Jantar fora de casa
Pronto, confesso, no dia de S. Valentim juntei-me à hoste de namorados melosos e fui jantar fora. Eu não queria, ainda argumentei que era ridículo comer naquelas condições, à luz de velas e com o restaurante cheio de pares a jurar, de mãos interlaçadas, amor eterno. Mas a minha namorada é assim, tem a secreta obsessão de se tornar a melhor namorada do mundo e por isso não pude fugir. Ela já tinha tudo devidamente preparado. A mesa reservada com olhar sobre Lisboa e o rio Tejo e os bilhetes para o teatro marcados por telefone antevendo as previsíveis enchentes que este fatídico dia sempre provoca. Mas desengane-se o leitor que ousa pensar que a saída não foi em grande. Confesso que me deleitei com a peça e que nunca comi tão bem na minha vida. Diria mesmo que a minha namorada conseguiu nota máxima na surpresa que me fez. E não se cansou de me avisar:
“É tudo por minha conta. Não pagas nada.”
Não vou referir o nome do restaurante até porque pode suscitar algumas rixas entre namorados que tenham a feliz ideia de, juntos, ler este post.
“Tás a ver, porque não me levas a esse restaurante? Sempre que me convidas é sempre para ir à Portugália.”
Só para terem uma ideia da categoria da comida, deixem-me dizer-vos que a salada que me serviram de entrada tinha a particularidade de desvendar um sabor diferente de cada vez que lhe dava uma garfada. Os sabores apresentavam-se ao paladar aos poucos, um por um, levando-me àquilo que posso considerar um orgasmo gastronómico. Apesar de não ter pago um tusto por ela e nem sequer ter olhado uma vez sequer para a ementa, cada garfada daquele maravilhoso alimento deveria ter custado, em números por alto, uns 2 euros.
“Sou eu que convido, sou eu que pago.”
Ainda assim apetecia-me um bom vinho. Não sou apreciador, mas sei reconhecer um bom Foral, uma Piriquita ou um Marquês de Borba.
“Sou eu que pago mas se quiseres vinho paga-lo tu!”
Pedi a carta e depois de ter olhado para os números ao lado dos meus vinhos preferidos foi obrigado a pedir à Sra., que alegremente nos servia, enquanto lhe devolvia a carta:
“Quais são as águas que tem? Sim pode ser uma Vitalis se não se importa.”
O prato principal, meus amigos, foi qualquer coisa de fenomenal. Um pedaço grelhado de carne argentina. Precisamente no ponto em que as carnes devem ser servidas, nem a mais nem a menos. Sempre pensei que fosse impossível a qualquer chefe, mesmo os mais famosos, grelhar uma carne daquela maneira. Por cima foi servido um pedaço de manteiga de ervas que ia escorrendo languidamente pela carne quente. Aquilo era tão bom que o pensamento de comer um bife vulgar me faz pensar seriamente em começar a ser vegetariano. O meu estômago ronronava como um gato com o prato de refeição cheio de Wiskas.
A sobremesa, por seu lado, foi uma experiência transcendental. Um cheese cake cuja base era feita de, imagine-se, Oreos. A minha namorada, que sempre dominou a arte de enfardar açúcar, passou meia hora a mastigar o raio do bolo de olhos fechados enquanto soltava:
“Hum! Huuuummmmmmm!”
A demora provocou-me alguma apreensão:
“Se continuas nesse ritmo de degustação chegamos atrasados ao teatro.”
Tomámos os cafés da praxe, que por acaso eram iguais aos outros cafés todos e a conta surgiu sem grande alarido até porque as senhoras que serviam as mesas primavam pela descrição.
Bem sei que a vida não é fácil e que por vezes tomamos decisões de cabeça quente que só servem para nos tramar. A minha namorada olhou para o papelinho, respirou fundo, e lá foi à carteira procurando todas as notas que lá tinha. As fáceis de encontrar e as difíceis. Pela velocidade com que efectuou as acções levou-me a crer que, coitada, precisava de apanhar ar o mais rapidamente possível.
Lá fora mostrei a minha simpatia com a trivialidade do costume, mesmo sem fazer a menor ideia do estrago que, por amor, ela fez na sua conta bancária:
“Bem! Podia ter sido caro, mas pelo menos uma pessoa comeu bem.”
Assentiu num silêncio comovedor e pediu:
“Bem que podias ser um querido encher o depósito do meu carro.”
Claro que sou um querido.Abraçamo-nos, beijamo-nos e descemos a rua juntinhos.
“É tudo por minha conta. Não pagas nada.”
Não vou referir o nome do restaurante até porque pode suscitar algumas rixas entre namorados que tenham a feliz ideia de, juntos, ler este post.
“Tás a ver, porque não me levas a esse restaurante? Sempre que me convidas é sempre para ir à Portugália.”
Só para terem uma ideia da categoria da comida, deixem-me dizer-vos que a salada que me serviram de entrada tinha a particularidade de desvendar um sabor diferente de cada vez que lhe dava uma garfada. Os sabores apresentavam-se ao paladar aos poucos, um por um, levando-me àquilo que posso considerar um orgasmo gastronómico. Apesar de não ter pago um tusto por ela e nem sequer ter olhado uma vez sequer para a ementa, cada garfada daquele maravilhoso alimento deveria ter custado, em números por alto, uns 2 euros.
“Sou eu que convido, sou eu que pago.”
Ainda assim apetecia-me um bom vinho. Não sou apreciador, mas sei reconhecer um bom Foral, uma Piriquita ou um Marquês de Borba.
“Sou eu que pago mas se quiseres vinho paga-lo tu!”
Pedi a carta e depois de ter olhado para os números ao lado dos meus vinhos preferidos foi obrigado a pedir à Sra., que alegremente nos servia, enquanto lhe devolvia a carta:
“Quais são as águas que tem? Sim pode ser uma Vitalis se não se importa.”
O prato principal, meus amigos, foi qualquer coisa de fenomenal. Um pedaço grelhado de carne argentina. Precisamente no ponto em que as carnes devem ser servidas, nem a mais nem a menos. Sempre pensei que fosse impossível a qualquer chefe, mesmo os mais famosos, grelhar uma carne daquela maneira. Por cima foi servido um pedaço de manteiga de ervas que ia escorrendo languidamente pela carne quente. Aquilo era tão bom que o pensamento de comer um bife vulgar me faz pensar seriamente em começar a ser vegetariano. O meu estômago ronronava como um gato com o prato de refeição cheio de Wiskas.
A sobremesa, por seu lado, foi uma experiência transcendental. Um cheese cake cuja base era feita de, imagine-se, Oreos. A minha namorada, que sempre dominou a arte de enfardar açúcar, passou meia hora a mastigar o raio do bolo de olhos fechados enquanto soltava:
“Hum! Huuuummmmmmm!”
A demora provocou-me alguma apreensão:
“Se continuas nesse ritmo de degustação chegamos atrasados ao teatro.”
Tomámos os cafés da praxe, que por acaso eram iguais aos outros cafés todos e a conta surgiu sem grande alarido até porque as senhoras que serviam as mesas primavam pela descrição.
Bem sei que a vida não é fácil e que por vezes tomamos decisões de cabeça quente que só servem para nos tramar. A minha namorada olhou para o papelinho, respirou fundo, e lá foi à carteira procurando todas as notas que lá tinha. As fáceis de encontrar e as difíceis. Pela velocidade com que efectuou as acções levou-me a crer que, coitada, precisava de apanhar ar o mais rapidamente possível.
Lá fora mostrei a minha simpatia com a trivialidade do costume, mesmo sem fazer a menor ideia do estrago que, por amor, ela fez na sua conta bancária:
“Bem! Podia ter sido caro, mas pelo menos uma pessoa comeu bem.”
Assentiu num silêncio comovedor e pediu:
“Bem que podias ser um querido encher o depósito do meu carro.”
Claro que sou um querido.Abraçamo-nos, beijamo-nos e descemos a rua juntinhos.