domingo, maio 29, 2005

Sinergia

Poderão pensar os queridos leitores que ainda têm paciência para visitarem este canto: Mas que raio é que o gajo pensa que é para estar sempre a falar de cinema?
O que precipitou tal comportamento foi o facto de, enquanto comprava bilhetes para um filme num famoso centro comercial, deparei-me subitamente com a seguinte conversa, tida entre um par de namorados que não notou a minha presença pela retaguarda. Foi o teor das palavras que me deu animo para continuar a fazer a distinção entre o que é bom e o que aborrece no panorama cinematográfico nacional.
“O que é que vamos ver, amor?”
“Não sei, amor, que tal o Star Wars?”
“Amor, mas isso não foi o filme que o Desordem disse bem?”
“Sim, disse que era muito bom.”
“Então o melhor é não vermos.”
“Eu até gosto das críticas do editor.”
“Tás parva? Aquilo é alguma coisa? Aquilo não é nada. É uma palhaçada. Não sei como podes gostar daquela treta.”
“Até é giro. Acho piada, o que é que queres?”
“Queres dizer que achas mais piada aquele idiota do que a mim? É isso que me estás a dizer?”
“Não, amor. Só acho piada, mas tu és o meu amor, amor. Tás com ciúmes é?”
“Puf! Se eu alguma vez ia ter ciúmes daquele ignorante. Acho piada é vocês, mulheres perderem tempo com as tretas daquele palhaço. São mesmo parvas. Realmente...nem sei porque continuo esta conversa.”
“Tá bem, pronto. Escolhe lá o filme!”
“Então vamos ver o Adriana.”
“Mas isso não é português?”

Mal escolhido. Ora, o que este casal de namorados deveria ter feito, partindo do princípio que não iria ver o Star Wars, era optar pela nova comédia de Paul Weitz, “Uma boa companhia”. Decidindo pelo filme da Margarida Gil correu o sério risco de passar o dia em conflito e quem sabe se agora, neste preciso momento, não estará separado.
Para quem não conhece, Paul Weitz foi o responsável pelo sucesso de bilheteira e de crítica “A vida deste rapaz”, com Hugh Grant no principal papel. Sim, também fez o American Pie, mas vamos esquecer esse percalço, até porque o homem devia andar a precisar de dinheiro, de forma que lhe é desculpável a imbecilidade.
A história de “Uma boa companhia” é bastante actual e narra as contingências dos trabalhadores dos nossos dias neste novo mundo de comércio global onde as fusões e as disfusões de empresas tornam o mercado de trabalho tão inseguro que qualquer tipo, chegando aos 50 anos pode ser, sem dar por isso, substituído por um ignorante de 25 saído da universidade e que pouco mais sabe fazer na vida que não seja ser pató.
É uma comédia bastante inteligente, contada de forma calma, ao estilo britânico. É um filme dois em um, apela á inteligência e faz rir. Numa altura em que o tema globalização está tão em voga, faz bem pensar nele numa forma descontraída e irónica.
Além disso tudo, tem ainda o prato principal, a razão pela qual vale a pena gastar o 5 euros: A diva Scarlett Johansson que, aviso já, aparece de calções e a jogar ténis. Está tão linda no filme que tive de avisar a minha namorada para que de futuro não seja apanhada desprevenida:
“Tás a ver esta?”
“O que é que tem?”
“Põe-te a pau, só te digo isso, põe-te a pau...”

segunda-feira, maio 23, 2005

A guerra das injurias

As péssimas críticas de cinema que eu tenho vindo a escrever neste espaço não têm despertado a total indiferença dos leitores o que, diga-se de passagem, muito me tem surpreendido. Para meu espanto, continuo a ser violentamente enxovalhado nas salas devido aos meus gostos, a tal ponto que a minha namorada já se recusa a ir comigo às matinés: “Desculpa lá mas vais tu sozinho. Se queres protagonismo tudo bem, mas não me convides para essa degradação. Eu até não acho piada nenhuma ao blog...”
Esta situação tem-se tornado aos poucos insuportável, até porque não são raras as vezes em que alguns indivíduos, devidamente identificados, cospem pipocas no intuito de me acertarem na cabeça enquanto eu tiro notas mentais sobre o trabalho dos artistas que participam na obra. Houve mesmo quem me insultasse, a meio do filme, bradando que preferia ler as críticas dos jornalistas do Público do que as minhas, para gáudio da restante assistência que aplaudia suinamente o gracejo.
No entanto, nas últimas projecções que tenho assistido, a aparente falta de animosidade de que sou alvo transformou-se em profunda simpatia. Toda a gente quer saber novas do Sr. Andrade e de como ele ficou sem o histórico bigode em resultado da aposta que fez consigo próprio caso o Benfica ganhasse o campeonato. Claro que prometi, logo que possa e que me seja facultada pelo próprio a sua nova imagem, a publicação da mesma neste respeitável espaço.
Posso adiantar, à laia de confidência, que o Sr. Andrade sente-se como novo e não são raras as vezes em que mulheres de saia arrebitada e de seios fartos o olham de soslaio.
Mas como homem sério que é, desvia o olhar e finge interessar-se pelas nuvens do céu.
Em relação ao que me fez escrever, o filme Star Wars, adianto sem receio de cair em desgraça, que é, de longe, o melhor filme da sextologia e que é, ao mesmo tempo, o mais excitante saído dos grandes estúdios nos últimos anos. O filme é tão bom, tão bom que admito mesmo que não foi o George Lucas a realizar. Acrescento que não sou grande apreciador da série e portanto fui para lá sem grandes expectativas, ainda para mais quando os dois anteriores foram fraquitos comparados com aquilo que deles se esperava.
Desta vez não, tudo é brilhante, desde a história aos efeitos especiais (mesmo muito bons) e nem consigo achar uma coisa para dizer mal, o que para um crítico de cinema como eu é um péssimo sinal. Além do mais tem a Natalie Portman que, só por si, merece os cinco euritos.
Por isso, se estiver farto de estar em casa, se gosta duma boa fantuchada e tem amor ao seu tempo e ao seu dinheiro e se sabe mais ou menos quem é o Darth Vader e um Jedi vá por mim, corra sem demoras para o cinema mais perto de si, de preferência que não seja da Lusomundo (diz quem lá foi que os frequentadores dessas salas tornam o visionamento da obra do George Lucas numa experiência traumática) e delicie-se com a vitória do mal.
Com sorte, pode ser que me encontre na mesma sessão (eu certamente vou voltar a vê-lo) podendo assim afiar a língua à sua vontade e chamar-me todos os nomes que achar convenientes.
Eu agradeço.

terça-feira, maio 17, 2005

Dedos de dilatação

Ao contrário daquilo que se possa imaginar, as conversas tidas nos corredores duma maternidade são bem pedagógicas, sobretudo quando se é, tal como eu, um autêntico pató nessas coisas da desova.
Ainda bem que fiz esta visita pois permitiu-me alargar os horizontes e, se porventura, o leitor for daqueles aventureiros que faz questão de estar perto da esposa quando esta der à luz, pelo menos posso-vos garantir que certas e determinadas ocorrências já não me vão surpreender como certamente me surpreendiam se a maternidade fosse um território virgem.
Enquanto esperava a minha vez para ir ao encontro da minha sobrinha, ouvi sem o querer, uma conversa entre duas senhoras dos seus 50 anos, possíveis avós de algum petiz lançado a este mundo no dia anterior, que partilhavam experiências, sabedoria e dores.
“Você sabe lá o que não foi para mo arrancarem de cá. Olhe que tive 9 dedos de dilatação. Nove! Nunca tive tantas dores na minha vida. A tal ponto que foi ele o meu único e nunca mais quis saber de filhos. Um bastou. O meu marido bem queria mais mas eu não fui nisso. 9 dedos de dilatação, já viu bem, eu com 20 anitos na altura… hoje em dia há medicamentos para tudo, agora na altura havia o quê? Não havia nada.”
“Então e eu? Levei 42 pontos por causa disto (aponta para um tipo barbudo duns 35 anos com uma camisola do Benfica da altura em que a equipa era patrocinada pela Fnac).”
A conversa acabou, mas fiquei tão curioso pelos meandros obscuros das salas de partos que rapidamente tratei de me chegar perto de outras avós que me pudessem ensinar alguma coisa.
“Felizmente que está tudo bem. Graças a Deus. Rezei tanto. Coitadita...vai ter de fazer fisioterapia vaginal para ir a coisa ao lugar. Espero que corra tudo bem. Pelo menos não foi de cesariana.”
Fiquei interessado nessa tal fisioterapia vaginal, cheguei-me mais perto, claro, mas estava em maré de azar e quis Deus que eu não desvendasse mais do que a conta. A minha namorada, que tem um sentido de oportunidade igual ao do Tino de Rans, lá me avistou:
“O que é que estás a fazer aqui? É a tua vez! Andas sempre dum lado para o outro, nunca estás quieto em lado nenhum. Anda tudo à tua procura. Tou cheia de sede. Onde se compra água? Vai lá depressa que há mais gente para ver a bebé. Tas tão estranho, passasse alguma coisa?”
“Hã!?”

segunda-feira, maio 16, 2005

Finanças vão obrigar clubes a pagar dívidas

Foi com entusiasmo que o governo, encabeçado por José Sócrates, deu a conhecer à comunicação social a solução para o problema que tem vindo a enervar, e de que maneira, a maioria dos contribuintes nacionais – As dívidas dos clubes de futebol.
O problema tem sido uma batata quente devido às promíscuas relações entre política e futebol e, evidentemente, aos interesses que se foram instalando em sequência dessas afinidades.
O caso recente, apito dourado, está muito lentamente a destapar um pouco do véu que tem encobrindo os negócios do mundo da bola mas, mesmo assim, pouco se tem feito, nomeadamente no que toca às dívidas dos clubes que, juntas, chegam a bater o PIB de vários países africanos.
A tentativa de cobrar o que é devido começou, benza-o Deus, no executivo anterior onde Bagão Félix assumiu alguma coragem ao enfrentar os homens fortes do desporto rei. Diz-se mesmo, à laia de mito urbano, que foi proibido de entrar em qualquer estádio nacional. O Desordem bem se esforçou para confirmar a notícia, mas sem êxito.
O novo ministro das finanças, Campos e Cunha, tem vincado a ideia de que a perseguição à fraude fiscal vai ser pura e dura, especialmente para os partidários da direita portuguesa, estando os mesmo a ser criteriosamente investigados neste momento.
Quanto às faltas dos clubes, Campos e Cunha vai recorrer ao tão afamado Homem do Fraque para resolver a questão. A equação é simples, se a coisa resulta com o cidadão normal, porque não com os clubes. “Imagine-se a vergonha que não é para um sócio ver um homem de cartola e de fraque a irromper estádio adentro em dia de jogo, de mão estendida, a pedir o que lhe é devido? Estou esperançado que a solução seja viável. O maior problema é estabelecer contacto com os sportinguistas que desde o passado Sábado não falam a ninguém.”
Dias da Cunha não comentou ainda a notícia. Seja como for, o Homem do Fraque recusa-se a entrar na zona de Alvalade durante os próximos dias. O ambiente, segundo o próprio, não é propício para grandes aventuras, temendo mesmo pela sua própria integridade física. “O melhor é esperarmos pelo início da próxima época.”

sábado, maio 14, 2005

Hipocondríacos com direito a cartão de descontos

Já foi decidido pelo executivo socialista a primeira medida na área da saúde, onde se espera uma viragem completa em relação ao que, até agora, foi feito nos governos anteriores.
Aos microfones do nosso Blog, o ministro da saúde, Correia de Campos, adiantou: “Não queremos contribuir para esta actividade tão querida aos portugueses do deixa andar. Nós prometemos e cumprimos. A saúde é uma necessidade e um dever do governo e, portanto, vai ser uma das nossa prioridades.”
Com efeito, a partir de Julho, todos os hipocondríacos poderão adquirir, nos balcões dos centros de saúde da sua residência, o cartão doença mais, que irá dar descontos em produtos e serviços médicos.
O sistema é simples e é semelhante aos dos outros cartões. Por cada ida ao médico de família, o doente tem direito a pontos que poderão ser revertidos em descontos e produtos. Os pontos vão variando consoante os serviços requeridos pelo doente. Assim, umas simples análises podem valer 10 pontos, uma radiografia 20 e um Tac 70. Para ter acesso a toda a pontuação, aconselha-se vivamente a visita ao seu médico de família.
Todos os pontos poderão ser trocados, mediante a apresentação do cartão magnético doença mais, por bengalas, próteses dentárias, operações grátis às cataratas e coluna e aparelhos auditivos estando, neste momento em negociações, a possibilidade do utilizador do cartão poder adquirir coletes reflectores para os assentos do seu carro ou fatos azuis escuros para loucuras privadas no Estoril.
Para o Sr. Luís Cabão Martins, conhecido hipocondríaco de Moscavide:”O esquema está muito bem pensado e vai dar um dinamismo diferente à saúde em Portugal. Olhe, se o sistema estivesse já em andamento já tinha ganho uns pontos valentes. É que comi este fim de semana camarão e tive de ir ao médico para que este me passasse análises ao colesterol. Já viu, 5 pontos da consulta mais 10 das análises dão 15 pontos. Ora, 15 pontos já davam para uma bisnaga de Halibut. É que há certas comidas que me caem mal na tripa e dá sempre jeito ter a pomada à mão…”

terça-feira, maio 10, 2005

Preguiçosos

Esta semana não há nada para ninguém.
Não é por mim é claro, que fiz os possíveis por manter a loja em funcionamento, mas esta semana chegou a conta da revisão do carro e, parecendo que não, estragou-me a vontade de dormir e de viver.
Por isso, tiro o resto da semana para curar a depressão.
Eu bem digo à namorada, “Olha que carros e crianças é o pior que um casal pode querer. Uma vez entranhados não há nada a fazer. Principalmente as crianças que a única vantagem que têm é quando fazem os 10 anitos e os podemos usar como escravos. Vai buscar uma cerveja ao pai. Vai ali à esquina comprar um maço de cigarros ao pai. Traz-me aí o comando da TV. Diz à tua mãe que tens fome e que está na hora dela fazer o jantar.”
No entanto, se alguém quiser manter a chama deste blog acesa pode enviar ideias, pensamentos e o que quiser para o mail do costume: hugomcarvalho.sapo.pt
Nós agradecemos.

quarta-feira, maio 04, 2005

Que a força esteja connosco

A vida não anda fácil para as namoradas e namorados deste país. Um gajo se se distrair um bocado pode levar, sem dar por isso, com uma boazona de grandes seios a fazer-se a ele, toda maluca, a prometer mundos e fundos na cama e quando uma pessoa, enfim, se começa a interessar e se prontifica a entrar na loucura zás, isto é para os apanhados, gravámos o seu comportamento e só lhe pudemos dizer que sua mulher assistiu a tudo e pela forma como reagiu você tá bem tramado! Eu é que não gostava de estar na sua pele. Vou-me mas é arrumar o material e dar de frosques antes que ela chegue!
Ao que se chega.
Isto a propósito de terem proposto à minha namorada, mais ou menos bem relacionada no meio, para me apanharem nesta teia. Claro que a proposta foi logo rejeitada, mas fez-me pensar na vida.
Será que uma pessoa já não pode ter descanso? Ainda há dias vi um episódio em que uma tipa, feia como o caraças, mas mesmo feia, aceitou o convite do sedutor, que por acaso segundo opiniões femininas que muito prezo, ainda era mais feio que ela, com a conversa de que a seduzida, o trambolho, era a mulher mais linda que alguma vez tinha visto, que era uma loucura e que por ela ele era capaz de tudo. Assim, sem mais nem menos. E a tipa acreditou, como se nunca tivesse, na vida, a curiosidade de se olhar ao espelho.
Ora, eu já disse isso a muitas e não foi por isso que elas não deixaram de me dar um valente par de estalos. E nem sequer foi preciso oferecer a outra face porque fizeram o favor de meter os dedos, mesmo sem autorização.
Vendo e revendo as imagens vezes sem conta, tentando decifrar as diferenças de actuação entre o sedutor e as minhas investidas juvenis inconscientes, notei que o que difere é a história dum gajo ser rico. O que realmente faz uma mulher trair o namorado, nem sequer é a conversa ou o corpo do pretendente, mas o dinheiro que ele aparenta ter.
O mesmo já não acontece com os homens. Até é uma perda de tempo darem a entender ao macho que a sedutora é rica. Para ele tanto lhe faz, o que na verdade está em causa é o sexo. Basta porem-lhe uma boazona à frente que é tiro e queda.
Bem, o melhor é não avançar mais na teoria, não vá começar a ter problemas conjugais quando chegar a casa!
Isto tudo a propósito duma ideia gira para um reality show, que só funcionaria nos Estados Unidos. A ideia é uma concorrente boazona chegar perto dum daqueles tipos que estão, feitos parvos, há dois meses à espera de bilhetes para ver a primeira sessão dos Star wars e tentar engatá-lo. A miúda que conseguisse tirá-lo de lá, fazendo-o perder o lugar, ganhava um prémio mirabolante. Tenho, no entanto, algumas dúvidas se haveria vencedora. Aquilo é gente que não se mete em imbróglios sexuais.
Além do mais nem sei qual a razão porque os fazem estar na bicha tanto tempo. É um absurdo!
Ainda ontem fui ao Cascais Shopping e vi um letreiro com letras garrafais com o seguinte texto: “Já pode comprar bilhetes para a estreia da Guerra das Estrelas dia 19 de Maio.”
Sem filas, nem embaraços. É só chegar lá e pimba, comprar.
Não cheguei a comprar, a rapariga da bilheteira era um estrondo e nestas coisas mais vale prevenir que remediar. Agora, enquanto esta febre da fidelidade durar, só falo com feiosas, não vá o diabo tecê-las. Só feiosas.

segunda-feira, maio 02, 2005

Hugo e a avalanche de nostalgia e egocentrismo

Tenho ficado surpreendido com as cartas de apoio que recebi ao longo destes últimos dias. São leitoras e leitores preocupados com a minha situação académica, depois daquela pequena crise de há duas semanas que fielmente foi retratada neste espaço.
Alguns exemplos que ficaram na memória.

"Caro Hugo:
Também eu tive de estar dias a fio a ler livros chatos e textos imperceptíveis. Ler os seus posts fez-me recuar no tempo e compreender que sou bem mais feliz agora.
Boa Sorte!"
João Carlos, Caparica

"Caro editor:
Não se deixe abater. O que não mata fortalece. Atendendo à forma como tem gerido o seu blog, para si qualquer teste é canja. "
Manuel Pereira, Freamunde

"Vai estudar gandulo!"
Raquel P., Pontinha

Estes foram alguns dos exemplos, mas houve mais e a todos agradeço o tempo que despenderam com a situação. Eu, por vós, não me dava a tanta trabalho, mas cada um sabe de si e Deus de todos.
Tudo isto para vos dizer que fiquei sensibilizado com a vossa atenção. É que nunca ninguém me perguntou como é que ia o curso. A minha querida namorada, parte do princípio que tudo são favas contadas e, por isso, não quer saber. A minha mãe, sempre tão protectora e interessada quando eu andava no secundário, nem sabe a quantas ando. Quem a viu e quem a vê. Antigamente era sempre: “Já fizeste os trabalhos? Já estudaste? Quanto tiveste a matemática? Ah rapaz! E a Português? Vá lá! Disso percebes tu!”
Mas não percebia, conseguia era fazer redacções que estimulavam o riso da turma e a docente, sabiamente apelidada de Bonboca devido aos seus atributos físicos, ciente das minhas capacidades artísticas, compensava-me com boas notas. Se bem que se levantaram logo vozes agoirentas que me acusavam de ser o menino querido da professora. Mas não o era. Enquanto eu passava uma tarde a escrever uma redacção, os outros jogavam à bola e estudavam outras coisas. Por isso é que quando chegava o fim do 3º período estavam todos passados e eu, coitado, lá andava a pedir aos professores, por favor, para me darem o 3 para não chumbar: “Já lhe disseram que tem uns bonitos olhos e olhe que já vi olhos de morrer, capazes de, por si só, me fazerem lançar ao abismo, mas os seus, bem os seus…Ah é verdade, podia-me dar um 3 para passar? É que se chumbar a minha mãe põem-me de castigo e sabe-se lá quando vou conseguir voltar a ver essa centelha de pureza!”
Na altura tinha tendência para ser meloso. Estava-me no sangue, consequência talvez, dos meus gostos musicais que iam de Bryan Adams até Bon Jovi. Foi a minha fase patética. Todos nós tivemos uma, não esteja já o leitor a chamar-me nomes. Não é que não os mereça, mas nesta particular situação são despropositados.
Felizmente acabava sempre por conseguir a nota que queria. Ao fim de 3 anos disso, uma pessoa acaba por se habituar à graxa e a fazer dela modo de vida. Entre isso e as cábulas, não sei qual delas tem maior legitimidade.
Não é para me gabar, mas na altura tinha a minha piada, não é como agora que entrei na fase decadente. A professora de português obrigava-me a ler os textos em frente da turma que se desmanchava a rir. Com isso ganhei alguns inimigos, especialmente uma Carla que não me suportava por escrever melhor que ela. Ela era aluna de 5 a tudo, filha prodígio duma família conservadora e de direita cujo único objectivo da vida parecia ser o de permanecer insuportável até ao fim da vida. Rapidamente fi-la cair em desgraça, escrevendo uma história sexualmente obscena onde ela era a personagem principal. Toda a escola a leu e “vendi” aquilo como verdade. Claro que hoje me dia me arrependo de tão mesquinha atitude, mas se hoje continuasse com esse comportamento, até podia dar um excelente advogado.
Bem já me expandi demais. Quando toca à nostalgia, ninguém me cala.
Mas pronto! Quanto ao teste das 500 páginas, tudo correu bem. Até posso dizer, sem cair em erro, que foi o mais brilhante momento académico que tive até ao momento. A minha prestação foi tão boa que não quis entregar a folha de teste à professora:
“Hugo tá na hora. Entregue-me lá o teste, que já teve tempo suficiente para o terminar.”
“Professora, olhe que acabei de escrever o meu melhor teste desde que aqui ando. Tenho receio que não perceba a magnificência dele.”
“Deixe estar que vou ter isso em conta. Para ficar descansado, até o vou colocar separado dos outros para o poder ler em primeiro lugar. Espero é que a magnificência dele, como o apelida, seja inversamente proporcional à sua caligrafia que, deixe-me que lhe diga, é pavorosa. Assine lá a folha de presença.” *suspiro*
Mulheres! Sempre com a sensibilidade na ponta do nariz!

domingo, maio 01, 2005

Árbitros proibidos de ler o Desordem

Em consequência das más arbitragens efectuadas no campeonato Nacional de Futebol, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) proibiu os seus associados de consultarem o Blog Desordem antes dos jogos. O objectivo é simples, motivar os homens do apito a ter mais atenção aos lances ao invés de gastarem a sua atenção a pensar naquilo que leram num dos blogs mais inúteis de sempre.
A proibição foi decretada esta semana depois das críticas de diversos responsáveis desportivos bem como da maioria dos comentadores e opinion makers que consideraram, aliás, a última jornada uma das mais negras no que toca à verdade desportiva.
Para os presidentes dos principais clubes, os erros foram muitos e é impossível continuar com uma competição profissional nas condições em que se encontra a liga, desculpem Super Liga. Segundo os mesmos, a consulta ao blog antes dos jogos tem um efeito nefasto na atenção de quem o consulta. Não é de estranhar, portanto, as acusações de Petit depois do encontro em Vila do Conde contra o Rio Ave, em que o jogador benfiquista apontou o dedo aos seus colegas de profissão de terem uma motivação extra. Ao que pudemos apurar, essa motivação veio do facto do treinador dos vila condenses, Carlos Brito, só permitir aos seus pupilos a consulta do Desordem após o jogo e em caso de vitória. Essa é, aliás, a filosofia do Sporting Clube de Braga que tem dado até ao momento a tranquilidade necessária para lutarem pelo título. Jesualdo Ferreira diz que a excitação dos jogadores por lerem os escritos que se encontram no site é tão grande que até comem a relva para ganharem e terem o direito de visitar a página. “É uma filosofia que tem dado resultados e espero que continue. E digo-lhe que só não ganhamos ao Sporting porque um dos nossos jogadores não aguentou mais e foi espreitar ao intervalo as últimas. Depois andou a contar aos outros jogadores as piores anedotas do mundo. A partir desse momento não há mais nada fazer.”
Para Major Valentim Loureiro, o caso não se põe e considera tudo uma parvoíce sem sentido. “Os erros da arbitragem são resultado da minha ausência, agora que voltei vão ver que volta tudo aos eixos. Ai volta, volta!”
Espera-se para já que o Boavista chegue, muito em breve, aos ansiados lugares europeus.