Idolos de amanhã
Assisti na última sexta-feira a um dos momentos mais estranhos da história da televisão portuguesa. Eu sei que não é muito difícil, tendo em conta o panorama actual dos media neste país, mas desta vez a coisa teve laivos de David Lynch. Há certos comportamentos nas pessoas que ainda não consigo perceber com total clareza apesar de, no passado dia 4, ter cumprido mais um dilacerante e irreversível aniversário. Já que toco ocasionalmente no assunto, tenho a escrever que alguns dos excelentíssimos leitores deste espaço ainda se lembraram da minha pessoa, embora nem todos tenham traduzido materialmente a lembrança, mas enfim...
Eu não sei se alguma vez viram o concurso Ídolos que passa na Sic sexta à noite, mas se não têm esse costume, eu passo a explicar a dinâmica da coisa. Qualquer pessoa que se ache suficientemente capaz de cantar meia dúzia de canções, e acreditem que há gente que se acha capaz de tudo, é posta em frente dum júri a dar para o parolo que opina sobre os dotes vocais dos candidatos. Nesta fase avançada do programa, o júri já não decide absolutamente nada, é antes o público, através do famoso televoto que determina a continuidade ou não dum concorrente. É através deste sistema que todas as semanas é eliminado um dos artistas. Mas o processo não é limpo de dor e agonia. Os apresentadores vão dando a conhecer os resultados lentamente até sobrarem dois, que são, portanto, os menos votados pelo povo e um deles vai acabar por ir à vida ou, na melhor das hipóteses, vai cantar Karaoke para as docas. E é aqui que a coisa começa a ficar deliciosamente estranha.
Os mais votados ou seja, aquelas que continuam em jogo, em vez de comemorarem a vitória como pessoas normais, ficam apreensivos e abraçam-se todos como se tivessem a passar pelo pior momento das suas vidas. É a comunhão mais esquisita que me foi dada a conhecer. Então os tipos são os preferidos do público e, em vez de saltarem de contentamento, ficam ali abraçados de lágrima no olho a tremerem de nervosismo? Será esta gente normal? Não têm mais nada em que se preocupar do que a eliminação do próximo? Que raio de esquizitoides são os cantores de amanhã?
Mas a coisa não fica por aqui. Depois de escolhidos os dois menos votados, é a vez de se anunciar o verdadeiro perdedor, aquele que teoricamente é o pior cantor dos finalistas. A notícia demora a ser dada, geralmente anda à volta dos 5 minutos. Enquanto isso, os vencedores apertam-se e choram e os dois vencidos ficam numa descontracção tântrica. É uma tendência absurda essa de demorar o maior tempo possível para dar uma notícia. Por exemplo, no Quem quer ser milionário, desde a pergunta até à resposta, já consegui tomar banho, fazer o jantar e limpar o fogão, sem que o apresentador desse a conhecer a resposta ao concorrente, que ainda por cima tinha falhado. Faz-me lembrar os tempos da minha infância, quando pedia alguma formosa jovem em namoro, ela me dizia que ia pensar no assunto. Demorava tanto tempo que eu acabava por ir fazer o pedido a outra.
Voltando ao Ídolos, quando finalmente é anunciado a identidade do perdedor, este desata aos saltos, levanta os braços e o público, em delírio, grita o seu nome. Ao mesmo tempo, os vencedores desatam num choro convulsivo e vão ter com o derrotado dando-lhe beijos e flores.
Agora pergunto, que raio de valores são aqueles? Que raio de sociedade é esta que se anda a construir em que se valoriza os derrotados e se minimiza os feitos dos vencedores? Se um alemão tivesse a ver aquilo, pensaria, e com toda a razão que os vencedores tinham perdido e o perdedor era o verdadeiro vencedor. Que exemplo é este que Portugal anda a dar ao mundo?
Raios partam!
Eu não sei se alguma vez viram o concurso Ídolos que passa na Sic sexta à noite, mas se não têm esse costume, eu passo a explicar a dinâmica da coisa. Qualquer pessoa que se ache suficientemente capaz de cantar meia dúzia de canções, e acreditem que há gente que se acha capaz de tudo, é posta em frente dum júri a dar para o parolo que opina sobre os dotes vocais dos candidatos. Nesta fase avançada do programa, o júri já não decide absolutamente nada, é antes o público, através do famoso televoto que determina a continuidade ou não dum concorrente. É através deste sistema que todas as semanas é eliminado um dos artistas. Mas o processo não é limpo de dor e agonia. Os apresentadores vão dando a conhecer os resultados lentamente até sobrarem dois, que são, portanto, os menos votados pelo povo e um deles vai acabar por ir à vida ou, na melhor das hipóteses, vai cantar Karaoke para as docas. E é aqui que a coisa começa a ficar deliciosamente estranha.
Os mais votados ou seja, aquelas que continuam em jogo, em vez de comemorarem a vitória como pessoas normais, ficam apreensivos e abraçam-se todos como se tivessem a passar pelo pior momento das suas vidas. É a comunhão mais esquisita que me foi dada a conhecer. Então os tipos são os preferidos do público e, em vez de saltarem de contentamento, ficam ali abraçados de lágrima no olho a tremerem de nervosismo? Será esta gente normal? Não têm mais nada em que se preocupar do que a eliminação do próximo? Que raio de esquizitoides são os cantores de amanhã?
Mas a coisa não fica por aqui. Depois de escolhidos os dois menos votados, é a vez de se anunciar o verdadeiro perdedor, aquele que teoricamente é o pior cantor dos finalistas. A notícia demora a ser dada, geralmente anda à volta dos 5 minutos. Enquanto isso, os vencedores apertam-se e choram e os dois vencidos ficam numa descontracção tântrica. É uma tendência absurda essa de demorar o maior tempo possível para dar uma notícia. Por exemplo, no Quem quer ser milionário, desde a pergunta até à resposta, já consegui tomar banho, fazer o jantar e limpar o fogão, sem que o apresentador desse a conhecer a resposta ao concorrente, que ainda por cima tinha falhado. Faz-me lembrar os tempos da minha infância, quando pedia alguma formosa jovem em namoro, ela me dizia que ia pensar no assunto. Demorava tanto tempo que eu acabava por ir fazer o pedido a outra.
Voltando ao Ídolos, quando finalmente é anunciado a identidade do perdedor, este desata aos saltos, levanta os braços e o público, em delírio, grita o seu nome. Ao mesmo tempo, os vencedores desatam num choro convulsivo e vão ter com o derrotado dando-lhe beijos e flores.
Agora pergunto, que raio de valores são aqueles? Que raio de sociedade é esta que se anda a construir em que se valoriza os derrotados e se minimiza os feitos dos vencedores? Se um alemão tivesse a ver aquilo, pensaria, e com toda a razão que os vencedores tinham perdido e o perdedor era o verdadeiro vencedor. Que exemplo é este que Portugal anda a dar ao mundo?
Raios partam!
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