno mais raro do que se imagina. Mesmo aqui na Inglaterra, onde chove muito e o serviço meteorológico é considerado eficiente, matematicamente a possibilidade de chover em determinado horário é sempre menor que a de haver sol ou apenas céu nublado. No meu estudo, trabalhei com a possibilidade de chuva na hora do almoço. As pesquisas mostram que, nesse horário, chove apenas uma vez em cada dez dias chuvosos. Então, mesmo que o serviço meteorológico preveja chuva para amanhã, a possibilidade de que chova no exacto momento em que você sair à rua é, realmente, muito pequena.

Desordem: Além de criar curiosidades, que utilidade prática pode ter o estudo da lei de Murphy?
Matthews: É uma forma de tornar mais populares e didácticos os conceitos da física e da matemática. Quando você toma como exemplos situações rotineiras, como a queda da torrada e os pares de meias que não combinam, fica mais fácil explicar coisas que, do contrário, soariam demasiado abstractas. O estudo da lei das probabilidades tem aplicações práticas muito sérias e úteis. Serve, por exemplo, para tentar prever a proximidade de um terremoto. Grandes terremotos são fenómenos muito raros. A única certeza que se tem hoje é que, em algum momento, haverá um terremoto de grandes proporções em San Francisco, em Tóquio e na sua cidade, Lisboa. Isso pode acontecer no mês que vem ou nos próximos cinquenta anos. O estudo das probabilidades pode salvar milhares de vidas nessas cidades. Infelizmente, por enquanto, seria tão caro e improvável montar um serviço de previsões eficiente, que a melhor solução é investir o dinheiro em tecnologia de construção de edifícios que sobrevivam à catástrofe. O que, por manifesto azar, tanto para você como para todos os leitores do seu Blog, os construtores portugueses parecem não estar muito preocupados com a situação.

Desordem: Em 2003, o senhor recebeu o Prêmio Ig Nobel (junção satírica da palavra ignóbil com Nobel), atribuído de brincadeira pelos estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts a pesquisas consideradas inúteis. O senhor também se considera uma vítima da lei de Murphy?
Matthews: (risos) Eu acho que ganhei com a brincadeira. O Prêmio Ig Nobel foi anunciado poucos dias antes e ganhou tanto destaque na imprensa inglesa que acabou ofuscando o verdadeiro Prêmio Nobel (risos alarves). Talvez porque seja mais fácil entender as torradas que caem da mesa do café da manhã do que a teoria de superfluidos do gás hélio, a pesquisa premiada com o Nobel de física nesse ano.

Desordem: Na sua vida pessoal, as coisas costumam correr bem ou dão para o torto?
Matthews: Algumas correm bem e outras tantas nem por isso, como na vida de qualquer pessoa. Ninguém pode levar a lei de Murphy à letra e achar que ela é culpada por tudo que de ruim acontece. Se o seu carro se ficar quando você estiver atrasado para um encontro, é muito provável que a culpa seja sua porque deixou de levá-lo ao mecânico, e não do capitão Murphy. Afinal, na maioria das vezes o carro não quebra o tempo todo. Os meus estudos sobre a lei de Murphy fazem sucesso porque mostram às pessoas que a ciência pode ser algo divertido e próximo do nosso dia-a-dia.

segunda-feira, março 28, 2005

Show me the way, take me to love

Isto dum gajo agora, sem mais nem menos, decidir fazer crítica de cinema, tem as suas vantagens. Ainda ontem, quando assistia ao filme da semana, ouvi alguns cochichos das espectadoras mais esclarecidas que comentavam algo excitadas enquanto mordiam o lábio superior: “Aquele ali não é o crítico de cinema do Desordem? Bem! É bem mais giro ao vivo do que em fotografia.”
No entanto nem tudo é um mar de rosas, sem se esperar, pode ser-se confrontado com a opinião dos leitores que decidem, num acto de rebeldia, tirar satisfações pessoalmente: “Ouve lá, ó seu idiota, então achas que aquela porcaria do “Peixe fora de água” (filme criticado na última semana) é bom? Gastei eu 20 euros naquela merda para levar a família mais a minha sogra ao cinema e sou obrigado a comer com aquilo. Fosga-se! Se não tivesse aqui tanta gente, dava-te uma bofetada valente nas trombas que para a próxima, antes de cagares postas de pescada, pensares na merda que escreves. Palhaço!!!”
Seja qual for a motivação que os leva ao cinema, a verdade é que tento ser o mais imparcial possível a fazer o alarido do que melhor se faz por aí no que concerne à 7ª arte.
Esta semana trago um dos filmes mais positivos, dançáveis e coloridos dos últimos tempos. Chama-se “A noiva indecisa”, “Bride and Prejudice” no original e é um rodopio profundo e valente na imortal história de Jane Austen “Pride and Prejudice” ou se preferirem “Orgulho e preconceito”. Para mais informações sobre o livro, perguntem à Susana Rebelo que ela explica.
O argumento, à boa maneira de Bollywood ( sim, o filme é indiano) é o mais simples possível. Uma mãe de família tenta desesperadamente arranjar noivo para as suas 4 filhas, todas elas boas como o milho. Este é realmente um aspecto muito importante do filme, porque gajas são mesmo giras. Candidatos ao desposo não faltam evidentemente, mas a mãe, ciosa do talento hormonal das filhas, tenta arranjar um bom negócio que possibilite às petizes sair da Índia para que possam, enfim, desbravar a vida com um homem rico e talentoso. Bem, quer dizer, na verdade basta ser rico, o talento é secundário. O problema parece residir na sua segunda filha, Lalita (Aishwarya Rai), que prefere as leis do amor às leis do dinheiro. Passa o filme indecisa, especialmente na sua relação de amor/ódio com um americano de nome Darcy, que além de ser giro como o catano, tem mais dinheiro que dois prémios do Euromilhões em tempo de Jackpot juntos.
A azafama desencadeada pela ideia fixa da mãe em escolher os noivos para as raparigas provoca uma sucessão de encontros e desencontros que só vão ser resolvidos no último segundo do filme. Até que isso aconteça, dança-se, canta-se, chora-se (muito pouco), ri-se e viaja-se mundo afora.
A noiva indecisa tem todos os clichés dos filmes indianos, mas são clichés saudáveis porque, ao contrário da maior parte da porcaria que vem dos Estados Unidos, não há qualquer pretensão da realizadora em fazer do seu filme algo mais do que na verdade é. Nesse sentido é um filme bastante ciente das suas potencialidades. Tenta apenas divertir e elevar a disposição do espectador. Para isso utiliza as maravilhosas coreografias que o cinema indiano é pródigo, uma paleta diversificada de cores que parece nunca mais acabar, além duma história de amor que tem tanto de ingénua como enternecedora.
Por isso, se o seu objectivo é apenas arranjar duas horas em que deixe de pensar na pérfida realidade em que a vida se tornou, e se ainda acredita no amor e naquilo que ele pode desencadear nas pessoas, tenha então juízo, deixe de lado as desastrosas comédias românticas americanas (Hitch é um bom exemplo) e divirta-se à grande e à indiana com este maravilhoso filme realizado por Gurinder Chadha e depois, se tiver alguém bonito ao seu lado, deixe-se contagiar e, por favor, dance. Celebre o amor, por amor de Deus. Certamente não se vai arrepender.
Ah é verdade, apesar de indiano, o filme é falado em inglês.

terça-feira, março 22, 2005

Fábio provoca melhoria na economia mundial

Aparentemente e, fazendo fé, nas análises mais recentes de economistas conceituados, a economia global está a dar os primeiros sinais de prosperidade. Há muito que se previa isso, mas o preço do petróleo e a guerra aos maricas muçulmanos (sim, eu sei, posso depois destas palavras, morrer a qualquer instante com uma bomba na cabeça, mas o que é que querem, os tipos estão sempre de rabo para cima e a esconder as mulheres) acabava sempre por influenciar a tão esperada bonança. Bush já tinha avisado para isso: “Um dia a economia mundial vai acordar. Agora não, que é Inverno e está a hibernar...mas...quando acordar...acorda...e vai à procura de alimento fresquinho...”
Mas uma nova variável, que ninguém estava á espera, veio dar novo alento á economia mundial.
Fábio foi o responsável, a semana passada, por introduzir um pecaminoso vírus que entrou nos sistemas informáticos de todo o mundo e deu cabo de tudo, inclusivamente dos arquivos do Icílio. O processo foi simples. Fábio recebe um ficheiro de imagem, via MSN, com o título Boazona22.JPG e decide aceitar. Vai daí, toda a gente ociosa que tivesse conectada ao MSN sofria danos irreversíveis no computador. Para se ter uma ideia do prejuízo, podemos fazer um paralelo com os 4 meses de governação de Santana Lopes. Pronto tá bem, de Santana Lopes e de Paulo Portas.
Os peritos mundiais de informática juntaram-se e chegaram a uma solução, que aliás foi a solução mais fiável que até agora foi inventada para a aniquilação de vírus. A cabal desinstalação do MSN. P. Godinho, um dos informáticos que tiveram de plantão a noite inteira, disse aos microfones do Desordem: “Foi dos vírus mais perigosos que vi até hoje. No espaço de 5 segundos, 35 milhões de utilizadores do MSN espalhados pelo mundo, foram imediatamente atingidos e ficaram sem tudo o que tinham. É uma calamidade. A única solução foi mesmo acabar com o MSN.”
Contrariamente ao esperado, a consequência mais notória desta infestação foi o súbito aumento da produtividade mundial, conseguindo apenas nos primeiros 6 dias, um aumento da produção mundial em 6%.
As bolsas reagiram bem, e o mercado de capitais de Lisboa, cidade onde tudo começou, foi, como era esperado, primeiro a dar sinais de dinamismo, ao ponto das acções do FCP terem subido em flecha, mesmo com as derrotas consecutivas do clube.
P. Godinho, apesar de não ser a sua área lá esclareceu: “É que assim as pessoas ficam com tempo para trabalhar e já se sabe, vão fazendo as coisas. Claro que os funcionários públicos continuam na mesma, substituem o tempo do MSN pelo tempo nos sites pornográficos, mas para a população em geral este vírus veio a abanar muita coisa.”
Quem não ficou muito feliz foram as brasileiras a residir no Brasil que já se juntaram para fazerem uma petição ao Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, com o crucial intuito que este ordene, rapidamente, a instalação o MSN nos computadores dos portugueses. Sabe-se que o MSN é o principal responsável pelo casamento entre brasileiras e portugueses e teme-se que a partir de agora seja mais difícil o intercâmbio matrimonial. Mas a julgar o tempo que demorou a correr com o antigo primeiro ministro, bem que as moçoilas podem esperar.
Fábio encontra-se em paradeiro desconhecido e presume-se que tenha mesmo ido para uma facção da Al Qaeda. A atitude de Fábio é compreensível, uma vez que o mundo ocidental jamais lhe vai perdoar a falta e a ousadia de conhecer o teor do ficheiro Boazona22.JPG. Deixou apenas uma mensagem em vídeo de má qualidade, onde realça a sua inocência: “Com um título daqueles, esperavam o quê, que eu não fosse ver o que era?”
Foi levantada a hipótese de ter sido Icílio Ferreira o responsável moral pelo atentado. Icílio enviou para todos os meios de comunicação a sua versão dos factos: “Eu não tenho nada a ver com isso. De facto, o nome do ficheiro não me é desconhecido, mas nunca tive nada a ver com ele. Aliás, o meu trabalho é público e conhecido e neste momento a minha cabeça está focada na minha família, no Odivelas e no meu filho que aí vem...”


boazona22.jpg

segunda-feira, março 21, 2005

Instituto de Apoio aos desgraçados pode encerrar para a semana

A notícia caiu que nem uma pedra na frágil cabeça da justiça portuguesa. Aparentemente, e se tudo correr como o previsto, Portugal será o único país do mundo civilizado, desculpem, semi-civilizado, a terminar com o tradicional e dispendioso apoio aos mais desgraçados.
Esta previsão veio já a dar alguma celeuma nas altas instâncias governamentais, até porque, o Primeiro Ministro, José Sócrates, ainda não chegou da meia maratona de Lisboa e, por enquanto, nenhuma decisão pode ser tomada sem a devida discussão de ideias no seio do executivo rosa.
O problema reside no facto dos funcionários do mais que mítico instituto, fartos de verem a sua vida a andar para trás, se disponibilizarem para jogar, sem qualquer tipo de medo, no EuroMilhões que, esta semana, por sinal, tem um prémio de 44 milhões de Euros. Só de escrever este número os meus dedinhos de jornalista falhado tremem-me como os lisboetas tremeram quando souberam que Santana iria voltar.
O grande impulsionador da ideia foi o funcionário mais antigo do instituto, A. Andrade que, desde que lhe disseram que o bigode que usa é dos mais sexys da Europa, ganhou um novo alento para os anos que ainda tem que trabalhar até lhe chegar a maldita reforma. “Isto tem de ser desta. Pirava-me daqui e mais ninguém me punha a vista em cima. Certinho como eu ser o filho da D. Odete.”
Já para o caso de Matiazz, a felicidade suprema fazia-o regressar às origens: “Olhe, ia para a Malhada e passava os dias em Espanha. Ai passava, passava.”
Quem se passava mesmo era a Martinha Lambreta que, uma vez que não jogou, faz questão de avisar que não ia assegurar os serviços mínimos do Instituto: “Era o que faltava, se fosse tudo embora eu ia também, se calhar ficava aqui sozinha... Não queriam mais nada. Mau, mau, mau, mau, mau, mau!”
Rita Jacob, que vai dar o nó cego recentemente, pretende, em caso de milagre, cantar até que a voz lhe doa num cruzeiro mundo afora. “Mais nada!!!!”
Cândida Barata, bem menos realista, já ficava contente de trocar a cassete cada vez que vai atender, ao balcão, os papa escalas: “Fazia centenas de nomeações para o mesmo estagiário para ver se depois vinha para aqui pedir mais...”
Silvia mudava-se de malas e bagagens para o Porto, onde viviria dias paradisíacos só comparados aos momentos passados pela Brooke Shields na Lagoa Azul. Marina, viajante dos 4 cantos do mundo conhecido, fazia questão de não lhe pormos mais a vista em cima, António Rodrigues iria tentar a sua sorte em Hollywood, como dançarino de Break Dance e, as queridas e adoradas chefes, iriam dar a devida atenção aos maridos que, honra lhes seja feita, têm sido incansáveis na lida doméstica enquanto as esposas discutem o destino da justiça portuguesa com os mais ilustres advogados. A Ana Margarida, como está de férias, ficava sem o seu quinhão e quando chegasse viria o instituto às moscas. Vanda pirava-se para o Hawai em boa companhia e abria um restaurante de comida italiana.
No entanto, para o ministro da Justiça, Alberto Costa, o caso exige uma rápida decisão: “Isto vai ser terrível. Ainda agora entrei em funções e dou-me de caras com isto. Credo, sempre disse que este jogo de sorte iria ser a desgraça do país. O que nos valeu foi o Sr. Fábio que sempre impulsionou a produção, porque se não fosse isso, ainda éramos bem capazes de cá estar menos tempo que o outro (Santana Lopes)”.
O que parece estar a estragar a fezada é a secção de Deontologia, que se juntou, para em segredo, elaborar rezas malignas que farão, se Lucifer quiser, as bolas da sorte darem estranhas e extraordinárias piruetas, bem ao estilo de Mariana Carvalheira, e estragar o jogo aqui à malta. Para Andrade podem fazer o que quiserem, mas não deixou de fazer algumas críticas a Jorge Matiazz: “...a sorte grande vai ser nossa. O problema mais difícil de resolver é o pessoal que deixa até ao último dia para pagar a sua parte e depois parte para o norte sem dizer nada a ninguém.”
Uma das maiores desgraçadas de que há memória, Maria de Lurdes, já avisou que se chegar um dia ao instituto e, por infelicidade, não vir ninguém, vai haver merda da grossa: “São uma cambada de agentes da PIDE. É uma máfia que para aí anda, fazem o que querem e deixam-nos à espera meses e meses sem uma resposta. E você não se esteja a rir que mando-lhe com um cinzeiro na cara que até anda de lado. Não tenho medo nenhum. Já agora assine-me aí este papel.”
Pelo sim e pelo não ficam desde já notificados para o caso de não nos virem na Segunda feira (sim, porque nós, bem ao estilo do mais distinto funcionalismo público, também sabemos ficar em casa uma fartura de dias) é porque a sorte nos calhou. Eu por mim já disse, por uma questão de justiça, doava tudo aos desgraçados. E eles que fizessem com o dinheiro o que lhes conviesse. Eu, certamente, gastava-o mal gasto.

domingo, março 20, 2005

Pantufa

É com especial alegria que recebemos esta carta, enviada pela nossa afeiçoada leitora Vanda Varatojo, inspectora conceituada no desvendar de mistérios, que nos apresenta o seu fiel amigo e parceiro de aventuras. Chama-se Pantufa, como se poderia chamar Sapato, Bota ou Pijama e é conhecido como um cão pouco dado aos afazeres diários e de esbanjar o dia a ver telenovelas na TVI, além do dinheiro da dona que, de si, já não é muito, porque isto de andar atrás dos amigos do alheio já foi chão que deu uvas. Conhecedor profundo dos defeitos da sua protectora, Pantufa tem o sonho de vir a ser o inspector Max. Tivesse ele uma dona influente na esfera do audiovisual e a esta hora estava, pomposo, a ladrar ao lado do fabuloso actor Fernando Luís que tem o especial dom de representar sempre da mesma maneira, seja polícia, médico, ladrão, prostituto, drogado ou jornalista.
Assim sendo, e há falta de melhor, aparece destacado aqui no Desordem o canídeo, que apesar de não ter um share tão elevado como um canal de TV, tem a dignidade de ser um blog visitado com assiduidade por todos aqueles que não têm rigorosamente mais nada para fazer.
Enfim, se tiver alguma coisa para partilhar que não seja a boazona22 do Fábio, faça favor de enviar o que achar conveniente para o mail do costume, a saber: hugomcarvalho@sapo.pt

Hugo,
Apresento-te a minha Pantufa. É o meu braço direito. Não há nada que lhe escape: cães, gatos, passarinhos, pessoas estranhas e conhecidas, tudo isso ela cheira e investiga com o seu faro apuradíssimo.

Hobbies (por esta mesma ordem):
comer
acordar a dona às 7 da matina (qualquer que seja o dia da semana)
comer
estar no sofá a ver televisão
comer
receber massagens na barriga
comer
dormir
comer

Paixões:
a dona

Ódios:
tomar banho
ir ao veterinário

sábado, março 19, 2005

A vida aquática

Aproveitando a ideia da nossa querida leitora Ana Perdigal, na carta que nos enviou com carinho, e atendendo ao momento cinematográfico bastante favorável que o país atravessa, recomendo vivamente para esta semana, o fabuloso último filme de Wes Anderson, Peixe Fora de Água, Life Aquatic with Steve Zissou no original.
O filme conta-nos a particular história do grande explorador Steve Zissou que se faz aos mares para a concretização das mais apaixonantes e mirabolantes aventuras subaquáticas. Zissou é uma espécie de criança, uma espécie de Jacques Costeu, que se recusa a crescer e arrasta com ele os seus companheiros de façanhas que também não primam lá muito pela maturidade.
A existência de Zissou entrou em decadência. Os seus documentários perderam o vigor de outrora e vê-se, sem o esperar, a mãos com problemas de financiamento para as suas expedições, além do descrédito que alcançou, merecidamente, entre os seus pares. De forma que, para restabelecer a sua dignidade, aposta tudo numa última missão, a sensacional busca por uma espécie desconhecida à ciência: O assustador Tubarão-Jaguar. No entanto não sabe lá muito bem como chegar até ele.
O que ressalta neste filme é a comovente interpretação dos seus actores, que conseguem criar um enternecedor ambiente de inocência infantil. Os cenários ajudam, o navio do grande Zissou é como uma casa de bonecas que as personagens usam sob a musicalidade do Seu Jorge, que passa o filme todo a cantar músicas de David Bowie em Brasileiro. As coloridas e surreais espécies aquáticas são produzidas por Henry Selick, responsável também, como Tim Burton, pelo filme Estranho Mundo de Jack. Tudo mecânico, portanto, e nada de devaneios informáticos.
As boas ideias não se esgotam aí. Durante as duas horas de projecção pode-se ver de tudo, desde uma baleia de estimação que se esforça por receber atenção do seu dono a golfinhos que funcionam como batedores para a progressão do barco Belafonte até um rafeiro, que por lá aparece e que de desloca em três patas, mas comporta-se, sabe-se lá porquê, como se tivesse as quatro. A imaginação saída de Wes Anderson parece não ter limites e assina aqui momentos magistrais de realização, particularmente na emboscada feita pela equipa à ilha dos piratas que vai ficar, certamente, na minha memória durante anos.
A música funciona como um colorido especial, dando uma força especial às imagens e ajudando na concretização do humor particular do realizador. É antológica a dança de Bill Murray ao som do tecno esquisitoide da banda sonora.
Os bons actores são à mão cheia, pode-se ver um dos melhores actores cómicos ( se não mesmo o melhor) do momento Bill Murray acompanhado por William DaFoe, Angelica Houston, Jeff Goldblum entre outros.
Deixo só mais um apontamento que pode ser importante para alguns. Das 100 pessoas que assistiram à ante-estreia, 50 foram-se embora meia hora depois do filme ter começado e vários momentos houve, em que eu e a minha namorada éramos os únicos a rir à gargalhada o que foi até romântico. Peixe fora de água não possuí um humor fácil, mas quem tiver sensibilidade para o perceber, certamente terá uma das melhores experiências cinematográficas do ano. Só de pensar no filme, dá-me instantaneamente uma súbita vontade de o voltar a ver.
Ficam pois avisados!

sexta-feira, março 18, 2005

Carta dos queridos leitores

O Desordem esta semana subiu nas audiências duma forma espantosa e a culpa é toda da divulgação da imagem da amante de Jorge Raposo. O povo gosta destas histórias e é capaz de tudo para as ler. O jornalismo choque tem destas coisas. Se repararem podem observar um aumento de 200% nos comentários aos post que publiquei. É a loucura!
Foi com agrado que visitei a caixa de correio do Desordem e encontro uma missiva da nossa querida leitora Ana Perdigal que teve a gentileza de nos enviar a sua opinião sobre este pastim que eu tenho tanto carinho em cuidar.
Sabe bem de quando em vez recebermos estes mimos.
Se ainda não me mimou e o pretende fazer, tem à sua disposição o mail aqui do burgo: hugomcarvalho@sapo.pt

Caro Editor:
Descobri o seu blog por mero acaso numa das minhas deambulações diárias pela internet. Não sou muito de ler blogs, porque a maior parte deles são perfeitos atentados à inteligência humana, mas por curiosidade, por vezes dou uma voltinha para ver o que se faz por aí e dei de caras com o seu Desordem.
Deixe-me que lhe diga que achei imensa piada aos seus escritos e apesar de não conhecer as personagens que habitam o seu espaço, compreendi que se tratavam de colegas de trabalho. Mesmo assim fartei-me de rir com algumas histórias e passei quase duas horas a ler tudo. O meu marido vai-se inspirar na sua ideia para criar também ele algo semelhante para a empresa onde ele labuta, que é uma multinacional que emprega para aí umas 100 pessoas em Portugal. Espero que não se importe.
Talvez não acredite, mas eu também sou praticante de Phooning e adoro fazer a pose. Mando-lhe uma fotografia que o meu marido tirou numa obra em que foi responsável e que vale pela originalidade. Espero que goste.
No entanto deixe-me dar-lhe um conselho. Acho que deveria por vezes, tal como os grandes jornais nacionais, dedicar alguns comentários ao cinema e aos filmes que por aí andam.
Um abraço e continue a divertir-se.
Ana Perdigal, Ermesinde

quinta-feira, março 17, 2005

Mascotes da Expo 2005 querem poupa como o Gil

Está o caldo entornado no Japão, quando as duas mascotes responsáveis por dar colorido à próxima exposição mundial que se realizará em terras nipónicas, vieram fazer birra para a praça pública. Os responsáveis pelo certame esperam a visita de 15 milhões de visitantes e a participação de 122 países, o que me parece completamente doido atendendo ao nível de vida dos japoneses e ao preço que os gajos levam por um simples pacote de batatas fritas. Ainda por cima sem sabor a presunto. Mas eles lá sabem.
As mascotes, Morizo e Hiccoro já anunciaram a marcação duma greve para o dia de abertura se por acaso as suas reivindicações não forem atendidas pelos homens fortes da organização. Morizo, o porta voz das mascotes, por ser o mais alto, disse ao Desordem: “Eles que façam como entenderem, nós só trabalhamos se nos fizerem uma poupa como a do Gil. E atenção que tem de ser no mesmo cabeleireiro. Exigimos glamour igual às mascotes dos portugueses. São sempre impecáveis para onde querem que vão. O Tuga, o Gil, o Fintas e até a mascote das Águas de Portugal, que é uma singela gota de água, têm mais glamour do que nós. Diga-me lá quem é que vai tirar fotografias com nós dois todos despenteados?”
Os habitantes de Aichi estão preocupados. Nakiri Japonkiri adianta: “Eles que não comecem com coisas de vedetas que são despedidos não tarda nada. Uma greve! Onde já se viu tamanha coisa aqui neste país? Era o que faltava. Se começam com coisas são substituídos pelo Pikachu que é um regalo. E olhe que o Pikachu não pára de mandar cartas indignado com o facto de ser preterido àqueles dois. Se quer que lhe diga até preferia o amarelinho, pelo menos sempre tem poderes e com ele ninguém faz farinha.”
O assunto já foi levado até ao imperador Hakihito que até ao momento se mostrou pouco convencido com o pedido da bonecada, uma vez que está bastante mais preocupado com o futuro do país. Dentro da casa imperial, já há quem tenha aproveitado a situação para avançar na possibilidade do Kiccoro ser adoptado e vir a ser o próximo imperador do Japão, devido às constantes desavenças na casa real.
Seja como for, o início da exposição mundial está marcada para 25 de Março deste ano.

quarta-feira, março 16, 2005

Alunos de Direito pagos para fazer exames

Após o fecho a cadeado da Faculdade de Direito de Lisboa porque os professores, numa decisão considerada a todos os níveis infeliz, tinham marcado aos frágeis meninos exames dia sim dia não, os docentes decidiram, muito sabiamente aliás como é apanágio daquela faculdade, que seria proveitoso marcar os ditos exames de forma a que os coitados dos estudantes tenham somente uma avaliação por semana.
Para uns dos docentes que preferiu o anonimato a situação não é tão grave como à primeira vista se pode entender: “São pessoas que não podem pensar muito e portanto é melhor assim. É que não faz ideia das barbaridades que se escrevem. Assim, com exames uma vez por semana, talvez a coisa melhore.”
Mas ontem, vieram a público novas informações que alteraram todo o contexto. É que ter exames uma vez por semana não é suficiente para estas cabeças pensadoras, e nas palavras do Presidente da associação de estudantes da faculdade: “Queremos, evidentemente, que nos paguem para debitarmos a nossa sabedoria. Veja bem, estamos aqui a estudar e devemos receber alguma coisa por isso. Por isso achamos que o estado nos deve compensar por cada prova prestada. É que proporciona um incentivo adicionar para continuarmos a ser as grandes promessas do país. Até que, quando nos formarmos, vamos, com quase toda a certeza, dominar a política e as leis em Portugal, de forma que é um investimento que os contribuintes têm de assumir desde cedo. A faculdade fica então encerrada até que nos façam as vontades todas.”
Os meninos e as meninas lutaram pelos seus direitos e conseguiram o que queriam. A partir do 2º semestre, além de só fazerem um teste uma vez por semana, ainda serão pagos, na hora, para o concretizarem.
Assim vai o ensino em Portugal. Eu, como estudante universitário, fico parvo como se tem a lata de reivindicar uma coisa destas. Na minha faculdade, bem como em qualquer outra faculdade do mundo, o que se faz para contornar a situação dos exames seguidos é muito simples: Estuda-se.
Mas também, quando ex bastonários da ordem dos advogados, como José Judice, vêm a público dizer que em vez de se ir para a tropa se devia ir para a prisão, porque se aprende mais numa prisão do que na tropa, o que mais se pode esperar?

terça-feira, março 15, 2005

Freitas compara Inimigo Público com Desordem

A comparação que Freitas do Amaral fez sábado á noite, durante uma mesa-redonda com responsáveis partidários e transmitida pela RTPN, teve, durante o dia de ontem, várias reacções.
Francisco Louçã foi o primeiro a vir a público referir que Freitas do Amaral foi bastante infeliz nas suas declarações e que o comentário lhe provocou um repúdio enorme, fazendo mesmo a interrogação de como pode Freitas ser ministro dos Negócios Estrangeiros com declarações deste calibre. “É pois demais evidente que este senhor deveria ser já o primeiro a demitir-se, fazendo um favor a todos aqueles que tal como eu quer isenção jornalística. São estes tipos de comentários que provocam rupturas e enfraquecem o país. Começou mal este governo, o que já era de esperar.”
Para Alberto João Jardim, o comentário provocou-lhe gargalhadas: “Esta gente do continente entrou agora numa espiral de provocações nas quais eu não vou fazer parte. Digo apenas que esse senhor, o senhor Amaral, tem de ter cuidadinho com o que diz, porque o que está em causa é a democracia portuguesa.”
Carlos Lage, dirigente socialista, compara estas declarações às de Trapattoni depois do jogo entre o Benfica e o CSKA, onde o treinador benfiquista disse que aquele tinha sido o melhor jogo da equipa. “É uma total falta de respeito por quem trabalha nesses pastins e principalmente por quem os lê”.
Socrates, apesar da celeuma montada, deu uma imagem calma e que tudo não passou dum equivoco. “É por demais evidente que foi, efectivamente, uma comparação que se deu no calor duma conversa e que evidentemente, Freitas do Amaral se arrepende, até porque não é do género dele fazer este tipo de comentários. Já pediu inclusivamente desculpa aos editores responsáveis pelas publicações, de forma que o imbróglio está, aparentemente, sanado.”
Por parte do Desordem, aceitámos as desculpas do Ministro do Governo Socialista e vamos esperar que não se voltem a repetir, pois temos uma responsabilidade para com os leitores da qual não prescindimos. Ainda pensámos em instaurar uma queixa contra o vira casacas, era bom para a publicidade e sempre podíamos ganhar uns cobres para as férias. Mas somos gente de bem e não queremos ser nós os responsáveis pela queda socialista. Se tudo correr como habitualmente, eles encarregar-se-ão disso sozinhos.
E por falar em queda e já que estamos com a mão no teclado, não podemos deixar de passar em branco a frase magistral, e porque não doentia de Luís Delgado, grande defensor da governação laranja, que escreveu na sua coluna de segunda-feira no Diário de Notícias: “Quanto à forma que a posse assumiu na ajuda, duas notas negativas: o governo anterior não deveria ter sido colocado sentado na primeira fila, ao lado de outros convidados , pela simples razão de que protocolarmente está numa posição “humilhante”. Como era tradição, deveria ter estado de pé, frente ao novo, para que a passagem de testemunho fosse de igual para igual.”
Nós, aqui no Desordem, até estranhamos que o Sr Luís Delgado não tivesse sido convidado, mas estimamos em saber que seguiu descansado todo o processo pela televisão. Cremos que, qualquer dia, também chegará a sua vez de brincar á política.

Martinha borda imagem de Portas em Ponto Cruz

Martinha Lambreta, conceituado artista nacional com obra exposta no Louvre, concluiu hoje, há cerca de aproximadamente duas horas, o seu novo trabalho, cuja imagem de Paulo Portas se vislumbra numa articulação complexa em ponto de cruz. Diz quem viu que a artista conseguiu um contraste perfeito de luz e cor que surpreendeu mesmo os críticos do jornal Público, que não hesitaram em considerar uma maravilha da cultura contemporânea. Relembre-se que os críticos do Público são tidos como os mais difíceis de contentar.
Para Martinha: “Foi um trabalho difícil, não tanto pela imagem, mas pelo tempo que tive para o fazer. Desde que o PP enviou a foto do Freitas do Amaral para a sede do PS que eu senti a necessidade de os compensar pela perda de um dos ícones do partido. Mas atenção e que isto fique bem escrito no blog e se possível a bold, não tenho qualquer sentimento partidário neste momento. Mau, mau, mau, mau.”
A peça, mesmo sendo vista por um grupo restrito de pessoas, já foi estimada em milhões e milhões de euros e vai ser enviada para a sede do partido esperando-se que de lá já não saía. A polícia Judiciária vai-se encarregar da segurança da obra de arte, o que vai envolver uma magistral operação, estimando-se o envolvimento de 130 polícias armados até aos dentes.
Quem reagiu mal a esta situação foi o antigo líder do partido Manuel Monteiro: “Olhe, eu já espero tudo da vida, mas fico magoado por não ter tido tratamento idêntico por parte dessa grande artista lusa. Nunca ninguém me levou a sério. Até o Louçã passa por mim e finge não me ver.”
No entanto, a amiga íntima de Portas, Cinha Jardim, ficou felicíssima: “Coisa mais liiiiinda. O meu Paulinho ficou tão beeeeeem, está mais bonito na linha do que ao vivo. Meu Pauliiiiiiiiiinho.” O repórter do Desordem não pôde registar o restante depoimento porque a voz da socialite lhe entrou tímpano acima qual lamina afiada e foi um martírio para que o jornalista recuperasse a sua sanidade.
Não foi possível, também, ao Desordem falar com Paulo Portas, mas a irmã, Catarina Portas, que diz-se ser o único elemento da família a gostar verdadeiramente de mulheres, adiantou que ele está muito mal e que se fechou no forte de São Julião da Barra recusando-se, qual criança, a abrir a Porta a quem quer que seja, exceptuando o entregador de pizzas. A falta de poder tem-lhe feito mal e o entregador de pizzas disse que tem uma barba parecida com José Pacheco Pereira e que atende a porta em ceroulas.
Seja como for, a verdade é que o ex ministro da Defesa Nacional ainda não teve conhecimento do acto de Martinha Lambreta e o país espera ansiosamente que debite a sua opinião por um acto de tão profundo altruísmo.
Ficamos, pois, todos à espera.
No entanto o Desordem deseja-lhe umas rápidas melhoras e aconselha a que não saia do forte tão cedo. Parece-nos que é mais útil lá dentro fechado do que cá fora livre. Prometemos cuidar da família.

segunda-feira, março 14, 2005

Show must go on

A verdade é que esta porcaria de blog já tem oito meses de existência. Na verdade durou o dobro do que o governo de Pedro Santana Lopes, o que, para ser franco, nem sequer é muito difícil de conseguir. Apesar da incompetência e da palermice demonstradas por mim, neste tempo de vida do Desordem, se posicionarem a níveis iguais ou pelo menos muito semelhantes ao do antigo primeiro ministro, o público português gosta mais da minha pessoa do que dele. Também não admira, sei que Chopin não compunha para violino e que o Machado de Assis, apesar da sua grandeza literária, está, presumo, enterrado no seu canto.
O blog atravessa uma crise de visitas e neste momento são mais os piratas informáticos a cá aparecerem a estragar o meu trabalho de editor do que pessoas a consultar as últimas. A minha namorada, que já deixou de ler o que escrevo vai para quatro semanas, não por estar farta de mim, mas por ter coisas bem mais interessantes para fazer, nomeadamente o meu jantar, disse-me ontem que começava a ter pena do rumo que o Blog estava a levar. Nem uma singela cartita me foi escrita desde o ido mês de Dezembro. “Mas afinal escreves isso para quê?”
Lá lhe respondi que a minha vida na hora do almoço é uma pasmaceira, e que gosto da ideia de que, um dia mais tarde, isto tudo se vai perder no meio da internet e tirando provavelmente o Pedro Maia, toda a gente vai esquecer os posts. Faz-me lembrar aqueles artistas que desenham a giz nas ruas e que a passagem das pessoas e a chuva apagam os traços para nunca mais serem relembrados. É ternurento e é precisamente isso que me agrada quando faço um novo post.
Agora, bem que podiam mandar uma missiva de vez em quando. É que o mail do Desordem hugomcarvalho@sapo.pt nem publicidade recebe.
Uma vez que falei da minha incompetência enquanto editor, deixo-vos o cartoon da semana que lhe achei uma piada bestial.

sexta-feira, março 11, 2005

Raposo apanhado com amante

Aviso já, enquanto editor chefe desta bodega, que a decisão pela publicação desta notícia não foi tão pacífica como à primeira vista possa parecer. A redacção dividiu-se quanto ao teor da informação a prestar aos leitores, se seria deontologicamente correcto ou não mas, como as audiências andam más e o tempo do escrúpulo e do brio jornalístico há muito que se foi, tomei a responsabilidade de contar a história toda, sem me preocupar minimamente com a esposa, com a restante família, com a criança e principalmente com a megera da amante.
Jorge Raposo foi encontrado ontem pela sua esposa, Catarina, embrulhado com a sua amante em plena sala de estar, praticando movimentos sexualmente explícitos no sofá da casa enquanto utilizava uma brejeiro calão. Catarina ao ver a escatológica cena, ficou sem reacção e foram muitos os vizinhos que acorreram à casa do casal para a acalmar e evitar que a mesma cometesse uma loucura. “Ai que ela se mata! Não faças isso mulher que te desgraças!” foram as palavras mais ouvidas.
Raposo, surpreendido com a chegada prematura da sua mulher, ficou sem reacção e não foi capaz de inventar uma desculpa plausível para a situação em que foi encontrado.
A sra. Vicência Lopes, amiga só para algumas coisas do casal, já tinha tomado conhecimento de toda esta situação, que, aliás, tinha dado conhecimento a todas as outras vizinhas. Aparentemente, todo o prédio estava ao corrente dos crimes e escapadelas de Raposo menos, como convém nestes casos, a sua esposa que assim descobriu pela pior maneira possível: “ Se soubesse que a coitadinha ia ficar assim, tinha-lhe contado eu própria aquilo que aquele porcalhão andava a fazer com aquela galdéria.”
Beata da Silva, também vizinha, explicou com pormenores de malvadez o comportamento de Raposo ao longo das últimas semanas. “Ele chegava aqui cedo, por volta das 3 da tarde e começava a pouca vergonha. Aquilo era uma barulheira que não se podia. Depois saía e voltava mais tarde com a Catarina lá para as seis. O que me parece é que ele faltava ao trabalho para se encontrar com a delambida e depois ia buscar a mulher e a filha como se não fosse nada com ele. É um porcalhão. Mas ele nunca me inspirou confiança. Os carecas são assim, não são de fiar. E só Deus sabe a santa que a menina Catarina era para ele. Lavava-lhe a roupa, fazia-lhe a comida, abria-lhe as garrafas de cerveja, pagava-lhe a SporTv...”
O Desordem foi falar com Icílio, parceiro de gabinete, para saber mais informações sobre a vida privada de Raposo. Icílio, também ele habituado às causas jornalísticas, explicou ainda a medo, que não sabia de nada e que não consegue compreender como é que um homem casado e pai de família é capaz de fazer uma coisa daquelas. “Olhe, eu não troco a minha querida Cláudinha por nenhuma. Isso é certinho. Também eu fui tentado, mas sou um homem digno do nome que tenho e não um desprezível rato e sei até onde posso ir. O problema é que há alguns que não se conseguem controlar.”
Jorge Raposo conheceu, dizem as más línguas, a amante num restaurante de Sushi. Desde logo a paixão foi mútua e Raposo não descansou enquanto não lhe acariciou as formas dos seus manípulos. A partir daí, Raposo não conseguiu parar.
Catarina disse ao Desordem que não aguenta mais olhar para a cara daquele desgraçado e que o divórcio está nas mãos dos advogados: “Como é que eu vou dizer à minha filha que o pai dela tem outra?”
A mulher responsável por tudo isto, já foi outrora também culpada por situação semelhante em relação ao namoro entre Margarida e Francisco. Diz-se, à má fila, que este último a levava para o consultório para inspecções bocais frequentes. Mas Margarida teve a capacidade de perdoar e agora o casal já pensa em casamento para o ano que vem.
O Desordem conseguiu, a custo, uma foto da mulher por quem todos os homens anseiam e que um simples sorriso seu faz tremer qualquer pacífico meio familiar.

quarta-feira, março 09, 2005

Queria ser como o Mourinho

Foi extraordinária a joga de ontem à noite em Inglaterra entre o Chelsea e o Barcelona. Ao ver aquele jogo prometi a mim mesmo não perder mais tempo com o futebol português. A minha namorada é que me abriu os olhos: “Ainda não percebi porque perdes tempo a ver o Benfica. Sabes, acho que quem perde tempo a ver um jogo do Benfica ou é estúpido que nem uma porta ou então é rebarbado. E eu não quero andar nem com um estúpido nem com um rebarbado.” Tem razão. É a mesma coisa que ver uma mulher a ler Margarida Rebelo Pinto ou Paulo Coelho e achar aquilo a melhor coisa do mundo. O Andrade, por exemplo, já é diferente, vê os jogos do clube da luz para adormecer, o que parece ser um motivo válido.
Isto tudo a propósito duma anedota chegada à redacção do Desordem, vinda especialmente de Inglaterra que fiz a amabilidade de traduzir e publicar porque a achei engraçada, tendo em conta que odeio anedotas e que as detesto receber por mail. Já sabem, se alguma vez quiserem mandar uma anedota à minha pessoa, não o façam porque eu não a leio apagando-a logo à velocidade da luz.
Reza assim, então, a graçola:
Arsene Wenger, Alex Ferguson e José Mourinho morreram num desastre de avião quando foram convidados para uma daquelas galas chatas á brava da UEFA.
Chegados ao céu conhecem a entidade suprema que se encontrava sentada no seu trono celestial. Ao vê-los, pergunta a Wenger: “Para ti, qual foi a coisa mais importante enquanto estiveste vivo?” Wenger responde que teve preocupações ecológicas e que a preservação da Terra sempre assumiu muita importância na sua vida. Evidentemente foi uma resposta sábia com o objectivo claro de tirar dividendos do criador que, aliás, ficou muito satisfeito com a clarividência do treinador do Arsenal e mandou-o sentar ao seu lado esquerdo.
Deus, seguidamente, virou-se para o Ferguson e faz-lhe a mesma pergunta. O treinador do Manchester, já devidamente esclarecido sobre as intenções de Deus, responde: “As pessoas. O mais importante para mim foram as pessoas e as relação entre elas de forma a obter a paz.” Deus, agradado com o pensamento de Ferguson lá lhe diz para se sentar junto a ele ao seu lado direito.
Vira-se para Mourinho e diz-lhe: “Tenho reparado que tens estado muito chateado desde que aqui chegaste. Tens falado pouco e andas sempre amuado. Passa-se alguma coisa?” Mourinho olha fixamente para Deus e responde: “Claro, já reparaste que estás sentado na minha cadeira?”

terça-feira, março 08, 2005

Trocas e Baldrocas

Devido aos mais recentes acontecimentos desencadeados por Matiaz numa carruagem de metro, a equipa do Desordem esteve o fim-de-semana inteiro de plantão a trabalhar nesta história de amor e desamor que tanto tem apaixonado a opinião pública de todo o mundo.
Cansado da pouca reacção, ou mesmo nenhuma, que Vanda tem gerado ao amor incondicional de Matiaz por ela própria, o ex Presidente de Malhada Sorda decidiu, sabiamente, abandonar o barco e partir para outra, de forma a ver salvaguardada a sua honra e o seu intocável orgulho. Deste modo, aproveitando uma descida aos solos de Lisboa, Matiaz decidiu arriscar e, de joelhos, pediu a compreensão da Santa Acácia para a sua pessoa. Sob o olhar atento de vários transeuntes que apanhavam a essa hora o metropolitano que os transportava aos seus afazeres diários, Matiaz pediu alto e em bom som, que Acácia esquecesse as músicas de Tony Carreira e que escutasse a sua arte a tocar tarola. Prometeu-lhe, em delírio romântico, felicidade eterna se a Santa aceitasse abandonar a sua vida dedicada à misericórdia e com ele constituísse ninho na Malhada Sorda. A tão aclamada graça de Deus fazia, em seu devido tempo, o resto.
Acácia, já um pouco desesperançada das promessas do Vaticano, ainda se sentiu tentada a aceitar tão corajosa proposta, mas na altura do sim, foi vertiginosamente possuída por uma música do Tony Carreira que a levou a desperdiçar tamanha oportunidade. Diz quem viu, que a cena foi de levar às lágrimas tal a melancolia que devastou Matiaz. Apesar do falhanço, as palmas foram muitas para a audácia evidenciada pelo tocador de tarola. “Veja bem que até a circulação do metro parou. A linha esteve fechada durante para aí uma hora. Matiaz, evidentemente ficou deprimido, mas a sua bravura compensou em muito a tristeza da nega.” Disse-nos, em surdina e ainda comovido, o Sr. Manuel Machado encarregue da venda de passes e bilhetes pré comprados.
Uma fonte muito próxima de Acácia confidenciou à nossa reportagem que Acácia tem vivido ultimamente uma época muito conturbada na sua vida. O recente falecimento da Irmã Lúcia e o agravar do estado de saúde do Papa João Paulo II, fizeram com que o seu processo de beatificação em vida fosse atrasado. “Mesmo ela não sabe se deve ou não abandonar a sua ligação à Igreja Católica. Sabe como é, nestas coisas os mortos passam sempre à frente dos vivos. É como ir para uma caixa de supermercado destinada às grávidas, quando nos preparamos para pagar, aparece sempre uma emprenhada a estragar a esperteza.”
Vanda é que não viu com bons olhos a atitude do seu ex-pretendente. Apesar de ter Fábio no pensamento 7 horas por dia, Vanda, como qualquer outra mulher que se preze, gosta sempre de ter todas as possibilidades escancaradas, não vá o Diabo tecê-las e uma pessoa ser remetida, sem dó nem piedade, para a profunda solidão de chegar aos 40 sem marido e filhos. De modo que, aparentemente, segundo o que nos foi dito por um familiar, Vanda passa o dia a comer qualquer coisa que lhe apareça à frente sem fazer caretas primeiro. “Veja lá o senhor que até já come peixe frito. Por um lado até foi bom, mas se quer que lhe diga, o Sr. Matiaz é que era um rapazinho às direitas para ela. Trabalhador, carinhoso e de ao saúde. Agora este que lhe anda no pensamento é uma bela peça. Só quer é mulheres e boa vida. Estou farto de a avisar, mas nesta idade não dão ouvidos a ninguém. Deixe-a andar, um dia vai ver como é que as coisas são.”
Para fugir à curiosidade dos media, a Santa refugiou-se em Paris onde assistiu, com toda a atenção, ao mais recente concerto do mágico cantor Tony Carreira no Olympia. Para que as mentes porcas e pecadoras não pensem já coisas, relembramos que o Oympia de Paris não tem o mesmo ramo de actividade do Olympia de Lisboa, pelo que o espectáculo a que se assistiu na cidade das luzes primou sempre pelo decoro e castidade, apesar das letras do cantor roçarem a ténue linha que separa o bom do mau gosto.

Phooning

Passei este fim de semana a estudar essa nobre arte do phonning. Finalmente tenho razões mais do que suficientes para tirar fotografias ao lado de monumentos. Chateia-me sempre servir de modelo para as fotografias que provam, a quem quer que seja, que os donos da máquina fotográfica estiveram, realmente, em determinado sítio. Mas porque raio é que eu preciso de estar na fotografia quando o que se quer que apareça é o monumento? Apenas para provar que, efectivamente, eu lá estive e que a minha vida não é uma mentira, como aliás muita boa gente quer insinuar. Ficam, pois, desde já avisados e atendendo ao senso comum, que a foto simples não é evidência de nada. Para isso compra-se um postal.
Tinha uma namorada há uns anos que passava a vida a fotografar as coisas. Mas não era capaz de fotografar sem uma figura humana ao lado. Dizia que gostava de recordar as pessoas e os sítios por onde passou ao mesmo tempo. “Oh Hugo põe-te aí ao lado dos Jerónimos, se faz favor! Vá lá não sejas parvo! Vá lá sorri. Merda, é sempre a mesma fita.” Nunca entendi a obsessão, aliás acredito que a minha presença só servia para lhe estragar as fotos. Acabámos pouco tempo depois quando uma amiga intima dela lhe disse, depois de me ver ao lado duma anta: “Olha lá, quem é este gajo, dentolas, cabeludo, caixa de óculos, barbudo e magricela que aparece ao lado dos pedragulhos?”
A minha irmã então é inacreditável. Todas, mas mesmos todas as fotos que possui são tiradas com ela sempre, mas sempre, na mesma posição. O que muda é o cenário. Parece a cena do O fabuloso destino de Amélie em que um anão de jardim aparece em dezenas de fotografias com uma cidade atrás de si, dando a ideia de ser um anão de jardim extremamente viajado.
Mas tudo isto tudo acabou porque tive a sorte de descobrir o phooning.
O phooning é uma fotografia tirada a alguém na posição que se exemplifica na fotografia que acompanha este post. É uma prática divertida ao mesmo tempo que se pode utilizar a imaginação duma forma inesgotável. Até se pode aplicar em casamentos, tornando as sessões fotográficas uma festa.
Conto, ao longo dos próximos dias, partilhar aos poucos esta minha nova paixão convosco.


segunda-feira, março 07, 2005

Icílio perdoado

Foi, com uma comoção desmedida, que os sócios do Odivelas receberam, no estádio Armando Dias, o tão afamado sócio do clube Icílio Ferreira que, após os incidentes lamentáveis durante o jogo de futebol a contar para a taça de Portugal entre o Odivelas e o Sporting de Braga, foi vergonhosamente impossibilitado de se aproximar de qualquer complexo desportivo (vide euforia de Icílio provoca escândalo em Odivelas de 29 de outubro de 2004). A sua atitude foi, aliás, capa de revistas e jornais em todo o mundo e foi considerado, pela generalidade da insuspeita imprensa estrangeira, o mais bem composto adepto que, alguma vez, decidiu invadir um recinto desportivo. O Desordem, obviamente, discorda e informa, para que não haja dúvidas quanto à orientação sexual do seu editor, que votou na menina do Letónia X Portugal.
Icílio foi recebido em apoteose e, um pouco por todo o lado, recebeu beijos e abraços pelo seu tão aguardado regresso.
O presidente do Odivelas, Humberto Fraga, mostrou-se muito feliz pelo retorno e afirmou ao Blog: “Estou muito satisfeito. É um dia em que o desporto está de parabéns. Toda a gente merece uma segunda oportunidade e o Icílio mostrou ser uma pessoa boa que gosta de futebol e que se arrependeu do que fez.”
A novidade foi a nova função que Icílio vai abraçar a partir de agora no Odivelas. Icílio foi convidado a comentar, no site do clube, os jogos da equipa. Para D. Ana Castro, fervorosa adepta: “Finalmente alguém para comentar devidamente os jogos da equipa. Se bem que, na minha opinião, o Icílio tem atributos bem mais interessantes que o jornalismo propriamente dito.”
Tem sido, aliás, comentário corrente entre as adeptas e simpatizantes que Icílio era muito mais proveitoso ao clube como invasor de campo, com o pêlo ao vento, do que jornalista, mas mesmo assim os elogios amontoam-se entre a massa associativa.
Quem parece muito interessada nesta nova vida do novo jornalista, é a sua esposa, Cláudia Ferreira que, num acto premeditado de puro orgulho, lhe ofereceu uma Parker de centenas de Euros para que Icílio escreva as suas sempre imparciais crónicas.
Quem parece estar preocupado com toda esta situação, são os directores dos principais jornais desportivos do país, que se têm aproximado da direcção do Odivelas para que Icílio possa ser dispensado e ingressar, a troco duma indemnização choruda, num qualquer diário nacional.
Icílio mostra-se contente com o interesse demonstrado pela imprensa na sua contratação, mas numa conferência de imprensa dada recentemente diz: “Sinto-me confiante e ainda há muito campeonato pela frente. A minha cabeça e o meu coração estão totalmente no Odivelas. Além do mais tenho a acrescentar que, toda a gente aqui, me trata bem e que até hoje, não recebi qualquer proposta de jornais, quer nacionais quer estrangeiros.”
Uma notícia posta a circular no site do Chelsea, faz referência ao interesse de Mourinho em o contratar para os comentários aos jogos do clube londrino, porque parece que a imprensa inglesa está a exercer demasiada pressão sobre o treinador português e Icílio é visto como um possível contraponto a toda essa situação. Ainda para mais é conhecido o gosto evidenciado do jornalista pela fotografia o que vem, ainda mais, valorizar o seu trabalho.
O Desordem vai continuar, como é hábito, a acompanhar toda esta história e para quem ainda não leu as palavras de Icílio pode-o fazer clickando aqui: http://www.odivelasfc.com/default.asp?TOPIC_ID=445

sexta-feira, março 04, 2005

Desordem oferece bilhetes para os U2

É com um agrado exacerbado que o Desordem se junta a esta desnecessária histeria colectiva que o povo português está a viver com a vinda dos U2 e, vai oferecer, assim, sem mais nem menos, dois ingressos (gajo e respectiva gaja) para o concerto que vai ter lugar, se Deus quiser, em Alvalade.
Os potenciais interessados só terão de fazer duas coisas. Frequentarem assiduamente o blog e limparem, com a própria língua, o obscuro e conspurcado soalho aqui da redacção. Em caso de empate, os concorrentes desempatam a contenda através da ingestão de excrementos dum animal à escolha desde que este pese mais de 15 kilos. Estão pois os dados lançados para mais um espectacular concurso patrocinado aqui pela malta.
Apesar da dificuldade da prova, o Desordem presume que, com o crescente desespero dos fãs em marcar presença no espectáculo, o concurso vai ter muitos participantes, pelo que aconselhamos calma pois todos terão a sua oportunidade de demonstrar as suas qualidades na faxina doméstica. Já dispensámos a senhora responsável pela limpeza e portanto agora são vocês a terem de evidenciar o que valem.
No entanto, cabe ao Desordem, como aliás tem sido seu apanágio, lembrar a todos aqueles que tencionam obter um bilhete, que os elementos do U2 são humanos e que não têm nada de especial, de forma que, provavelmente, não vão assistir a nada de extraordinário, pelo menos tendo em conta o dinheiro que estão dispostos a desembolsar. Não me parece que venham a cuspir fogo ou curar milagrosamente inválidos, de forma que pensem bem antes de embarcar nesta aventura. Li, aliás, hoje que já se andam a vender bilhetes a 500 euros.
O que é que o marketing não faz hoje em dia... Se fizessem o mesmo com a Ana Rita Jacob também ela enchia estádios. Não são raras as vezes em que a escuto a cantar em plenos pulmões as canções que passam na rádio e digo-vos, sem querer ser parecer tendencioso, que muitas vezes são melhor interpretadas que as originais. Se a escutassem a cantar o Vertigo, de certeza que pensavam duas vezes antes de considerarem os U2 o melhor grupo do mundo. Mas isto sou eu aqui a pôr veneno.

Completamente fora de assunto, achei extraordinário o anúncio posto na imprensa pelo padre Nuno Serras Pereira que diz “estar impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes". Nesta categoria incluem-se, de acordo com o padre Nuno Serras Pereira, todos os que usam "diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte" e os que recorrem a "técnicas de fecundação extra-corpórea, selecção embrionária, criopreservação, experimentação em embriões e outros métodos de reprodução medicamente assistida”.
Este perfeito idiota, porque não tem, evidentemente, outro nome pelo qual possa ser chamado, lá justifica a sua imbecil conduta no cânone 915 que diz "não são admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto.”
Pecado manifesto é este padre abrir a boca para dizer disparates destes. É um idiota.
Uma das vantagens de se ter espaços próprios de opinião é o facto de se puder chamar todos os nomes a quem se quiser sem sofrer as consequências. Mas soube que um tipo, em Inglaterra, foi despedido por chamar nomes ao patrão no blog que tinha. Eu, felizmente, não sou tão estúpido, mas também mesmo que quisesse chamar nomes aos meus inúmeros chefes, não tinha razões para o fazer, uma vez que são as pessoas mais queridas e competentes que tive oportunidade de conhecer na minha vida. Honra lhes seja feita.
Por isso deixem-me aproveitar o poder. O Padre Nuno Serras Pereira é um IDIOTA!