quarta-feira, setembro 29, 2004

Cartas dos Leitores

Como qualquer periódico que se preze, também o Desordem se iniciou na tarefa de revelar as opiniões dos seus leitores. Por isso, sempre que algum dos assíduos deste canto, quiser revelar a sua opinião sobre o que quer que seja, poderá fazê-lo através do mail do editor. A saber: hugomcarvalho@sapo.pt
Para já, segue a carta enviada pela nossa leitora Mariana Carvalheira que, apesar de ter emigrado, não deixou de pensar nos que lhe querem bem. Queria apenas que notassem no entusiasmo e na autenticidade da sua missiva.

HUGUITO,
ANTES DE MAIS, MUITOS PARABÉNS pelo BLOG.
Ontem acabei por não ter tempo de ler as últimas.
Tu tens mesmo jeito, estou à 1/2 hora a rir, já não aguento mais, desde o bife da Mila ao bebé da Sandra, mais a família Martelo, não sei quais é que estão mais bem apanhados, TÁ LINDO (a pessoa que está aqui na sala, não está a perceber bem, porque eu já chorei de tanto rir).
Acho que devias mesmo era dedicar-te mais à escrita, está demais!!!!!
Mariana Carvalheira, Lisboa

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ARMANDA, A MAL ARMADA


Armanda Karinho era uma secretária pouco amada pelos seus colegas de trabalho. Pousava de braço direito, esquerdo, pernas e busto do patrão. Dona da agenda, escalava os felizardos que poderiam ser atendidos pelo chefe.
— Armanda, preciso falar com o Dr. Mário Valença — solicitava um funcionário da empresa.
— Qual é o assunto? Não pode ser comigo mesma?
— Não, só com ele.
— Deixa eu ver.
Armanda abria a agenda, folheava roleteando habilidosamente as páginas, abria numa página em branco, virava mais umas duas e finalmente informava:
— 13 de agosto, uma sexta-feira, tá bom pra você?
— Agosto?! Mas nós ainda estamos em fevereiro! O problema é grave, tenho pressa! É caso de vida ou morte!
— Assim não dá! Você tem que se decidir, são ordens expressas do Dr. Valença, só posso marcar entrevista com o assunto definido. Você tem que informar com precisão. Então, é caso de vida ou de morte?

O Dr. Mário Valença já estava meio de saco cheio com as delações de Armanda: “Dr. Valença, o boy passa o tempo todo ouvindo o walkman e, pelo seu gingado, acho que só ouve funk, rap e hip hop”; “Dr. Valença, a copeira está sempre reclamando que faltou pó de café. Tenho certeza de que está levando pra casa”; “Dr. Valença, acho que a Simony do Departamento Financeiro, aquela loirinha, baixinha, meio gordinha, está de caso com o motorista”.

Também tricotava com os próprios companheiros de trabalho; afinal, Armanda precisava saber o que se passava por detrás das portas fechadas dos demais departamentos. Foi assim que ela descobriu que no DP tratavam das questões referentes às relações legais dos empregados com a empresa; no RH analisavam os perfis dos candidatos a emprego, indicavam cursos de treinamento e aperfeiçoamento desses, etc. Até conseguiu informações sobre o Departamento de Desenvolvimento de Produtos. Anotou na sua cadernetinha pessoal, embrião do dossiê que estava montando sobre as atividades da empresa: “É ali que se desenvolvem os produtos”, uma valiosa informação. No entanto Armanda tinha uma grande frustração, não se conformava em ter que passar o dia folheando páginas de uma trivial agenda, enquanto seus colegas do Financeiro folheavam cheques, notas promissórias, boletas bancárias e, o fino do chique, grana viva! Azuis, violetas, amarelas, rosas, vermelhas, marrons e até matizadas; manuseá-las era o seu sonho maior, principalmente as verdes, pois o seu horóscopo de todos os dias indicava que essas seriam as que mais combinavam com as suas dilatadas pupilas.

Dr. Valença, na verdade, não estava gostando das especulações de Armanda sobre determinados interesses de sua empresa. Ela andou fuçando sobre as atividades financeiras da SMPqP. Queria saber sobre toda aquela movimentação de dinheiro que o DF controlava. Armanda andava tão curiosa que, quando o entregador de pizza chegava com uma encomenda para o Financeiro, ela fazia questão de receber a caixa, abrir, cheirar, espetar o produto, pra ver se não era um disfarçado meio de transporte de grana. Tudo isso ficou registrado na caderneta secreta de Armanda. Porém o registro mais enigmático de seu dossiê dizia respeito a um certo curso de “domador de leão” que o Dr. Valença andou fazendo numa empresa de assessoria financeira.

Finalmente o empresário resolveu dispensar os serviços de Armanda, já que contava com outros trinta bocas-frouxas, que era o número total de funcionários daquela empresa de propaganda&marketing — Armanda falava mal de todo mundo, e todo mundo esculachava Armanda. Dr. Valença ficou com a maioria.

Com o bilhete azul na mão, Armanda jurou vingança.

Até antes do curso de domador de leão, o Dr. Valença era tido como um abnegado protetor da fauna brasileira, mantinha em cativeiro raríssimas espécies em extinção: lobo guará, tartaruga marinha, gavião fumaça, tamanduá-bandeira, jacaré-do-papo-amarelo e até o cobiçado mico-leão-dourado, todos ameaçados pelo mais temível dos predadores: o leão-insaciável-de-recursos.

Seguindo os conselhos de um economista especializado em proteção ambiental, o bem sucedido empresário resolveu trocar alguns dos seus exemplares da nossa fauna silvestre por animais de outras espécies. Foi aí que entrou no ramo de criador de eqüinos. Adquiriu seus primeiros puros-sangues, os melhores cavalos do mercado, todos da linhagem green-horse. Alguns desses belíssimos animais transformaram-se em barbadas nas bolsas de aposta do Jockey.

Nas corridas dos hipódromos eram formados disputadíssimos páreos compostos por: George Washington, Thomas Jefferson, Abraham Lincoln, Alexander Hamilton, Andrew Jackson, Ulysses Simpson Grant e o sempre favorito Benjamin Franklin.

Os boys da SMPqP logo se tornaram eficientes cowboys. Todos os dias, montados nos seus cavalos de aço, eles iam até a reserva ecológica do Dr. Valença, recolhiam micos-leões-dourados, onças pintadas, garças, tartarugas e até beija-flores (deixavam apenas algumas presas para o leão-insaciável-de-recursos), em seguida os trocavam por manadas de green-horses.

O negócio ia muito bem, até que um dia o Dr. Valença concedeu uma entrevista a uma revista especializada em turfe, falando do sucesso de seus empreendimentos.
Armanda leu a entrevista do ex-patrão e teve uma brilhante idéia sombria.

NÃO PERCAM “A Vingança de Armanda”

Próximo capítulo de..

“ARMANDA, A MAL ARMADA”

Fernando Soares Campos
e-mail: fernandosoarescamp@bol.com.br

2:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Se você ainda não acessou La Insignia,
jornal ibero americano que traz crônicas de
Millôr Fernandes,
não sabe o que está perdendo.
http://www.lainsignia.org/
Pronto, já não precisa perder mais.
Abraços.

11:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mariana!!! Que giro achar-te aqui. Um beijo de um colega de longda data. Gonçalo. http://www.goncas.com/wordpress/

12:55 da tarde  

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