terça-feira, fevereiro 21, 2006

Valentim

O que é triste nestes jantares de namorados são os silêncios e as verdades que se escondem nos olhares e nas mãos estendidas que se seguram aos dedos. Trocam-se à força juras que não se sentem e espera-se que o dia seguinte traga mais qualquer coisa.
A maior parte dos amantes sentados nas mesas está calada a mastigar melancolicamente a comida e a perscrutar, pelos vidros, o rio. Se a lua estivesse cheia podiam vê-la reflectida na água enquanto escutavam os seus uivos nocturnos.
Às vezes dizem qualquer coisa. Pouca. Elas estão mais arranjadas que eles, bem penteadas e melhor pintadas para parecerem que saíram dum qualquer concurso de televisão. A falta do riso e da emoção faz pensar que deixaram fugir o primeiro prémio por pouco.
À minha frente ele tem um aspecto cansado e ela esconde a agonia com um aparência igual às noivas acabadas de sair do cabeleireiro. Mas sem a felicidade e sem o nervosismo. Sorriem pouco e tentam falar um com o outro. Nada lhes sai e começo a pensar que S. Valentim deveria ter sido um sacana dum cabrão dum mentiroso. Mais valia trocar-se o 14 de Fevereiro pelo 1º de Abril. Haveria certamente mais razões para comemorar.