segunda-feira, abril 11, 2005

Hugo em crise III

A vida em frente às 370 páginas que ainda tenho pela frente para poder fazer decentemente uma prova de avaliação transforma-se, pouco a pouco, num autêntico inferno. Queima a alma e o corpo e a sensação é como se as chamas de Satanás me devorassem as entranhas a cada página que avanço. Perante tamanhas dificuldades, nem sei como é que já consegui adiantar tanto.
Grande parte do tempo que perco nesta epopeia é a lamentar-me do que ainda falta. “Ai que tristeza, tanta coisa para ler. Ai que martírio que coisa chata, ai que isto, ai que aquilo.” Até pareço os jogadores portugueses de futebol.
Para pessoas preguiçosas, irresponsáveis e que têm atitudes ociosas como a minha, só existe uma solução para tal comportamento, tratar-me, a mim próprio, como um animal em processo de aprendizagem, ao belo estilo do macaco Gervásio. Para se conseguir alguma coisa da vida, há que atacar os problemas pela sua raiz. Sempre foi esse o meu lema de vida.
Assim, antes de qualquer coisa, colei a foto, que encontrei numa revista televisiva da minha namorada, dos formosos seios da Pimpinha na última folha da obra que sou obrigado a ler, para que esta seja só contemplada quando a minha leitura chegar ao fim. Foi o melhor incentivo à leitura que encontrei, até porque a imagem está a atingir um grau de obsessão na minha libido que começa a provocar desconforto no seio familiar. Lá está...seio, seio, seio. Já nem consigo pensar numa frase sem vir à baila a palavra.
Paralelamente comprei um pacote médio de amendoins e lancei-me à aprendizagem.
Cada vez que conseguia avançar 10 páginas podia lançar um amendoim ao ar e, em acto contínuo, apanhá-lo com a boca. Se falhasse, na próxima rodada de leitura, o amendoim só era lançado na 11ªpágina, e assim sucessivamente. Devo confessar que este sistema estava a resultar da perfeição até a minha namorada ter chegado depois de ter estado a traduzir um programa sobre automóveis para o novo canal da Discovery que qualquer dia vai surgir na grelha da TV Cabo. Sempre que lhe calha carros e moda transforma-se na pior mulher à face da terra.
“Que é isto? Já viste como está o chão da cozinha todo cheio de amendoins? Uma pessoa não te pode deixar em casa dez minutos sozinho que sujas tudo e desarrumas o que está arrumado. Porque é que a minha revista está cortada? Que é isto? Que fotografia foi a que cortaste? O que é que fizeste com ela? Vou tomar banho, quando acabar quero isto tudo limpo, percebeste?!”
Percebi!