Dedos de dilatação
Ao contrário daquilo que se possa imaginar, as conversas tidas nos corredores duma maternidade são bem pedagógicas, sobretudo quando se é, tal como eu, um autêntico pató nessas coisas da desova.
Ainda bem que fiz esta visita pois permitiu-me alargar os horizontes e, se porventura, o leitor for daqueles aventureiros que faz questão de estar perto da esposa quando esta der à luz, pelo menos posso-vos garantir que certas e determinadas ocorrências já não me vão surpreender como certamente me surpreendiam se a maternidade fosse um território virgem.
Enquanto esperava a minha vez para ir ao encontro da minha sobrinha, ouvi sem o querer, uma conversa entre duas senhoras dos seus 50 anos, possíveis avós de algum petiz lançado a este mundo no dia anterior, que partilhavam experiências, sabedoria e dores.
“Você sabe lá o que não foi para mo arrancarem de cá. Olhe que tive 9 dedos de dilatação. Nove! Nunca tive tantas dores na minha vida. A tal ponto que foi ele o meu único e nunca mais quis saber de filhos. Um bastou. O meu marido bem queria mais mas eu não fui nisso. 9 dedos de dilatação, já viu bem, eu com 20 anitos na altura… hoje em dia há medicamentos para tudo, agora na altura havia o quê? Não havia nada.”
“Então e eu? Levei 42 pontos por causa disto (aponta para um tipo barbudo duns 35 anos com uma camisola do Benfica da altura em que a equipa era patrocinada pela Fnac).”
A conversa acabou, mas fiquei tão curioso pelos meandros obscuros das salas de partos que rapidamente tratei de me chegar perto de outras avós que me pudessem ensinar alguma coisa.
“Felizmente que está tudo bem. Graças a Deus. Rezei tanto. Coitadita...vai ter de fazer fisioterapia vaginal para ir a coisa ao lugar. Espero que corra tudo bem. Pelo menos não foi de cesariana.”
Fiquei interessado nessa tal fisioterapia vaginal, cheguei-me mais perto, claro, mas estava em maré de azar e quis Deus que eu não desvendasse mais do que a conta. A minha namorada, que tem um sentido de oportunidade igual ao do Tino de Rans, lá me avistou:
“O que é que estás a fazer aqui? É a tua vez! Andas sempre dum lado para o outro, nunca estás quieto em lado nenhum. Anda tudo à tua procura. Tou cheia de sede. Onde se compra água? Vai lá depressa que há mais gente para ver a bebé. Tas tão estranho, passasse alguma coisa?”
“Hã!?”
Ainda bem que fiz esta visita pois permitiu-me alargar os horizontes e, se porventura, o leitor for daqueles aventureiros que faz questão de estar perto da esposa quando esta der à luz, pelo menos posso-vos garantir que certas e determinadas ocorrências já não me vão surpreender como certamente me surpreendiam se a maternidade fosse um território virgem.
Enquanto esperava a minha vez para ir ao encontro da minha sobrinha, ouvi sem o querer, uma conversa entre duas senhoras dos seus 50 anos, possíveis avós de algum petiz lançado a este mundo no dia anterior, que partilhavam experiências, sabedoria e dores.
“Você sabe lá o que não foi para mo arrancarem de cá. Olhe que tive 9 dedos de dilatação. Nove! Nunca tive tantas dores na minha vida. A tal ponto que foi ele o meu único e nunca mais quis saber de filhos. Um bastou. O meu marido bem queria mais mas eu não fui nisso. 9 dedos de dilatação, já viu bem, eu com 20 anitos na altura… hoje em dia há medicamentos para tudo, agora na altura havia o quê? Não havia nada.”
“Então e eu? Levei 42 pontos por causa disto (aponta para um tipo barbudo duns 35 anos com uma camisola do Benfica da altura em que a equipa era patrocinada pela Fnac).”
A conversa acabou, mas fiquei tão curioso pelos meandros obscuros das salas de partos que rapidamente tratei de me chegar perto de outras avós que me pudessem ensinar alguma coisa.
“Felizmente que está tudo bem. Graças a Deus. Rezei tanto. Coitadita...vai ter de fazer fisioterapia vaginal para ir a coisa ao lugar. Espero que corra tudo bem. Pelo menos não foi de cesariana.”
Fiquei interessado nessa tal fisioterapia vaginal, cheguei-me mais perto, claro, mas estava em maré de azar e quis Deus que eu não desvendasse mais do que a conta. A minha namorada, que tem um sentido de oportunidade igual ao do Tino de Rans, lá me avistou:
“O que é que estás a fazer aqui? É a tua vez! Andas sempre dum lado para o outro, nunca estás quieto em lado nenhum. Anda tudo à tua procura. Tou cheia de sede. Onde se compra água? Vai lá depressa que há mais gente para ver a bebé. Tas tão estranho, passasse alguma coisa?”
“Hã!?”
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