Praia II
Não gosto de praia e pronto.
Nesse dia em particular então, estava uma ventania do caraças. Passei duas horas a levar com rajadas de vento na tromba acompanhadas de sacos de plástico, areia, chapéus de sol e guardanapos de papel. Pode parecer mentira, mas até uma nojenta fatia de fiambre da pá esbarrou peganhenta nas minhas costas.
É a crise. Vão as donas de casa ao supermercado e pedem:
“Quero 100 gramas de fiambre, deste da pá, mas corte-mo fininho se faz favor...mais fino por favor...isso, assim está bem. É para levar para a praia.”
Ainda por cima, tiveram a real lata de ma vir pedir de volta.
“O senhor não se importa que lhe tire essa fatia de fiambre das suas costas. É que o meu mais novo, coitado, quer comer uma sande mista e só tenho aqui uma fatia de queijo...”
Uma das coisas que mais me incomoda é que uma pessoa na praia está demasiadamente exposta. Depois dum ano a escrever para este inarrável blog, foram muitos aqueles a quem a minha presença suscitou curiosidade, especialmente crianças que teimavam em me atirar areia, baldes e ancinhos cada vez que eu saía da água, coisa que me desconfortou imenso, mas que fez as delícias dos mais graúdos.
“Ó João não atires areia ao senhor. É tão esperta a criança e olhe que só tem três anos...desculpe!”
A maré estava tão farta e o espaço entre as pessoas era tão escasso que sentia facilmente o cheiro a suor do gajo que estava ao meu lado. Um pançudo de bigode ordinário e de pêlos no peito e ouvidos que tinha aspecto de dar pancada na mulher quando as coisas não lhe corriam pelo melhor.
Era uma família de emigrantes que apregoavam alarvemente um francês convicto. Não fosse o pançudo a estar calmamente a ler a Bola, até podiam, à primeira vista, passar por franceses. Então quando o telemóvel tocava, uh lá lá!
“Bien...voudrais...oui, oui...je suis...madame...”
A paz balnear desta família era, contudo, sobressaltada, de tempos em tempos, pelo incómodo desassossego do filho. A mãe ainda o avisava:
“Viens ici Jean Philippe ! Viens ici...”
E o Jean Philippe nada. Ou melhor, na mesma.
“Viens ici Jean Philippe. J’ai dejá dit...”
E o Jean Philippe nada
“Viens ici Jean Philippe au moi te claque...”
E o Jean Philippe nada. Chamou o marido ao barulho:
“Dis à ton fils qu’il arrête avec ça.”
Foi então que o pai, visivelmente aborrecido, tira os olhos da Bola e cospe de raiva:
“Tais toi Jean Philippe que je vais te claquer nos cornos que te fodo. Cabrão de merde.”
Nesse dia em particular então, estava uma ventania do caraças. Passei duas horas a levar com rajadas de vento na tromba acompanhadas de sacos de plástico, areia, chapéus de sol e guardanapos de papel. Pode parecer mentira, mas até uma nojenta fatia de fiambre da pá esbarrou peganhenta nas minhas costas.
É a crise. Vão as donas de casa ao supermercado e pedem:
“Quero 100 gramas de fiambre, deste da pá, mas corte-mo fininho se faz favor...mais fino por favor...isso, assim está bem. É para levar para a praia.”
Ainda por cima, tiveram a real lata de ma vir pedir de volta.
“O senhor não se importa que lhe tire essa fatia de fiambre das suas costas. É que o meu mais novo, coitado, quer comer uma sande mista e só tenho aqui uma fatia de queijo...”
Uma das coisas que mais me incomoda é que uma pessoa na praia está demasiadamente exposta. Depois dum ano a escrever para este inarrável blog, foram muitos aqueles a quem a minha presença suscitou curiosidade, especialmente crianças que teimavam em me atirar areia, baldes e ancinhos cada vez que eu saía da água, coisa que me desconfortou imenso, mas que fez as delícias dos mais graúdos.
“Ó João não atires areia ao senhor. É tão esperta a criança e olhe que só tem três anos...desculpe!”
A maré estava tão farta e o espaço entre as pessoas era tão escasso que sentia facilmente o cheiro a suor do gajo que estava ao meu lado. Um pançudo de bigode ordinário e de pêlos no peito e ouvidos que tinha aspecto de dar pancada na mulher quando as coisas não lhe corriam pelo melhor.
Era uma família de emigrantes que apregoavam alarvemente um francês convicto. Não fosse o pançudo a estar calmamente a ler a Bola, até podiam, à primeira vista, passar por franceses. Então quando o telemóvel tocava, uh lá lá!
“Bien...voudrais...oui, oui...je suis...madame...”
A paz balnear desta família era, contudo, sobressaltada, de tempos em tempos, pelo incómodo desassossego do filho. A mãe ainda o avisava:
“Viens ici Jean Philippe ! Viens ici...”
E o Jean Philippe nada. Ou melhor, na mesma.
“Viens ici Jean Philippe. J’ai dejá dit...”
E o Jean Philippe nada
“Viens ici Jean Philippe au moi te claque...”
E o Jean Philippe nada. Chamou o marido ao barulho:
“Dis à ton fils qu’il arrête avec ça.”
Foi então que o pai, visivelmente aborrecido, tira os olhos da Bola e cospe de raiva:
“Tais toi Jean Philippe que je vais te claquer nos cornos que te fodo. Cabrão de merde.”
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