quinta-feira, dezembro 22, 2005

Fartura

É mais do que certo que no Natal as pessoas tendem a agir de forma muito pouco racional. Não é uma observação nada original, o que, aliás, já se esperaria da minha pessoa. Mas certo é que, como ia escrevendo, o raio desta gente passa o desgraçado do ano todo a lamentar-se da vida. Que as coisas não estão famosas, que o dinheiro infelizmente não estica e que, pelo andar da carruagem, se isto não levar outro rumo, sabe-se lá onde se vai parar.
“Veja lá que meia dúzia de costeletas, umas pecitas de fruta, umas bolachitas para o meu Afonso e para a minha Mariana me custaram 16 euros.”
Mas chega Dezembro e assim, sem mais nem menos, o raio do 13ºmês bate nas contas dos mais afortunados e toda a gente fica, dum segundo para o outro, rica. Torna-se, portanto, na sequência desta infeliz incidência, particularmente insuportável viver neste mundo. As filas de trânsito nunca mais acabam, a Portugália enche todas as noites e, no cúmulo da loucura natalícia, até se chega, imagine-se, ao desplante de se ouvir num dos centros comerciais mais suburbanos e mal frequentados do país, alguém a reclamar:“Quê? Marisco outra vez? Estou farta de marisco! Vamos, por favor, comer outra coisa!”