quarta-feira, julho 20, 2005

Agora, dorme...

Isto de ter a sobrinha em casa é muito bonito, mas é um tédio de morte. Ao contrário dos meus planos a santa criatura não faz companhia a ninguém e passa o tempo todo a chorar. Depois não é um choro normal, é estranho, não deita uma única lágrima. Preocupado, ainda telefonei à minha irmã:
“Olha lá, é normal a miúda estar a chorar e não deitar lágrimas?”
Nem sei porque me dei ao trabalho:
“Ai meu Deus!”
A vida de tio é uma seca. Um gajo passa a tarde sem fazer nenhum, ao lado da sobrinha que tem a seguinte rotina: Acorda, espreguiça-se durante um minuto, peida-se, ri-se e começa a chorar. Recebe o Biberon, arrota, ri-se e começa a chorar. Recebe a chucha acalma e adormece. Três horas depois faz o mesmo.
*Suspiro* Sim Senhor, bonita experiência esta de ser tio...
Mas não me fiquei, entre o repasto e o sono disse-lhe logo tudo o que tinha a dizer, não vá abrir precedentes e depois ainda terem a lata de me cuspirem à cara, mais tarde, que não sabiam do meu ressentimento:
“Continua assim que vais ver se recebes alguma coisa pelo Natal. Deves receber, deves.”
Mas não me fiquei apenas pelas ameaças. Como sou um homem com carácter, estilo Dias Ferreira, concretizei:
“Olha que quando eu não gosto das pessoas raramente volto a gostar.”
A delambida, cheia de lata, ainda por cima disfarçou não ouvir:
“Agora finges que dormes. És muito esperta tu! Só és esperta para o que te interessa. Se queres que te diga, posso muito bem tocar piano sozinho, fazer puzzles e pintar damas de corte sem ti. Fi-lo na minha infância e posso muito bem voltar a fazê-lo.”
*Monumental Amuo*