quinta-feira, dezembro 16, 2004

Amor provoca tremor em terra

Nesta época do ano, as histórias de amor têm sempre um significado especial. Não sei se é do Pai Natal, da iluminação, dos presentes ou do frio, mas o que facilmente se observa, e isso é que me faz suportar a quadra, é que toda a gente anda apaixonada por toda a gente e é capaz de qualquer coisa para demonstrar o seu verdadeiro amor. É o chamado síndrome do Love Actually!
Por isso, é com especial carinho que posso divulgar, para grande alegria minha, que dois ilustres jovens bem conhecidos, foram capazes de demonstrar finalmente os seus verdadeiros sentimentos, conseguindo heroicamente, e é disto que se fazem os heróis, pôr para trás a vergonha e, duma vez por todas, assumirem aquilo que toda a gente há muito sabia: Nutrem, reciprocamente, um enorme e maravilhoso amor Aristotélico.
O passo inicial foi dado por Jorge Matiazz que, farto de se revirar no seu leito de repouso, decidiu assumir o prejuízo e lançar-se de cabeça. Diz quem sabe, que o homem já andava a bater com o crânio nas paredes e podia ser facilmente encontrado a ver comboios a passar perto da sua casa em Alverca.
Por outro lado, Vanda, também estava na mesma situação. Em casa, em frente à televisão, pensava sempre em Matiazz quando seguia os jogos do Benfica, clube de eleição do seu amado Aristotélico. A derrota recente por quatro a um, fê-la abrir os olhos e esperar mais da vida do que a solidão fria das noites. Na verdade, sabia que Matiazz estava destroçado com o resultado e chegou à conclusão que, se estivesse por perto, podia facilmente atenuar essa dor. Afundou-se, desamparada, nas histórias de amor de Garcia Marquez e lamentou a sorte em segredo.
Depois da derrota, Jorge decidiu fazer alguma coisa. Telefonou para a sua terra natal, Malhada Sorda, e pediu para falar com o maestro da banda em que, nos raros tempos livres, costumava tocar tarola. Em meia hora, acertaram todos os pormenores que iriam fazer magia num mundo marcado pela tragédia e o infortúnio.
O engenhoso plano foi concluído na tarde de segunda-feira depois de almoço quando, sem ninguém o esperar, Vanda foi sobressaltada do seu leve sono vespertino com a música encantada duma filarmónica. Era uma marcha ao estilo nupcial com pequenos rasgos de valsa e tango que, o inspirado maestro, teve a feliz ousadia de compor para tão especial ocasião.
Matiazz, com os olhos postados na janela fechada donde a amada apareceria a qualquer momento, rufou no seu instrumento com extraordinário fulgor embora, só o acelerado palpitar do seu coração, fosse mais do que suficiente para fazer a terra tremer de emoção.
Vanda, ao ver tamanho arrojo, não conseguiu conter as lágrimas da alegria que detonava do seu âmago e, sem se preocupar com as consequências dum acto inconsciente de paixão, atirou-se, desamparada, janela abaixo do seu quarto, para então flutuar como um floco de caspa para os fortes braços de Matiazz que a recebeu, enternecido, de sorriso traçado nos lábios e com flores de todas as cores que a vida pode ter na mão.
*suspiro*