terça-feira, julho 26, 2005

Jogging 1

Desde que o Verão começou e os dias ficaram mais compridos, voltei a dedicar-me à sempre estimulante prática desportiva. Como estou impedido pela sociedade de praticar desportos de equipa, essencialmente porque, até hoje, nunca ninguém demonstrou uma sincera vontade de me ter no seu grupo, sou forçado a competir comigo próprio no misantrópico Jogging. Andar a correr, sozinho, dum lado para o outro, ao contrário do que possa parecer, tem em mim um efeito bastante estimulante e encorajador. Além de me formar o carácter, tonifica-me os músculos das pernas que, bem entendido, servem como efeito dissuasor para os cães que têm uma secreta tendência para ladrar à minha passagem.
O acto de correr só tem sentido se se tiver um objectivo. Para mim esse objectivo é superar o tempo da corrida anterior. Se ontem corri, por exemplo, 5 minutos, amanhã terei de correr 7 e depois 10. Com o intuito de passar o tempo da melhor maneira, entrego-me à demência de comentar mentalmente a minha prestação atlética.
Através deste excitante e inovador sistema mental, consigo ter sempre alguma coisa em que pensar. Devido a isso consegui, em tempos idos, permanecer em marcha de corrida cerca de duas horas. Não é de estranhar, portanto, que muita gente me apanhe por vezes a falar sozinho enquanto corro.
“Hoje temos aqui para fazer o comentário da corrida, Carlos Lopes que nos vai dizer como se está a portar Hugo Carvalho, numa altura em que só faltam dez minutos para bater o seu anterior record...”
“Tenho que admitir que me está a surpreender a capacidade física do atleta, tendo em conta que foi pagar a conta da água e que para o fazer teve de andar cerca de 700 metros na ida e na volta, sendo que a ida era a subir. Ainda para mais, devido a esse afazer, não conseguiu lugar sentado no comboio e esteve a viagem toda de pé. São contrariedades que, como se vê, ele está a conseguir superar magistralmente. É um herói.”
Quando não alcanço o objectivo a que me proponho, as vozes mentais vão o caminho de regresso a chamar-me nomes e a desprezar-me por ser tão patético. A tal ponto que fico deprimido e deixo de comer.
“Foi uma página negra no atletismo. Hugo Carvalho mostrou-se um ser tão desprezível que em alguns momentos da corrida senti pena dele. É um ser fraco e sem capacidade atlética que envergonha a espécie humana e que faz perder tempo a quem realmente se predispõe a ver desporto a sério.”

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

quando é que perdes essa mania de seres desportista !!!!!!

10:34 da manhã  

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