domingo, julho 17, 2005

Sopro

Tenho um tipo que vive no prédio ao lado do meu que é um autêntico imbecil, mas que tem a sorte do seu lado e conseguiu chegar a uma posição de destaque na função pública. Dizem as más línguas que foi o pai, deputado num partido de direita, que lhe proporcionou o emprego.
Seja como for, era frequente vê-lo na esplanada da praia todo inchado, a falar ao telefone com um tom altivo, a marcar reuniões e a fechar negócios. Como qualquer pessoa compreendia, o homem conseguia fazer duma conversa banal um negócio de milhões. O que lhe interessava sobretudo, era dar a entender aos frequentadores da esplanada, principalmente ás mulheres, que ele dominava o mundo e que o mundo o amava a ele.
Há coisa dum mês, com o aproximar das férias, mudou de assunto, mas não o tom de voz:
“É que eu não vou cá estar. Jantamos em Agosto. Vou para as Caraíbas. Vou lá dar uma volta, descansar. Há dois anos que não tenho férias. Sempre dum lado para o outro. Você sabe como é...”
Toda e qualquer conversa ia ter para o raio das Caraíbas, o que acabou por provocar um certo mal estar entre os frequentadores da esplanada:
“No final de Julho...sim, sim....vou para as Caraíbas. Vou lá ver aquilo. Vou estar num 5 estrelas e se tiver tempo vou ainda à Florida.”
Deixei de lá ir porque me chateava ver o homem quanto mais ouvi-lo. Mas ontem, como estava um calor desgraçado, decidi ir lá beber uma imperial.
Quando chego à esplanada estava lá o anormal a beber um Ginger Ale e, claro, ao telefone:
“Não...férias não vou ter, é que ia para as Caraíbas e assim tive de ficar por cá.”