sábado, abril 02, 2005

Crónica do Diabo III

A Páscoa passou e o cronista mais incompreendido do jornalismo português continua, felizmente, a colaborar com quem merece, ou seja, connosco. Deus queira que nunca ninguém lhe ofereça porra nenhuma pelo que escreve, ou lá ficamos nós sem os mais fascinantes desvairos narrativos que Portugal conheceu.
Pode parecer injusto, mas gosto tento de o ter por cá, que se mo tirarem fico deprimido um ano inteiro, nem que para isso lhe oferecessem uma pipa de massa.
Apresento-vos mais uma crónica do colaborador Paulo Rinhonha, que desta vez tece alguns comentários menos próprios à Pascoa, a Deus e a Jesus.
Não se aconselha, portanto, a leitura, àqueles que gostam de arranjar confusão por tudo e por nada e que falam, na mesma frase, tão bem de Deus como da gaja a quem pagaram um aborto. Ou às tias que vão à Igreja do Estoril falar mal do aborto quando já têm 5 no currículo. Ou pior ainda, quando se insurgem contra a eutanásia quando elas próprias rezam todos os dias para que o marido morra e herdem a fortuna.
Pronto, isto tudo para lhe dizer que, se for religioso e levar as coisas de Deus muito a peito, esqueça o que vem a seguir, porque não tem piada nenhuma.

O Folar também traz fava

Pode parecer até mentira, mas posso afiançar que não sei de todo se é ou não.
Este meu amigo que eu tenho, que é um bom amigo e tudo, e que não via há muitos meses, desde que ele foi para Aveiro trabalhar como guarda-rias, veio a minha casa no outro dia e espantou-me de tal forma que tenho de contar a alguém ou ainda me expludo todo por dentro e desperdiça-se o que gastei com o arranjo dos dentes num dentista manhoso ali prós lados do Chile onde mora o meu tio e a minha tia, onde a minha prima já não mora porque foi para Bruxelas e por acaso até casou com um belga e tiveram um filho há pouco tempo, mas compraram cá casa em Sesimbra porque ele gosta muito disto porque lá eles não têm o sol que nós cá temos, e ele começou a falar e eu ao principio nem tava a perceber nada.
Parece que a namorada que ele arranjou em Aveiro, que até é bem jeitosa porque vi uma fotografia que tinha andado pela net que um gajo que ele conhecia roubou lá de casa e era uma polaroid da gaja a sair do banho com uma toalha verde mar enrolada à cabeça, comprou um folar de Páscoa mas dos de chocolate porque ele não gosta muito de ovos cozidos e ela soube disso uma vez que fez uma salada com ovo cozido e ele deixou tudo de lado e andou amuado uns dois dias porque ela não lhe tinha perguntada se ele gostava de ovo, pá umas confusões, então quando partiram a primeira fatia encontraram uma folha de papel muita bem dobrada que a faca nem conseguia cortar o bolo nem nada.
O gajo já ia a sair porta fora com o folar na mão para o ir espetar na cara do tipo da pastelaria quando reparou que a folha estava escrita e começou a ler e até ficou parvo quando viu aquilo.
Fiquei a saber porque ele passou por cá pra me pedir emprestadas as algemas que eu tinha comprado em Londres quando lá fui há uns anos com uma gaja que era doida por tar presa amarrada e vendada e essas coisas todas, mas depois é que me lembrei que as tinha emprestado a outro amigo pra fazer umas fotos e que ele ainda não mas tinha dado porque é açoriano e foi passar o natal a casa dos pais e não voltou não sei porquê.
E isto é tal e qual o que lá vinha...
"Na Páscoa somos todos irmãos”
Não faço esforço para provocar as situações, como não faço esforço para evitá-las. De qualquer maneira, ficar a zero também é uma forma de perder.
A terra onde vivo nem é das piores. Como em qualquer outro lugar da pior espécie de fauna andranjante, pode-se levar uma facada de um gajo qualquer, mas porque é da vizinhança, sabe-se quem ele foi.
Foi precisamente isso que aconteceu com um vizinho meu. Naifou um cigano da banda ali do lado. Vai daí, veio a turba, já que eles só atacam em magodes, rebanhos baliantes, talvez porque tenham medo de se fazerem à vida sozinhos, e começaram a naifar o pessoal lá da rua. Vai daí, o pessoal lá da rua chateou-se com tal situação e alguém, sabe-se lá quem, meteu uma bala nos lombos de um deles que tinha ficado para trás a mijar a uma esquina. Teve azar, uma vez que a bala tinha sido um daqueles tiros para o ar que depois caem em cima de alguma cabeça mais desprevenida e volumosa. Em verdade, ninguém tem a culpa. É um daqueles actos da casualidade, e só deus compreende os estranhos designíos da vida e, portanto, pobres mentes como as nossas não devem pôr em causa tal sabedoria e savoir faire.
Por acaso o morto era primo em quadragésimo grau do outro que tinha naifado o vizinho. Até parecia de propósito. Era normal que a polícia pudesse desconfiar. Mas convicto naquela sabedoria de que falei, assumiram que tudo não passaria de mais um daqueles misteriosos e irónicos efeitos secundários da casualidade. A polícia, ao contrário do que possam pensar, também tem uma costela verdadeiramente cristã. Por exemplo, aceitam alguns dos maiores brutamontes, na esperança de os limarem à condição de cidadãos correctos e agentes correctores de maus hábitos como o de mijar na rua. Se não o conseguem não é por falta de boa fé. É sim, porque nem tudo funciona como gostaríamos e necessário é aceitar as ambivalências da criação. Como ir à missa uns domingos por ano, também malhar com os ossos na cadeia, desde que não seja todas as semanas, cria carácter, assim como na tropa se formam os homens. Pelo menos aqueles que não o eram antes. É por isso que lá não gostam de maricas. Não se pode moldar um homem sabendo de antemão que o gajo quer é enfiar o pénis num dos buracos mais fedorentos e impuros do universo. Há que estabelecer limites. Há que ter coragem em os assumir. O cu, na minha ideia, não foi pensado com o objectivo de por ele entrar à bruta em busca de prazer impróprio. A via da sensatez não se compadece com hábitos selvagens e obscuros. Se deus criou buracos foi concerteza com o intuito de que permanecessem destapados, senão não teria criado o buraco. Contra evidências não se pode argumentar. É essa a virtude dos fundamentalistas. Se é, não se pode pôr em causa. Além disso, nada se pode pôr em causa a não ser aquilo que vai contra as suas estreitas e inculturais ideias. Mais linear é impossível. Vida criada simples e que inveja devemos nós por eles sentir. Eles sabem-se certos, por isso, devem estar. Quem duvida? Eu não!
E depois, cristo até morreu por nós. De tão farto estar desta vida de treta, pediu ao pai, e penso que por favoritismo, não tenho a certeza, deus concedeu-lhe o desejo. Morreu, aparentemente, bem e ficou na história. Bem vistas as coisas, não é toda a gente que tem a oportunidade de marar com um tronco nas costas. Até nisto o tipo foi previligiado. Quem me dera a mim ir de prancha daqui para outro lugar que não este, daqui para onde quer que fora, exceptuando que fosse aqui voltar.
Ainda me lembro dos tempos em que se curtia a páscoa comendo porcarias como peixe e coisas assim para que não se mordesse a carne de Jesus. Está aí uma coisa que o filho de Deus não havia de gostar. Então um gajo esforça-se para sair deste lodo e ainda tem de lá ficar com a carne de modo a que os outros a mordam. Chiça, já não há respeito pelos mais velhos de dois mil anos. Qualquer dia temos por aí jovens de mil e quinhentos anos a brutalizar e a gamar a placa a velhos de trezentos e cinquenta milhões de anos de idade. Já não há respeito pela quinquagésima segunda milena idade. Onde é que este mundo vai parar? Com tantas malucas para aí a passear, ainda um dia temos deus a bater à porta pedindo esmola para ir a casas de alterne. E ainda há-de haver pessoas que não abrem a porta, filhos do Demo, esses sim.
No fundo, o que realmente queria falar não era nada disto.
Por falar em coelhinhos, conhecia um gajo que dizia que ‘papava’ as galinhas que a mãe tinha na varanda. Aquilo é que era um garanhão! Arrebentava as ditas, a espécie à séria, à beira da estrada e com estes dois dedos, sem que ela visse, sacava das milenas que tinha pago. Foder por dinheiro, nunca.
Há que ter em nota que nunca devemos pecar. Pelo menos em consciência. Assim, devemos ter consideração pelos chamados pobres de espíritos, pois é deles o reino dos ao léu.
No fundo, o que queria dizer não era nada disto, mas uma vez que dito assim foi, tenho de assumir que é um daqueles actos da casualidade, e só Deus compreende os estranhos desígnios da vida e, portanto, pobres mentes como as nossas não devem pôr em causa tal sabedoria e savoir faire.
Porra, estava tão distraído que me esqueci de me ir lamentar numa igreja perto de si.
E se mais uma vez, igual a todas as outras, este ano nem sequer dar pela pascoal época...
bem… Deus perdoa…

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

relevante mesmo é a cena dos ovos. eu também não gosto deles cozidos e até acho que tá provado que fazem melhor à saúde quando são escalfados.

3:57 da tarde  

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