quinta-feira, março 31, 2005

A inevitável lei de Murphy

É com um orgulho desmedido que apresentamos a nossa primeira reportagem de fundo em relação a um assunto. Não é um assunto muito importante, mas representa, contudo, um marco na cultura dita, e mui apregoada, de inútil. Isto tudo a propósito da minha actual convicção de que deveria ter escolhido o curso de Jornalismo em vez do de História. A descoberta é por demais desagradável uma vez que estou a um ano e picos (3 semestres) de acabar o curso e só agora percebi que não tenho um fascínio por ali além sobre o passado do Homem. A revelação deu-se quando um professor me perguntou o que eu pensava sobre a casualidade ou não do Descobrimento do Brasil. Enquanto respondia com a devida eloquência a tão pertinente questão, veio-me à cabeça se, na verdade, eu queria saber se o Descobrimento de tão querida terra era fruto duma casualidade ou de um profundo cálculo. Ora, tal sagacidade, fez-me pensar na lei de Murphy e na sua aplicabilidade. No caso em questão, um gajo só descobrir a sua veia profissional depois de ter escolhido todos os outros cursos. Aliás, este deve ser mesmo um princípio muito em voga no tão promissor e acolhedor sistema de ensino português. A minha querida e adorada chefe que eu muito estimo, por exemplo, está na mesma situação. Escolheu contabilidade e passa a vida a escrever.
Um caso mais recente, passado com o nosso cronista das ocasiões, Paulo Rinhonha, ditou que ele não fosse despedido na mais recente restruturação da empresa em que trabalha, depois de estar um ano inteiro a queixar-se do trabalho que tem e da sua enorme vontade em ser despedido. Resultado: Metade da empresa foi para a rua e agora em vez das 10 horas que trabalhava, passou a trabalhar 13.
Para provar ou não a minha veia jornalística, pus mãos à obra e comecei aquilo que considero a reportagem que vai, espero, alterar por completo a minha credibilidade e também a orgânica deste blog. Quer queiram quer não, vão apanhar, a partir de agora com as minhas reportagens. Um pouco à semelhança dos advogados que escrevem em latim para se armar, não se importando minimamente se o que escrevem nessa língua morta faz sentido e, pior, se quem lê, percebe ou não o que escrevem. Se não gostarem podem sempre ir ver o Blog do Pacheco Pereira.
Para aqueles que não sabem ou não tomaram conhecimento, a dita lei de Murphy postula que, se alguma coisa tiver a ínfima hipótese de dar errado, então prepare-se que é isso mesmo que vai acontecer.
Existe uma grande controvérsia sobre a origem da Lei de Murphy. Há uma versão que diz que Edward A. Murphy, Jr. foi um dos engenheiros envolvidos nas experiências de veículos com foguetes propulsores que foram realizadas pela Força Aérea dos Estados Unidos em 1949 para testar a tolerância humana à aceleração. Um dessas experiências envolvia um conjunto de 16 medidores de aceleração colocados em diferentes partes do corpo humano. Existiam duas maneiras de colocar os sensores e, um técnico, instalou-os todos da maneira errada. Foi nesse momento que Murphy inventou a sua lei. Aqui publicamos uma carta escrita por George E. Nichols, testemunha do histórico evento, dando a sua versão dos factos.

"Caro Senhor Hugo Carvalho: Ao saber que o senhor está a escrever um artigo sobre a lei de Murphy, e que tem escassas informações sobre a origem do nome da lei, aqui o esclareço. O acontecimento ocorreu em 1949, na base da Força Aérea, em Edward, Muroc, Califórnia, durante a realização do projeto MX981. Esse projecto, criado pelo coronel J. P. Stapp, pesquisava efeitos de impactos violentos em acidentes de aviação. O trabalho estava sendo realizado pela Northrop Aircraft, sob contrato do laboratório médico de aviação, em Wright Field. Eu era o administrador do projecto, por parte da Northrop.
O inspirador da lei foi o capitão engenheiro do Wright Field Aircraft Lab., Ed Murphy. Indignado com o mau funcionamento de uma correia de polia, devido a um erro primário de ajuste, ele rosnou: ‘Se houver uma maneira de fazer a coisa mal, ele faz!’ referindo-se ao técnico do laboratório. Imediatamente passei a chamar de Lei de Murphy à frase dita pelo capitão e, como veio a acontecer, o nome pegou. Para aquela frase e todos os corolários.
Algum tempo depois do baptismo, o coronel Stapp declarou, numa conferência de imprensa, que os esplêndidos resultados obtidos por nós, durante anos seguidos, em quedas, choques simulados, eram devidos fundamentalmente à crença de todos na Lei de Murphy, isto é, no nosso esforço constante para negar a sua viabilidade."
George E. Nichols – Administrador de Qualidade e Segurança – Projeto Viking. Laboratório de Propulsão a Jato – NASA.

Para se compreender bem o alcance desta lei, podemos falar nos exemplos paradigmáticos que toda a gente conhece. Temos assim o Willie Coiote da Warner que, estudiosos do fenómeno, como o Dr. José Benjamim Picado, defendem que o cerne das personagens estar no Coiote ser demasiado platônico, enquanto o Papa-Léguas é aristotélico. Sendo assim, a ave acredita no que vê e o Coiote duvida da realidade. Mas nós cremos que isso não passa de mais uma prova da inevitabilidade da Lei de Murphy.
Por outro lado temos o Homer Simpson. Este é uma personificação clara da figura do falhado. Qualquer função, projecto ou plano que desenvolva, dará, inevitavelmente, para o torto. Não importa quando, não importa como, não importa onde. A única certeza que podemos ter é que não dará certo. O seu trabalho é o local ideal para a comprovação dessa tese. Não há tarefa que possa ter êxito, se executada por este boneco.
Quanto a nós, aqui ficam algumas leis inventadas por mim ao longo da escrita e da investigação levadas a cabo para a obtenção desta memorável reportagem e que servem para os leitores perceberem do que estamos a falar. Não somos como ex treinadores ou bonecos publicitários que falam sobre as coisas e que não esclarecem nada. Utilizo para o efeito gente conhecida.

· Sempre que você estiver à rasca para receber o seu ordenado, é precisamente nesse mês que a Cláudia Pereira paga, exactamente, no dia estipulado.
· Sempre que é pedida a opinião da Susana Rebelo sobre um determinado livro, é precisamente esse que ela ainda não leu.
· A Cândida escala os advogados estagiárias sempre para o dia em que eles estão de folga.
· As necessidades dos portugueses são inversamente proporcionais à velocidade de corrida de Jorge Sampaio na Meia Maratona de Lisboa.

1 Comments:

Blogger Hugo Carvalho said...

Nós aqui agradecemos e volte sempre. Nem sabe o bem que o seu comentário fez ao ego aqui da malta!

10:45 da tarde  

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