quinta-feira, julho 14, 2005

Boa Sorte

Não vou negar que a minha vida ganha um dinamismo diferente cada vez que o jackpot do EuroMilhões atinge valores muito parecidos com o rendimento anual dum futebolista de topo. Não sei, sinto-me aliviado por ter a possibilidade de pensar sobre o assunto. Uma das vantagens deste novo jogo da santa casa é precisamente essa, fazer com que as pessoas pensem nas atitudes a tomar em caso de vitória. Parecendo que não, sempre ajuda a passar a sexta feira e, sem um gajo dar por isso, já são seis horas. Há aqueles tipos que aliviam o stress no ginásio eu, por outro lado, alivio as tensões a pensar no Jackpot.
Ainda hoje, apareceu um gajo ao balcão a reclamar:
“Isto é incrível, o senhor faz ideia de quanto tempo estou à espera desse tal despacho?...”
Se me saísse aquele dinheirão todo acho que não dizia nada a ninguém. Guardava segredo. Com a ladroagem que aí anda, ainda me raptavam alguém da família. Não, o mais acertado era ficar de boca fechada. Nem à minha mãe dizia. Desejosa que está em eu ser alguém na vida para impressionar as amigas, dava com a boca no trombone num instante. O melhor a fazer é dar o bom dia e a boa tarde aos vizinhos e pronto. Se, alguém mais metido me perguntar como é que vai a vida, respondo, vai bem muito obrigado, que é o que respondo sempre, mesmo quando algum infortúnio tomba sobre a minha existência.
“Isto é uma vergonha! Ando há 5 anos, 5 anos com este processo em tribunal e nunca mais me despacho! Até parece que estou enguiçado...”
Casas é que eu comprava na boa. É daqueles negócios que dá sempre dinheiro. No Algarve é que não. Não gosto. Preferia comprar no Alentejo, menos confusão, melhores praias, pessoas mais simpáticas, melhor comida. Sim. Depois comprava uma no Saldanha, de luxo, com divisões a dar com um pau, com vista sobre a praça. Comprava uma à minha irmã, outra à minha mãe e ao meu pai. Isso se quisessem, se não quisessem oferecia outra coisa qualquer. Se calhar comprava uma casa de campo, mas com a história dos fogos tenho medo, sabe-se lá o que pode acontecer.
“Mas posso falar aí com alguém para me apressar isto? O presidente? Onde está o Presidente? Eu sei que o senhor não tem culpa da situação, mas não se pode admitir uma coisas destas. É que o advogado não me fez nada, a única coisa que fez foi a panelinha com o gatuno do meu sócio e eu é que fiquei a arder em 3 mil contos...”
Dava também uma viagem pelo mundo. Mas ia de barco, que voar assusta-me. Um cruzeiro pelo mediterrâneo, ilhas gregas, Itália, dava um salto ao Nilo, ao Tigre. Eu, a Melissa e os velhos. Podia ir ao Japão que sempre foi o meu destino de sonho, aproveitava e ia Austrália.
“Diligências... diligências... Cada vez que eu cá venho tão em diligências. Não sei que diligências são essas que nunca mais acabam. Paciência já tenho eu muita. Eu para a semana, se não tiver o meu problema resolvido vou à SIC. Neste país as coisas só se resolvem quando se vai à televisão...”
À minha querida e adorada sobrinha é que já não sei o que lhe dar. Tão pequena e sem desejos nenhuns. Só dormir, comer, arrotar. Pouco mais faz. Tem tudo o que precisa para ser feliz. O que é que se pode dar a uma criança de dois meses? Só se lhe der uma cadeirinha vibratória para tar sempre a abanar. Bem, tou eu aqui a fazer contas mas não sei se ainda tenho de subtrair os impostos. Será?
“Bom fim de semana e veja lá se me dá uma mãozinha nisso para ser mais rápido...”
“Vá descansado que tudo se há-de resolver...”
...Se Deus quiser.