quarta-feira, dezembro 19, 2007

Sobe, sobe Balão, sobe!

Desta vez decidi resfriar os meus ânimos no que toca a oferecer coisas à minha querida sobrinha. Facilmente me descontrolo nas secções de brinquedos das grandes superfícies, mas este Natal vou manter-me afastado da confusão e fiel ao princípio que tudo o que é demais chateia.
A dificuldade de seguir o plano, já sei, vai ser difícil. Afinal a miúda está gira e os dois anos e meio de experiência de vida trouxeram-lhe alguma credibilidade entre os adultos e até já consegue ter uma conversa com as pessoas sem pedir colo passados 10 minutos. Mas convenhamos, continua a desprezar todo e qualquer objecto, tendo inclusivamente partido metade dos brinquedos que lhe ofereceram nas cerimónias oficiais. O telefone do Ruca já foi à vida, metade das bonecas foi decapitada sumaríssimamente sem direito a julgamento e os puzzles também já perderam metade das peças.
Por isso é usual ver a minha irmã de vassoura da mão a juntar cacos de várias cores e a lamentar-se:
- Raça da miúda parte tudo.

No último ano, a Adriana, aprendeu a cantar e dançar. A voz, a bem da verdade, não é das melhores, desafina e esquece-se amiúde das letras, mas o que não tem em talento possui sem dúvida em ternura e toda a gente que a vê nestas coisas do canto desfaz-se como um torrão de açúcar no chã.
-Tão querida…

Mas apesar de despertar nos adultos um enternecimento merecido, a coisa atinge proporções desastrosas cada vez que joga o Benfica. Assim, em vez de poder assistir comodamente no sofá às arrancadas do Rodriguez, aos remates do meio campo do Di Maria ou ás sarrafadas do Bynia, tenho de gramar com o atirei ao Pão ao Gato, o Sebastião Come Tudo e os Patinhos Sabem Nadar. E, como se fosse pouco o que perco, obriga-me a cantar com ela em dueto.
Por isso, quando me vejo, quase sem querer, a imitar galinhas a dar às asas ou pinguins a baloiçar no gelo, não é raro recorrer subitamente à psicologia infantil, aproveitando as respostas pré-definidas ensinadas pelo meu cunhado:
- Adriana, quem é o melhor?
- O Benfica!
- Quem é que eu sou
- Tio Hugo
- Queres ver o Benfica? Queres ver o Benfica com o tio Hugo, Adriana?
- Não!

Mas os miúdos chateiam um bocadinho.
É de notar que o vigor físico deles arrasa facilmente com o meu e é normal que sempre que a minha sobrinha vai lá a casa, por exemplo, além de ficar com a casa toda desarrumada, o que por si só é uma chatice, tenha também de me deitar mais cedo porque fico com os músculos todos doridos devido à correria a que sou sujeito.
E se vamos ao Shopping e há lá um pai Natal, o que, infelizmente, acontece sempre, já sei que vai sair de lá com um balão. A partir daí tenho o dia estragado. Vai andar a tarde toda aos saltos atrás do balão arrastando-me constantemente com ela porque a raça da miúda é querida como o raio e leva-me sempre à certa. Mas invariavelmente, quando as pernas me começam a pesar mais do que deviam, tenho de rebentar o balão disfarçadamente. O gesto é feio, acreditem que me dói o coração só de pensar em tamanha crueldade, mas é pior se eu cair para o lado de exaustão.
Mas a miúda, que lá tem a sua esperteza para gáudio das avós e dos avos, quando o balão rebenta, em vez de chorar e ir a correr para os pais para o consolo, tira do bolso outro vazio, estendo-mo, e pede com aquela cara delambida que me leva a acreditar que, afinal, ela sempre merece mais do que aquilo que eu lhe dou:
- Mais tio, mais!