terça-feira, julho 19, 2005

Relógio biológico

Não bastando a azafama da minha experiência de alimentar e suportar a flatulência da minha querida e adorada sobrinha, chega-me a casa a minha querida e adorada namorada. Andava desesperada porque o carro foi para a garagem e a coisa tinha ares de custar uma fortuna. Além disso não sabia do guião que tinha de traduzir até ao dia seguinte.
“Viste o guião?”
“Sei lá onde tens isso.”
Continuou à procura. Em má altura o fez. Estava no momento de alimentar a bebé chorona, que, agora por acaso, estava mais calma e até parecia uma santa, tendo em conta o comportamento anterior.
“Tavas a dizer que a Adriana não se calava. Tá tão sossegada. És tão linda! Quem é a sobrinha da tia? Quem é? Gugugugugu. Quem é quem é Gugugugu!”
Não gosto nada desta cumplicidade feminina. De parvo é que eu não tenho nada. Fiz logo questão de acabar com os mimos:
“Olha lá, não estavas á procura do guião?”
Continuou dum lado para o outro à procura e sempre, sempre a perguntar:
“Mas não o viste mesmo, eu devia-o ter deixado para aí.”
Ora, a gritaria da Adriana e a incansável repetição da pergunta da Melissa fizeram-me pensar no meu papel de Pater Famílias no mundo e a certeza que, pelo menos para já, o melhor é gozar os momentos de liberdade, antes de deixar descendência. Não, até podem ser engraçados, mas dão um trabalho tão grande que o melhor é serem os outros a ter.
Foi então que a Melissa, com a Adriana ao colo, olhou-me nos olhos e disse:
“Só quero que saibas que tenho o relógio biológico completamente aos saltos.”

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ui, ui!!!!

4:28 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home