segunda-feira, julho 25, 2005

Jogging 2

O sítio onde eu moro, junto à praia, é ideal para a prática do Jogging. Uma pessoa pode correr, toda contente, a ver o mar, as rochas, os barcos e o pôr do sol. É um quadro bem idílico, não haja dúvida, e são muitos os que, tal como eu, partilham o gosto dos desportos individuais e se deslocam até ao paredão, recentemente remodelado, para mostrar os seus dotes atléticos.
Por alturas da época balnear, as esplanadas enchem-se de estrangeiras de cabelo loiro que se sentam nas mesas sozinhas para aproveitar o calor e as férias neste querido país, entregando-se ao descanso da atarefada vida urbana. Claro que, uma vez na esplanada precisam dum entretenimento merecedor da sua atenção, sendo a actividade principal espiar quem passa. Como parece evidente, aos seus olhos atentos, sobressaem de entre os transeuntes, os verdadeiros atletas, aqueles que pela sua constituição física as fazem suspirar e beber um belo trago de cerveja fresquinha. A fama do Camarinha já é mundial e em Lisboa, não tendo o gato, caça-se o rato.
Portanto, para mim, incapaz de competir com os ratos que correm nestas paragens, com o dobro do meu tamanho e da minha largura, tento não ficar mal na fotografia e esforço-me por, acima de tudo, não dar muito nas vistas mostrando-me, contudo, o suficiente para que elas saibam que estou lá.
“A pista está cheia de adeptos para verem Hugo Carvalho numa nova tentativa de bater o seu Record de 15 minutos. Vamos lá ver se o choque que levou, ao tentar concertar um problema eléctrico em casa, vai influenciar negativamente o resultado final. Diga-se de passagem que a namorada se fartou de barafustar depois do acidente e é provável que o atleta não esteja psicologicamente a 100%.”
Não posso negar que gosto de espreitar as loiras na esplanada quando por elas passo no meu passo de corrida. Dou uma vista de olhos. Nada de extraordinário. Não viro a cabeça como muitos que por lá andam, nem sequer assobio, apesar de elas expulsarem das feições um sorriso sincero aos piropos dos mais descarados, mas faço uma cordial apreciação preliminar.
O problema de haver muitas esplanadas no local de treino é que uma pessoa não pode desistir de correr a qualquer momento. Muitas vezes houve em que, morto de cansaço e com dilacerantes dores no estômago, me mantive de pé, de peito inchado só para que as loiras estrangeiras não me vissem a desistir. Isso não. Não gosto de ser um homem marcado. Prefiro cair para o lado do que desistir em frente a uma esplanada.
“Hugo Carvalho continua a sua corrida magistral e prepara-se para entrar no campo de visão da loira mamalhuda da camisa de alças verdes, que aliás tem sido uma presença assídua nestas paragens nos últimos dias. Ela aproveita esta altura de menor interesse para olhar o empregado e pedir mais uma bebida. As suspeitas confirmam-se, o motivo da sua assiduidade neste espaço comercial não é, infelizmente, o nosso atleta!”
Apesar de tudo gosto de correr. Normalmente consigo sempre superar-me e facilmente vou ultrapassando os feitos anteriores. O meu passo de corrida é sempre o mesmo e não entro em grandes velocidades, apesar de quando passo pela mamalhuda da camisa de alças verde acelero um pouco mais, esperando que ela me siga com o olhar até me perder de vista.
“Ò caixa de óculos (eu), vestiste os calções ao contrário.” (esplanada em delírio)
A vida não é perfeita, toda a gente me diz isso, mas também é escusado ser assim tão cruel. Vou começar a ir aos domingos à missa.
“Então amor, hoje não comeste nada. Tás doente ou quê? Não gostas do meu comer é isso? Pois então habitua-te a ele, porque se não gostares tens bom remédio, pegas na panela e fá-lo tu.”

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

tu não moras junto ao mar.

3:34 da tarde  
Blogger Hugo Carvalho said...

Junto, junto ao mar não. Digamos que estou a 200 metros.
Mas afinal o que é isso para um atleta como eu?
Num passo lento, demoro um minuto a chegar lá.

4:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

eu, anónima pessoa, corri muitas vezes com este rapaz, até que ele desistiu por não me conseguir acompanhar. tinha por hábito fazer-me rasteiras só para se poder sentir homem durante os segundos que durava a ultrapassá-lo de novo.
Posso afirmar com conhecimento de causa que este rapaz corre mais rápido que um magusto em marcha atrás...

4:28 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home