domingo, outubro 30, 2005

Crítica

Isto há coisa levadas da breca. Uma pessoa entra na último ano do curso e pensa:
“Isto é só mais um ano, não custa nada, um gajo atina e em Junho fica despachado deste martírio. Por isso o melhor é parar um bocado com a obsessão macabra de estar sempre a escrever para o Desordem e fazer por estudar.”
Ora nem de propósito. Ia eu no comboio descansado da vida quando me deparo com uma crítica num jornal, daqueles que se dão a toda a gente, sobre este espaço. A princípio estranhei, mas sabem como são estas coisas, o nosso coração começa logo aos saltos para ver o que lá vem escrito e apetece logo telefonar ao mundo a contar da novidade.
Mas a euforia inicial deu logo lugar à decepção. Então não é que um Sr. Jorge Araújo Silva tem o seguinte comentário:
“…o Desordem é pois um espaço que transpira um humor digno de nota, onde o seu autor recorda os maiores fiascos da sua vida, adereçados com uma ternura infantil capaz de nos prender do primeiro ao último parágrafo dos seus já inúmeros posts.”
Mas o homem está parvo? Como é possível alguém gostar disto? Nem eu que sou o autor tenho o mínimo de respeito por aquilo que faço, quanto mais os outros. Bem sei que tenho os meus leitores, mas esses só cá vêem porque os seus patrões instalaram sistema de barramento aos sites pornográficos e eles, sem saberem como matar o tempo, aparecem na esperança de eu colocar algumas fotografias de homens/mulheres nus/nuas.
Seja como for, a crítica foi mesmo vantajosa para o contador de almas panadas do site. Nesse dia, acreditem ou não, os visitantes quadruplicaram, assim, sem mais nem menos. Esta situação apanhou-me desprevenido e fiquei sem saber como os receber. Também parece mal o pessoal chegar aqui e não ter nada de interessante para ler. Mas felizmente os que cá vieram, levados pela crítica do Sr. Jorge Silva, rapidamente se aperceberam do antro de perdição intelectual que é este blog e nunca mais cá puseram os pés, tirando um ou outro mais parvo que os demais. No dia seguinte o contador voltou ao seu normal e fiquei mais descansado, não me apetecia nada transformar-me numa vedeta da blogosfera. Não é por má vontade, mas é que tenho mesmo de estudar.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Comparações estúpidas

Poderão interrogar-se os leitores com a súbita mudança do desenho que escolhi para me identificar. Além do mais já estavam habituados a cá chegarem e encontrarem o Gaston, pelo que não se justifica tal alteração.
Bem a razão é simples.
Ontem estava eu a ver o Benfica quando a minha querida vizinha Joana me telefona e pergunta:
“Hugo, como se chama aquela personagem da Mafalda que é bué parecida contigo?”
Vi logo de quem ela estava a falar...

terça-feira, outubro 25, 2005

Não batam mais no ceguinho

As sucessivas derrotas do Sporting ultimamente, fizeram-me recordar dos loucos e idos anos 80 quando era ainda petiz e tentava a todo o custo evidenciar-me no sempre difícil espaço escolar.
Todos os anos, a minha escola secundária organizava um torneio de futebol entre as turmas que por lá abundavam. Era o evento que todos os rapazes ansiavam para se mostrar às raparigas que assistiam interessadas aos desafios.
“Ele é tão lindo.”
Aquilo basicamente tendia sempre para o mesmo lado, as turmas do 9º ano ganhavam sempre. Tinham maior envergadura física e por isso a vitória era sempre garantida. A única questão em aberto era o resultado. Nós, como éramos do 7º ano pouco tínhamos a ambicionar, mas entrávamos em campo cheios de esperança em, duma forma ou de outra, contrariar as leis da natureza.
A nossa equipa chamava-se os invencíveis. Não sei quem raio inventou o nome, mas devia ter a cabeça noutro planeta.
Claro está que nunca ganhámos um jogo. Chegava a ser penoso. Eu, com a minha estatura mínima, era sempre remetido para o banco de suplentes. O pessoal não tinha muita fé nas minhas capacidades atléticas e hoje, vendo toda esta situação ao longe e com o distanciamento necessário, devo confessar que faziam bem. Claro que os 5 jogadores que entravam em campo eram sempre os amigos do costume. Eram os tipos que tinham maior sorte ao amor, que tinham maior altura e que, também, tinham piores notas nas disciplinas.
“Tu ficas ao banco.”
E perdíamos por muitos. Geralmente 20 era a conta certa e raramente fazíamos um singelo remate à baliza adversária.
Eu era guarda redes, não por vocação, bem entendido, mas porque de entre todas as posições que podia jogar, era aquela que tinha maior hipóteses de jogar porque nunca ninguém queria ficar com essa função. Era uma posição que não dava orgulho, que mostrava incapacidade atlética e competitiva. Um homem vê-se pelos golos que marca e o resto é tudo treta.
“Grande frango.”
Até que um dia o nosso guarda redes chateou-se de vez com o rumo que as coisas estavam a levar. A explicação era simples. Estava de olho na Sandra, uma miúda gira que tinha a mania que era jeitosa e que na verdade era mesmo. Nunca gostei dela porque tinha o estúpido hábito de me desprezar olimpicamente cada vez que lhe tentava mostrar a minha espiritualidade.
“Baza daqui…”
Uma vez a Sandra foi ver o nosso jogo e a motivação nunca foi tão grande para o pessoal. Acreditávamos que a exibição ia impressioná-la. O João, que era o nosso guarda-redes, não queria hipotecar as suas ambições de conquista por aquele pedaço de mulher de mamas já desenvolvidas e não foi ao jogo, deslocando-se ao campo para ficar ao lado dela.
Sem guarda-redes e a ver a vidinha a andar para trás, fui chamado à última da hora para defender as redes dos Invencíveis.
“Agora vê lá o que fazes.”
E eu vi, vi que em vez dos vinte que geralmente sofríamos, a cota subiu para uns míseros 30 e a equipa estava tão lixada comigo que deixou de falar com a minha pessoa durante uma semana. Ainda para mais debaixo da vista da Sandra.
Cada vez que os adversários atacavam a Sandra gritava:
“Olha o frango!”
O João vendo a boa disposição da Sandra embarcou no gozo e também ele gozava com a minha exibição.
“Tas coxo ou quê? Se tivesse eu aí a coisa era diferente. Ai era,era!” – e segredáva-lhe coisas aos ouvidos porque eu bem via lá da baliza.
Fiz o que pude, mas também tenho de me queixar do apoio. Nenhuma voz amiga para me incentivar. Tinha gasto a minha mesada toda numas luvas de guardião de marca rasconhofe. Pensava que com elas seria mais fácil defender as bolas que sobrevoavam a minha grande área. Imagino o que não seria se não as tivesse levado…
O jogo acabou e fomos todos para casa envergonhados.
Sorte teve o João que saiu do campo agarradinho à Sandra e passaram a semana seguinte aos beijinhos. Chegou-se perto de mim após o jogo e, num momento de grande humildade, disse-me baixinho para ninguém o ouvir:
“Obrigado! És um gajo porreiro. Graças a ti é que ando a curtir com a Sandra!”

segunda-feira, outubro 24, 2005

Pianinho

Bem sei que são muitos aqueles que odeiam receber os meus mails com a porcaria dos posts mais recentes do Desordem. Não vos censuro, até vos compreendo muito bem porque apesar de não parecer, não há nada que odeie mais neste mundo do que escrever para o meu próprio blog. Não sei porque o faço. Afinal é tudo uma reciprocidade de perda de tempo. Minha e vossa.
Tendo isso em atenção, é altura dos meus leitores deitarem foguetes ao alto que muita coisa vai mudar de figura.
Bem, a verdade é que se iniciou um novo ano lectivo e agora, mais do que nunca, os professores parecem ter-se juntado a fim de acabar com a pouca vergonha que inunda aquele departamento de História. Principalmente eu, que com esta brincadeira de escrever crónicas na internet tenho dado má fama à faculdade. Fica o optimismo dos caloiros ao ver-me nos corredores:
“Se aquele bruto consegue ser finalista, imagine-se o que não conseguirei eu que tenho dois dedos de testa.”
Mas quem me topou logo foi o meu professor de Teoria do Conhecimento Histórico, disciplina de má fama e de grande aborrecimento mas que tem de ser feita e, diz quem sae, não é pêra doce.
“O Sr. Hugo anda muito distraído. Veja lá se toma atenção e deixa de pensar nas palhaçadas que anda a escrever na internet. Olhe que eu ando de olho em si. Não sei se sabe, mas eu para chumbar alunos de que não gosto não preciso de muito. E deixe-me já avisá-lo, para não o apanhar de surpresa, que até lhe gostava de fazer a folha. Engraçadinho...”
Por isso já sabem, este ano não esperem grande coisa aqui no Desordem.
Vou andar de crista baixa. Tem de ser.


quinta-feira, outubro 13, 2005

Chamem a polícia

Barcelona é fixe.
Apesar da pouca experiência internacional que tenho, posso afiançar com a convicção que me é devida, que qualquer coisa é melhor do que estar em Portugal. Por isso, se qualquer um dos meus queridos leitores precisar de descanso, faça o favor de se pirar daqui. É que Portugal cansa e não é pouco.
Ainda este fim-de-semana provei isso mesmo quando soube da fanática e ignorante preferência do povo por aquela quantidade de vigaristas autárquicos. E não me venham com a história:
“Até prova do contrário qualquer arguido e considerado inocente.”
O povo é bruto e pronto. É certo e sabido que tenho também a minha quota-parte de culpa. Este blog que escrevo com tanto afinco pouco ou nada contribui para o esclarecimento devido da população. Antes pelo contrário, é responsável pela letargia mental de quem o lê. Diz-se mesmo, à boca fechada, que grande parte dos frequentadores deste repugnante espaço é bem capaz de passar as noites a ver os Morangos com Açúcar e a 1ª companhia. Mas isso é o que se diz, não há provas do contrário. Adiante.
A minha vizinha Joana, que tem um feitio levado da breca e de quem ninguém gosta a não ser eu, que lhe acho uma certa e sincera piada, viajou para Barcelona com aquele tão típico mito português que toda e qualquer bebida servida em Espanha é uma autêntica merda.
Ao contrário daquilo que estava à espera, Joana disparou em todas as direcções ainda antes de lá chegar. Não sei se foi por causa da hora a que acordou (4 e meia da manhã) ou se foi por lhe ter vindo o período quando sobrevoávamos Vila Franca de Xira, mas o raio da mulher estava particularmente birrenta:
“Não sei como vou beber café. Eu sem café não passo, isso é certinho e aviso já que detesto Nescafé.”
É particularmente difícil acalmá-la quando mete uma coisa na cabeça. Ainda para mais quando estamos a 10 mil metros do solo, precisamente numa altura em que o Comandante avisava:
“Pedimos ao Srs. Passageiros para colocarem os cintos de segurança porque vamos passar por uma zona de alguma turbulência.”
Alguma, disse o gajo, aquilo mais parecia um fumador de SG Ventil a bater no maço de cigarros quando acaba de o comprar.
Certo, certo é que mal acabamos de aterrar em Barcelona, a Joana foi logo a correr pedir um café:
“São um, dois, tu bebes? São três cafés, dois deles cheios e o outro curto Tá a olhar para mim porquê? Três cafés! É assim tão difícil perceber? C…A…F…É…três.”
O homem coitado, lá lhe trouxe as bicas a medo.
“Olhem para isto, uma pessoa pede uma coisa e trazem-me outra. Onde é que isto é um café curto?”
Mal pôs o café na boca cuspiu logo para o chão:
“Que merda é esta hum? Isto é café? Isto não é nada. Para beber esta porcaria pedia antes uma Coca-Cola. Que merda de café. Qual é o preço disto? Quê? um euro e meio. Não, não pago. Um euro e cinquenta…era o que faltava.”
Depois de chegada a polícia, lá a conseguimos acalmar e dividimos por todos o euro e cinquenta.
“Vocês são mesmo otários. Eu não pagava aquilo. Que me levassem presa se quisessem.”
Mas a viagem continuou e na hora do almoço, a Joana quis beber uma cerveja. A conversa, como seria de esperar, foi a mesma:
“Que é isto? Isto é cerveja? Isto não é nada! Para beber esta porcaria pedia uma 7 up ou então uma Sprite. Que cerveja tão merdosa. Quanto custa isto? Quê? dois euros? Eu não pago.”
Chegada a polícia, dividimos os dois euros para evitar mais complicações.
Apesar de não ser fumadora, Joana fumava sempre em ocasiões especiais. No Sábado fizemos o nosso jantar numa esplanada gloriosa no bairro gótico. Tínhamos bebido vinho, o que foi do agrado da Joana e descansávamos da farta refeição.
“Vou fumar um cigarrito. Deixa-me ir ali à máquina comprar uma marca espanhola. Se estás em Espanha, sê espanhol”.
E lá foi. Pôs o raio do cigarro à boca e a conversa continuou no mesmo tom:
“Não acredito que estes gajos fumem esta porcaria. Isso não é tabaco não é nada. O Kentucky tem mais qualidade que esta merda. A sorte deles é que comprei isto na máquina senão não pagava.”
Claro que, sendo eu o único homem presente, mal a Joana foi à casa de banho as outras vozes femininas bombardearam-me com as suas certezas:
“Façam como entenderem, mas uma coisa vos garanto, com esta gaja nunca mais viajo.”

quarta-feira, outubro 12, 2005

Calina do bom coração

Um dos dias desta viagem foi passado a namorar. Livrámo-nos do resto do maralhal e entregámo-nos à paixão. Tudo bem, bem sei que Barcelona não é Veneza nem Paris, não tem gôndolas nem a Torre Eiffel, mas tem Gaudi que, para os devidos efeitos, tem o mesmo poder afrodisíaco que os outros.
Por isso fomos os dois passear como um casal de velhos austríacos pelas zonas turísticas da capital catalã. Vimos as Ramblas, vimos o Palácio da Música, o Parque da Cidade, a Praça Real e claro o Jardim de Gaudi.
A minha namorada tem uma pancada mais ou menos imperceptível com as fotografias. Eu tinha começado a testar as potencialidades da fotografia digital e facilmente captei alguns momentos dignos de qualquer World Press Photo. Tenho de agradecer ao meu sogro que teve a amabilidade de me emprestar a sua Olympus 3.2 que apesar de velha conserva a qualidade original. E ai de mim que aparecesse com algum defeito na máquina:
“Tu vê lá o que me fazes ao aparelho! Tens a certeza que sabes funcionar com isto? Tu vê lá!”
Mas a minha querida e adorada namorada não tinha uma opinião muito benevolente em rlação à minha veia artística.
“Não temos nenhuma fotografia juntos.”
Ainda tentei explicar que essas fotos de pares de namorados a posar para objectiva podem acabar com uma relação.
“Temos de pedir a um turista para nos tirar uma fotografia.”
Então que se peça o favor a um dos japoneses que por lá vagueava que, para o bem e para o mal, são os melhores no que toca a captar a essência familiar em terras estranhas.
E foi por isso que mendigamos por ajuda ao primeiro espécime de olho em bico que encontrámos.
“Could you please…”
Mas não era Japonês, era do quirguistão, ou que raio era o nome do país de origem. Sei que ficava perto da China e que agora vivia à sombra da liberdade depois de se livrar do comunismo.
O jovem por nós catado era filho da D. Calina, uma senhora simpática que gostava muito de toda a gente e parecia uma criança a fazer amigos. Apesar da dificuldade na comunicação, D. Calina conseguiu explicar, a muito custo, que estava de férias e estava a visitar a Europa. Tinha chegado de Cannes, onde havia o festival, e que agora ficava uns dias em Barcelona para depois voltar ao quirguistão ou que raio é o nome do país de origem. Seja como for estava a gostar muito e que não conhecia Lisboa, mas já tivera ouvido falar, em outras felizes ocasiões, que era um sítio muito bonito e que quando tivesse algum dinheirinho, talvez viesse fazer uma visita aqui ao burgo.
D. Calina é a coisa mais doce que se pode encontrar num sítio estranho. Quis logo ser a nossa melhor amiga e pediu-nos, assim sem mais nem menos, o nosso mail para nos enviar fotografias do país e de tudo o mais que achasse interessante. Deu-nos o mail dela e que ia esperar nossas notícias. D. Calina, tenho a certeza, achava-se a pessoa mais feliz do mundo, porque o mundo para ela é feito de momentos de amizade. Mas também nada paga o sorriso daquela mulher e a forma simpática que nos tratou sem nos conhecer de lado nenhum.
Por isso quando o filho se preparava para nos fotografar, a D. Calina chegou-se num ápice para perto de nós. Dessa forma esta foi a única fotografias em que ficámos os dois juntos. Isso era o plano. Na verdade fiquei eu, a namorada e a D. Calina que no seu país faz implantes capilares.
Um beijo para si D. Calina e quando vier a Lisboa cá estaremos para a receber como merece. Porque somos amigos, mesmo que não entendamos a maior parte das coisas que diz.

terça-feira, outubro 11, 2005

Pinchos

Aproveitando ao máximo o dia em que pude passear junto da mulher que vou partilhar a vida, sentei-me com ela numa esplanada de boa fama ao entardecer onde bebemos cervejas e comemos pinchos. Para quem ainda não teve a oportunidade de experimentar, pinchos são umas fatias minúsculas de pão com qualquer coisa por cima. Pode ser paté, fiambre, salsicha, peixe, o que se quiser. Tudo depende da boa vontade do cozinheiro. Nesse bar/restaurante em que estivemos, o homem da cozinha estava devidamente inspirado e conseguiu produzir pinchos duma excelente e inquestionável qualidade.
A conversa entre mim e a minha namorada foi a do costume neste tipo de ocasiões:
“Ai não há nada como sair de Portugal.”
“Ai que cidade tão fixe para se estar. Ai que museus tão bons.”
“Ai que isto é que é vida.”
A esplanada estava a saber bem. Tínhamos estado uma tarde inteira no Museu de Arte Catalã e as pernas doíam que se fartavam. Mas valeu a pena, a colecção de pintura medieval é realmente esplêndida e, por si só, rentabilizou a viagem. Para mim foi o momento mais alto dessa meia dúzia de dias. Bate tudo e mais alguma coisa de Barcelona. Inclusive, e por favor não me mandem cartas de protesto, a Sagrada Família.
Voltando à esplanada e ao fim de tarde na capital catalã. Ao nosso lado estavam 3 mulheres dos seus trinta e alguns anos. Estavam de férias e tinham-se conhecido por acaso no hotel onde pernoitavam. Quer dizer, não sei se foi realmente isso que aconteceu, mas pelo menos, tendo em conta o teor da conversa, era isso que parecia.
Eram as 3 inglesas, loiras e bem feitas. Bem vestidas, perfumadas e cabelo de design.
Falavam da vida. Tinham sido deixadas/encornadas pelos homens a quem se dedicavam. Não eram casadas, gostavam apenas de gozar a vida e sentiam esperança que fossem pedidas um dia.
Escutámos com atenção as palavras. Contavam calmamente, à vez, a sua história e as que escutavam diziam que sim com a cabeça. Cada uma delas sabia o que a outra sentia. Eram histórias amarguradas, mas interessantes, tão interessantes que chamamos o empregado:
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Pronto admito, tenho uma certa depravação por história de cornos. E nesta ocasião não era apenas uma, mas três.
“He left me, saying he couldn’t handle it. He wasn’t interested in serious relationships. He was still young.”
E nós ouvíamos, com atenção. E entusiasmados pedíamos:
“Duas cervezas e dois pinchos...”
E depois a loira com sardas:
“I was sick of all that and wanted to move on, think of my future. I was 33 for Chris sake…”
E as nossas orelhas em pé:
“Mais duas cervezas e dois pinchos.”
E a mais jeitosa delas todas:
“John simply disappeared. We had a such a good relationship... I was shocked by all that. Now i am here in Barcelona, trying to think straight...”
“Mais duas cervezas e dois pinchos...”
Depois de mais uns choros lá se foram embora, em silêncio, mas com os seus fantasmas expulsos. Acabada a diversão, pouco mais havia a fazer:
“Por favor, la conta...”
40 Euros por meia dúzia de pinchos e meia dúzia de cervezas. É nestas ocasiões que vale a pena ter a Joana por perto. Como não estava, pagámos e dissemos mal da vida durante 10 minutos.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Já sou tio



She is leaving for Singapore the next month.

Not that we are romantically inclined, but we are pretty good friends. No, not the "fabulously getting along" type, but who survive on the occasional "hi,how are you" phone calls and all those forwarded emails.
I first met her when we went on this trip to Kerala. We were a group of ten, and I was the only malayali and hence the "unofficial guide". We did not get really close or anything, but did keep in touch. She was always my friend's friend.
But well, I knew her chat id, we chatted sometimes, SMS ed sometimes, and well, she outgrew of the friend's friend tag and became friend. Met very few times..a tinge of regret in that..
When you are in the same city, even though you meet very less, you always know that the person is only an a bus ride away...
There are things that you can confide very easily in people whom you do not know very closely. They don't stop to judge you. They very easily accept you as you are. She was easily this kind of person.
Wouldn't call her a pillar of my life or anything, but someone with whom I could be very free. Very open, very frank.
Will miss you a lot.., you know who..
anything, but someone with whom I could be very free. Very open, very frank.
Will miss you a lot.., you know who..

quinta-feira, outubro 06, 2005

Alturas

Poderão os meus caros leitores pensar na razão que estará por detrás desta ausência tão repentina na publicação dos meus inarráveis e desprezantes posts. Pois bem, tal contratempo deveu-se a umas curtas mas deliciosas férias que passei no país vizinho, mais concretamente em Barcelona, terra de gente brava e criativa e que muito bem me recebeu e me alimentou. A recepção foi de tal maneira espantosa, que estou a pensar em, qualquer dia, traduzir o Desordem para catalão.
Só tenho de agradecer à minha querida e adorada chefe a benesse que me deu, concedendo-me, sem ninguém o esperar, 4 dias de licença remunerada pelo meus serviços:
“Isto é uma coisa que não é habitual eu fazer, mas devido ao magistral e competente desempenho laboral do vosso colega Hugo, vou-lhe dar mais 4 dias de férias. Vocês todos ponham os olhos nele e esforcem-se por lhe seguir o exemplo. Se conseguirem ter o mesmo comportamento e o mesmo compromisso para com esta instituição, poderão ser vocês os próximos a serem contemplados. Pensem nisso. Agora voltem ao trabalho.”
Nestas coisas o mais difícil é a viagem de avião. Para quem não me conhece, aviso desde já que tudo o que engloba estar 5 metros acima do solo me faz disparar o coração e, se a minha namorada continuar com esta mania de fazer uma viagem por ano, temo não chegar aos 40 e morrer qualquer dia nos céus de ataque cardíaco.
“O senhor tem de se acalmar. É seguro viajar de avião, não fique assim nesse estado. Quer ir à cabina do comandante ver como é que as coisas funcionam?”
Acabei por ir, até porque pensava que seria mais fácil acalmar-me. Mas foi pior, cheguei lá e estava a tripulação em amena cavaqueira.
“Não se preocupe, isto hoje em dia é o computador que faz tudo.”
Mas o meu problema com as alturas já vem de longe. Por causa do trauma perdi uma quase namorada numa viagem romântica que fiz ao Jardim Zoológico quando subi feito parvo ao teleférico. Quer dizer, eu não queria, mas o preço já vinha incluído no bilhete e sempre foram 10 euros. Vi as cobras, vi os golfinhos e parecia mal não andar naquilo. Além disso, a situação com a Patrícia já estava bem encaminhada, era o terceiro encontro e o teleférico era o sítio ideal para a beijar.
“Quem me dera poder acordar abraçado ao teu sorriso lindo que se desvenda dos teus lábios como um cortinado numa ópera.”
E ela ria, envergonhada, sem resistir às palavras que lhe dizia. Eu lá me aproximei e espetei-lhe com o beijo. No ardor da paixão começamos a mexer-nos mais do que devíamos e o teleférico começou a abanar como um sino de Igreja nas manhãs de Domingo.
“Ai, ai tirem-me daqui! Socorro que esta coisa vai cair! Ai meu Deus! Alguém nos acuda, ai, ai! Parem esta merda!”
E lá pararam de propósito a geringonça. Olharam-me com cara de poucos amigos, deram-me água com açúcar e quando recuperei ainda tentei recuperar o que perdera:
“Patrícia anda cá. Eu posso explicar. É uma coisa que vem de infância, não sei explicar muito bem, mas é assim. Tenho medo das alturas, mas gosto de ti. Gosto de ti...Patrícia...Patrícia...Gosto de ti, aonde vais?”
Nem olhou para trás.