Pinchos
Aproveitando ao máximo o dia em que pude passear junto da mulher que vou partilhar a vida, sentei-me com ela numa esplanada de boa fama ao entardecer onde bebemos cervejas e comemos pinchos. Para quem ainda não teve a oportunidade de experimentar, pinchos são umas fatias minúsculas de pão com qualquer coisa por cima. Pode ser paté, fiambre, salsicha, peixe, o que se quiser. Tudo depende da boa vontade do cozinheiro. Nesse bar/restaurante em que estivemos, o homem da cozinha estava devidamente inspirado e conseguiu produzir pinchos duma excelente e inquestionável qualidade.
A conversa entre mim e a minha namorada foi a do costume neste tipo de ocasiões:
“Ai não há nada como sair de Portugal.”
“Ai que cidade tão fixe para se estar. Ai que museus tão bons.”
“Ai que isto é que é vida.”
A esplanada estava a saber bem. Tínhamos estado uma tarde inteira no Museu de Arte Catalã e as pernas doíam que se fartavam. Mas valeu a pena, a colecção de pintura medieval é realmente esplêndida e, por si só, rentabilizou a viagem. Para mim foi o momento mais alto dessa meia dúzia de dias. Bate tudo e mais alguma coisa de Barcelona. Inclusive, e por favor não me mandem cartas de protesto, a Sagrada Família.
Voltando à esplanada e ao fim de tarde na capital catalã. Ao nosso lado estavam 3 mulheres dos seus trinta e alguns anos. Estavam de férias e tinham-se conhecido por acaso no hotel onde pernoitavam. Quer dizer, não sei se foi realmente isso que aconteceu, mas pelo menos, tendo em conta o teor da conversa, era isso que parecia.
Eram as 3 inglesas, loiras e bem feitas. Bem vestidas, perfumadas e cabelo de design.
Falavam da vida. Tinham sido deixadas/encornadas pelos homens a quem se dedicavam. Não eram casadas, gostavam apenas de gozar a vida e sentiam esperança que fossem pedidas um dia.
Escutámos com atenção as palavras. Contavam calmamente, à vez, a sua história e as que escutavam diziam que sim com a cabeça. Cada uma delas sabia o que a outra sentia. Eram histórias amarguradas, mas interessantes, tão interessantes que chamamos o empregado:
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Pronto admito, tenho uma certa depravação por história de cornos. E nesta ocasião não era apenas uma, mas três.
“He left me, saying he couldn’t handle it. He wasn’t interested in serious relationships. He was still young.”
E nós ouvíamos, com atenção. E entusiasmados pedíamos:
“Duas cervezas e dois pinchos...”
E depois a loira com sardas:
“I was sick of all that and wanted to move on, think of my future. I was 33 for Chris sake…”
E as nossas orelhas em pé:
“Mais duas cervezas e dois pinchos.”
E a mais jeitosa delas todas:
“John simply disappeared. We had a such a good relationship... I was shocked by all that. Now i am here in Barcelona, trying to think straight...”
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Depois de mais uns choros lá se foram embora, em silêncio, mas com os seus fantasmas expulsos. Acabada a diversão, pouco mais havia a fazer:
“Por favor, la conta...”
40 Euros por meia dúzia de pinchos e meia dúzia de cervezas. É nestas ocasiões que vale a pena ter a Joana por perto. Como não estava, pagámos e dissemos mal da vida durante 10 minutos.
A conversa entre mim e a minha namorada foi a do costume neste tipo de ocasiões:
“Ai não há nada como sair de Portugal.”
“Ai que cidade tão fixe para se estar. Ai que museus tão bons.”
“Ai que isto é que é vida.”
A esplanada estava a saber bem. Tínhamos estado uma tarde inteira no Museu de Arte Catalã e as pernas doíam que se fartavam. Mas valeu a pena, a colecção de pintura medieval é realmente esplêndida e, por si só, rentabilizou a viagem. Para mim foi o momento mais alto dessa meia dúzia de dias. Bate tudo e mais alguma coisa de Barcelona. Inclusive, e por favor não me mandem cartas de protesto, a Sagrada Família.
Voltando à esplanada e ao fim de tarde na capital catalã. Ao nosso lado estavam 3 mulheres dos seus trinta e alguns anos. Estavam de férias e tinham-se conhecido por acaso no hotel onde pernoitavam. Quer dizer, não sei se foi realmente isso que aconteceu, mas pelo menos, tendo em conta o teor da conversa, era isso que parecia.
Eram as 3 inglesas, loiras e bem feitas. Bem vestidas, perfumadas e cabelo de design.
Falavam da vida. Tinham sido deixadas/encornadas pelos homens a quem se dedicavam. Não eram casadas, gostavam apenas de gozar a vida e sentiam esperança que fossem pedidas um dia.
Escutámos com atenção as palavras. Contavam calmamente, à vez, a sua história e as que escutavam diziam que sim com a cabeça. Cada uma delas sabia o que a outra sentia. Eram histórias amarguradas, mas interessantes, tão interessantes que chamamos o empregado:
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Pronto admito, tenho uma certa depravação por história de cornos. E nesta ocasião não era apenas uma, mas três.
“He left me, saying he couldn’t handle it. He wasn’t interested in serious relationships. He was still young.”
E nós ouvíamos, com atenção. E entusiasmados pedíamos:
“Duas cervezas e dois pinchos...”
E depois a loira com sardas:
“I was sick of all that and wanted to move on, think of my future. I was 33 for Chris sake…”
E as nossas orelhas em pé:
“Mais duas cervezas e dois pinchos.”
E a mais jeitosa delas todas:
“John simply disappeared. We had a such a good relationship... I was shocked by all that. Now i am here in Barcelona, trying to think straight...”
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Depois de mais uns choros lá se foram embora, em silêncio, mas com os seus fantasmas expulsos. Acabada a diversão, pouco mais havia a fazer:
“Por favor, la conta...”
40 Euros por meia dúzia de pinchos e meia dúzia de cervezas. É nestas ocasiões que vale a pena ter a Joana por perto. Como não estava, pagámos e dissemos mal da vida durante 10 minutos.
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