terça-feira, junho 05, 2007

Escrita Criativa

No meu curso de escrita criativa, o formador propôs um exercício onde teriamos de analisar uma pessoa e descobrir-lhe certas particularidas que sejam cómicas.
A fim de poupar tempo e trabalho na busca, optei por focalizar a observação em minha casa escolhendo, para o efeito, a minha namorada.
Vivemos juntos há 3 anos e parece que agora as coisas deixaram de ser o mar de rosas que costumavam ser para se tornarem num inferno, sentindo-me eu, neste momento, alvo duma perseguição diária sem razão e com efeitos nefastos no meu habitual equilíbrio emocional. Seja como for, foi graças ao exercício proposto que consegui desvendar parte do mistério.
Dezembro é o mês do meu aniversário e, por conseguinte, é habitual receber imensas prendas, até porque, 20 dias depois se junta o Natal. Pode-se dizer que, mediante este desígnio do destino, a minha existência, por si só, costuma sair bastante cara nesta altura a familiares e amigos mais chegados.
A namorada, como é normal, gosta imenso de se fazer notar neste mês e esforça-se imenso por me oferecer as prendas perfeitas. Depois de pesquisar todas as hipóteses decidiu, este ano, oferecer-me uma Playstation e uma assinatura para 12 meses da Sport Tv.
Deixo-vos a imaginar a festa que fiz após o tradicional desembrulhar dos presentes.
Tendo em conta a singularidade de cada um deles, confesso que costumo amiúde usufruir dos mesmos sempre que existe uma pequena oportunidade para tal. Faço-o não só pelo prazer que me dão mas também, e essencialmente, como prova do amor que sinto.
De boas intenções está o mundo cheio como se costuma dizer e se eu, para lhe mostrar o apreço que tenho pelo que ela me dá, me instalo no sofá a fazer um joguinho na Playstation depois dum árduo e deprimente dia de trabalho, em vez dum amo-te:
- Já estás a jogar outra vez? Passas a vida a jogar, tu!

Se, por outro lado, pego numa cerveja fresca e me preparo para assistir a um jogo de futebol sábado à noite para rentabilizar ao máximo a assinatura da sport tv que ela orgulhosa me ofereceu, em vez de receber um carinho:
- O quê, vais ver bola outra vez? Sabes me dizer há quanto tempo não saímos um Sábado à noite?

Percebendo todo o encadeamento de situações que levaram ao comportamento descrito, decido fazer o que muitos psicólogos aconselham nos programas da Ópera:
- Ser frontal e sincero.
E foi com estas palavras na cabeça que me dirigi a ela, ciente que tudo se iria resolver pelo melhor, afinal nada suplanta o verdadeiro amor:
- Querida acho que devemos conversar sobre nós...
Ela, sem me olhar, fez uns gestos bruscos com a mão e resolveu a questão:
- Agora não, espera um bocado, deixa-me acabar de ver a novela!